São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Sobre questões econômicas que mais afligem os observadores internacionais, o debate não trouxe novidades

O mundo ainda não sabe a resposta

FERNANDO SAMPAIO
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS

O nível de emprego na economia dos EUA tende a encerrar 2004 abaixo do nível em que se encontrava no final do ano 2000. Assim, George W. Bush caminha para se tornar o primeiro presidente americano desde a Grande Depressão, na década de 1930, a assistir a um declínio do emprego ao longo de seu mandato.
Essa deterioração intensa e prolongada do mercado de trabalho -que apenas neste ano começou a dar sinais de reversão- criou bandeira eleitoral excepcionalmente oportuna aos democratas na disputa pela Presidência. Mas a campanha de Kerry não tem conseguido deslocar para os temas econômicos o foco das atenções no debate eleitoral, que continua a girar sobretudo em torno de questões de política externa.
Por isso o debate televisivo entre Bush e Kerry dedicado a temas econômicos realizado ontem significava uma oportunidade importante para o oposicionista. Pior para ele que o alcance do evento tenha sido, de antemão, prejudicado pela perspectiva de audiência menor do que a dos dois debates anteriores, pelo fato de coincidir com um jogo decisivo, televisionado em rede nacional, do campeonato de beisebol.
No debate, Kerry colocou o dedo numa doída ferida nacional ao prometer mudanças na cobrança de impostos voltadas a desestimular a chamada "exportação de empregos" -ou seja, o fechamento de fábricas e escritórios nos EUA em contrapartida à transferência, pelas empresas, das atividades para novos locais, no exterior. Bush respondeu, como se esperava, reiterando as ofensivas de sua campanha direcionadas a colar em Kerry a pecha de "liberal" (termo que no jargão americano significa esquerdista, acusação pesada em ambiente ideológico que desde os anos 1980 se deslocou de maneira violenta à direita). Um acusou o outro de fazer propostas que agravarão o déficit nas contas públicas do país.
Da ótica das questões econômicas que mais afligem os observadores internacionais - o déficit fiscal e o rombo nas contas externas dos EUA, que mantêm o dólar numa posição vulnerável ante outras moedas fortes -, o debate não trouxe novidades.
É de interesse geral que os EUA não façam um ajuste abrupto de suas contas externas, pois a perda de ímpeto das exportações ao mercado americano representaria forte vetor recessivo na economia mundial. É, porém, geral a percepção de que a longo prazo a escalada do déficits americanos é insustentável, por tender a suscitar pressões perigosas de queda mais rápida do dólar e/ou de alta abrupta dos juros nos EUA. Após este último debate, as respostas que o futuro presidente dos EUA apresentará para lidar com esses riscos continuam em aberto.


Texto Anterior: "Live blogging": Ao vivo, blogueiros bocejam
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.