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ANÁLISE
Sobre questões econômicas que mais afligem os observadores internacionais, o debate não trouxe novidades
O mundo ainda não sabe a resposta
FERNANDO SAMPAIO
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
O nível de emprego na economia dos EUA tende a encerrar
2004 abaixo do nível em que se
encontrava no final do ano 2000.
Assim, George W. Bush caminha
para se tornar o primeiro presidente americano desde a Grande
Depressão, na década de 1930, a
assistir a um declínio do emprego
ao longo de seu mandato.
Essa deterioração intensa e prolongada do mercado de trabalho
-que apenas neste ano começou
a dar sinais de reversão- criou
bandeira eleitoral excepcionalmente oportuna aos democratas
na disputa pela Presidência. Mas a
campanha de Kerry não tem conseguido deslocar para os temas
econômicos o foco das atenções
no debate eleitoral, que continua
a girar sobretudo em torno de
questões de política externa.
Por isso o debate televisivo entre
Bush e Kerry dedicado a temas
econômicos realizado ontem significava uma oportunidade importante para o oposicionista.
Pior para ele que o alcance do
evento tenha sido, de antemão,
prejudicado pela perspectiva de
audiência menor do que a dos
dois debates anteriores, pelo fato
de coincidir com um jogo decisivo, televisionado em rede nacional, do campeonato de beisebol.
No debate, Kerry colocou o dedo numa doída ferida nacional ao
prometer mudanças na cobrança
de impostos voltadas a desestimular a chamada "exportação de
empregos" -ou seja, o fechamento de fábricas e escritórios
nos EUA em contrapartida à
transferência, pelas empresas, das
atividades para novos locais, no
exterior. Bush respondeu, como
se esperava, reiterando as ofensivas de sua campanha direcionadas a colar em Kerry a pecha de
"liberal" (termo que no jargão
americano significa esquerdista,
acusação pesada em ambiente
ideológico que desde os anos 1980
se deslocou de maneira violenta à
direita). Um acusou o outro de fazer propostas que agravarão o déficit nas contas públicas do país.
Da ótica das questões econômicas que mais afligem os observadores internacionais - o déficit
fiscal e o rombo nas contas externas dos EUA, que mantêm o dólar numa posição vulnerável ante
outras moedas fortes -, o debate
não trouxe novidades.
É de interesse geral que os EUA
não façam um ajuste abrupto de
suas contas externas, pois a perda
de ímpeto das exportações ao
mercado americano representaria forte vetor recessivo na economia mundial. É, porém, geral a
percepção de que a longo prazo a
escalada do déficits americanos é
insustentável, por tender a suscitar pressões perigosas de queda
mais rápida do dólar e/ou de alta
abrupta dos juros nos EUA. Após
este último debate, as respostas
que o futuro presidente dos EUA
apresentará para lidar com esses
riscos continuam em aberto.
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