São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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ELEIÇÕES NOS EUA/DEBATE

Último encontro antes da eleição opõe as visões de Bush e Kerry sobre aborto, armas e gays, além de questões sobre déficit e emprego

Moral e economia dominam debate final

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL AO ARIZONA

O terceiro e último debate entre o presidente dos EUA, George W. Bush, e seu adversário democrata, John Kerry, expôs de forma contundente as diferenças de aspecto moral e cultural que vêm dividindo os EUA na campanha para a eleição de 2 de novembro.
Concentrado em assuntos domésticos, o debate produziu os maiores ataques entre os dois adversários em torno da economia.
Mas Bush e Kerry divergiram frontalmente em questões relacionadas ao aborto, ao direito ao casamento gay e ao porte de armamento de alto poder de fogo.
Embora vestidos iguais para o evento, com terno escuro e gravata vermelha, eles também apresentaram diferenças em relação a políticas de ação afirmativa.
Mesmo diante de pergunta leve sobre mulheres e casamento, Kerry lembrou que, ao contrário de Bush, já se divorciou uma vez.
"Se você perguntar à filha do vice-presidente Dick Cheney, que é lésbica, se o homossexualismo é uma escolha, ela dirá que sempre foi assim", disse Kerry, em resposta à questão do moderador sobre se a homossexualidade seria ou não uma escolha individual.
"Sei que vivemos em uma sociedade livre e que as pessoas têm o direito de viver como querem. Mas eu acredito na santidade do casamento", afirmou Bush, para explicar sua proposta de emenda constitucional para proibir o casamento entre homossexuais.
Sobre o aborto, Kerry afirmou que "as mulheres devem ter o direito de fazer a melhor escolha". Em resposta, Bush disse acreditar que "todas as crianças devem ser bem-vindas ao mundo".
A expectativa era que o debate, na Universidade Estadual do Arizona, em Tempe, atraísse uma audiência de 50 milhões de telespectadores. O confronto foi apelidado de "Duelo Final no Arizona".
Ao longo do evento, de 90 minutos, os assuntos econômicos produziram os momentos de maior tensão.
Questionado sobre o que diria a um trabalhador que perdeu seu emprego, Bush afirmou que a "melhor maneira de combater o desemprego é fazer a economia crescer". No meio da resposta, o presidente mudou o tema para educação e saúde.
"Quero chamar a atenção para o fato de o presidente ter mudado sua resposta. Ele simplesmente evita esse problema", disse o senador, citando números de desemprego, do déficit público e dos preços dos combustíveis.
"Uau!", reagiu Bush antes de apresentar outros números positivos que mostrariam a evolução econômica dos EUA.
Ainda sobre o desemprego, Kerry prometeu "brigar pelos empregos dos americanos da mesma maneira que vou brigar pelo meu". Assim como em várias outras ocasiões, Bush riu cinicamente da resposta.
O presidente voltou a acusar Kerry de ter votado "98 vezes em 20 anos no Senado" para aumentar impostos. "Como o senhor explica isso, senador? Sua política é: você [o eleitor] paga e ele sai gastando o seu dinheiro", disse Bush.
Pelas regras do debate, os candidatos não puderam fazer perguntas entre si, mas eles buscaram o tempo todo provocar um ao outro durante suas respostas. No geral, porém, o debate foi morno, com Kerry tentando se manter mais na ofensiva.
A Guerra do Iraque e questões relacionadas à segurança dos EUA voltaram ao centro do debate em duas ocasiões diferentes.
Bush disse que seu oponente tem "uma visão perigosa" sobre o assunto e lembrou declaração do senador de que o terrorismo poderá ser reduzido, no futuro, a um "incômodo". "Ele comparou o terrorismo à prostituição", disse Bush. "Meu oponente tem uma estratégia de derrota no Iraque."
"Farei todo o necessário para ficarmos seguros. Vamos caçar e matar os terroristas onde eles estiverem", respondeu Kerry.


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