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Déficit público americano não
será contido, afirmam analistas
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Se cumpridas, as promessas
eleitorais no que tange às políticas
socioeconômicas dos dois principais candidatos à Presidência dos
EUA, o presidente George W.
Bush (republicano) e seu adversário democrata, John Kerry, terão
como principal impacto a manutenção do enorme déficit fiscal
americano, segundo economistas
consultados pela Folha.
Vale ressaltar que ambos prometeram reduzir pela metade o
déficit público americano até
2010. No ano fiscal de 2003, o governo federal dos EUA apresentou um déficit recorde de US$ 375
bilhões. E, segundo o Escritório
Orçamentário do Congresso dos
EUA, ele chegará a US$ 415 bilhões neste ano fiscal. Este acabou
no fim de setembro e teve um Orçamento total de US$ 2,4 trilhões.
"Ambos os candidatos prometeram cortar pela metade o déficit
até 2010, mas nenhum deles apresentou um plano crível sobre como agirá para cumprir suas promessas", analisou Brian Friedl,
economista da Fundação Heritage, reputado centro de pesquisas
conservador (Washington).
"Se aplicarem o que vêm prometendo na campanha, Bush e
Kerry contribuirão ao menos para a manutenção dos altos níveis
de endividamento dos EUA."
Curiosamente, Lee Price, do
Instituto de Políticas Econômicas,
um centro de pesquisas "de esquerda" de Washington, concorda com Friedl nesse aspecto.
"Se pretende reduzir consideravelmente o déficit público, um
presidente tem de expor propostas razoáveis sobre como pretende fazê-lo. O problema é que Bush
e Kerry não apresentaram um
plano factível e não param de fazer promessas que, se cumpridas,
agravarão o mal", disse Price.
O déficit fiscal dos EUA deverá
atingir um valor acumulado de
US$ 2,29 trilhões nos próximos
dez anos. A estimativa, feita em
agosto último pelo Comitê de Orçamento do Congresso, elevou
em US$ 300 bilhões a projeção anterior para o período (entre 2005 e
2014). Em 2000, quando Bush assumiu, estimava-se um superávit
de US$ 5,6 trilhões em dez anos.
Todavia deve-se lembrar que o
déficit público dos EUA equivale
hoje a cerca de 5% do PIB (total de
riquezas produzidas no país). A
proporção chegou a 8% no governo de Ronald Reagan (1981-89).
Segundo os dois economistas, a
intenção de Bush de tornar permanentes os cortes de impostos,
além de sua "vocação belicista", e
a de Kerry de aumentar os gastos
em áreas como saúde e educação
estão por trás da manutenção do
déficit. Ambos divergem, contudo, quanto ao impacto dessas medidas a médio e longo prazos.
"Kerry pretende gastar entre
US$ 650 bilhões e US$ 1,3 trilhão
com saúde e educação nos próximos dez anos. Somados os cortes
de impostos para a classe média e
subtraído o aumento da carga tributária que incide sobre os mais
ricos que ele propõe, seus planos
serão catastróficos para a economia americana", explicou Friedl.
Para Price, porém, a manutenção do déficit público não será tão
preocupante se "medidas corretas" forem aplicadas. "O déficit
cresce por causa do aumento dos
gastos ou da redução da receita
fiscal. Mas, se conseguem fortalecer o desempenho econômico e a
criação de empregos a médio e
longo prazos, as despesas oficiais
aumentam a arrecadação fiscal."
No que tange à proposta de
Bush de manter o corte de impostos, ambos também não estão de
acordo. "O diminuição da receita
fiscal só será preocupante em dez
ou 20 anos, quando os gastos com
o Medicare [espécie de seguro-saúde] e com a Previdência explodirão por conta da aposentadoria
dos "baby-boomers" [pessoas nascidas logo após a Segunda Guerra]. Antes disso, o déficit não inquieta", avaliou Friedl.
Para Price, todavia, os cortes de
impostos de Bush são uma "política redistributiva", cuja meta é
reduzir a carga tributária que incide sobre os ricos. "Isso não gerará empregos nem fortalecerá o
desempenho econômico dos
EUA", sustentou Price.
Ele acrescentou que considera
irresponsável a manutenção de
altos níveis de endividamento, já
que, em dez ou 20 anos, será tarde
demais para "atacar um problema que deve ser enfrentado agora", como no caso da Previdência.
"Esta irá à falência se nada for
feito em breve. Bush pensa que a
solução seja a Previdência privada, mas isso terá um impacto inicial terrível. Afinal, o governo deverá financiar a transformação do
sistema atual", indicou Price.
Para Friedl, por outro lado, sem
a introdução de um componente
forte de Previdência privada no
sistema público, este entrará em
colapso. "Não há outra solução."
Para ambos os especialistas, entretanto, temas econômicos menos "populares" são tão importantes quanto a criação de empregos ou o crescimento. Entre eles
está a escolha do próximo presidente do Federal Reserve (banco
central), visto que Alan Greenspan deverá aposentar-se em 2006.
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