São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Capitão é suspenso pelo Exército de Israel, cujos militares desconfiaram da mochila da jovem, que tinha 13 anos

Israelense descarrega arma em palestina

Mohammed Salem/Reuters
Menino palestino assiste, em Gaza, a funeral de membro do Hamas morto por soldados de Israel


DA REDAÇÃO

O Exército israelense suspendeu ontem de suas funções um capitão que comandava um pelotão estacionado em Gaza. Ele é acusado de descarregar sobre uma garota palestina de 13 anos as 19 balas que ainda trazia em sua arma automática.
Ela fora atingida na terça-feira da semana passada por outro militar israelense e ainda estava estendida no chão, talvez já morta.
O nome do militar não foi revelado e contra ele não há processo aberto. A garota se chamava Iman Alhams e morava com seus pais nas proximidades de Girit, perto do posto avançado israelense de Tel Sultan. Parentes dela classificaram o ato de "crime de ódio".
O regulamento disciplinar israelense proíbe que se atire sobre um inimigo ferido como forma de garantir que ele morrerá. Não se tratava, no caso, de "inimigo".
Segundo a BBC, há duas versões para o episódio: a primeira de porta-vozes do Exército e a segunda de soldados israelenses presentes no posto avançado.
De acordo com o Exército, a garota foi forçada por terroristas palestinos a se aproximar do posto militar. A falta de reação dos soldados israelenses seria a senha para uma ação terrorista.
Inicialmente, o Exército disse que ela carregava uma bomba, mas verificou que ela trazia apenas sua mochila escolar.
Soldados israelenses, ainda no relato da BBC, dão uma versão bem mais truculenta do episódio. A garota se aproximou do posto. Recebeu um tiro e caiu no chão. O comandante do pelotão israelense aproximou-se, então, da jovem e descarregou sua arma.
O jornal espanhol "El País" relata que a versão dos soldados que contradizia a oficial foi levada ao ar pela rádio do Exército.
O episódio chocou os israelenses e realimentou discussões sobre a intensificação da presença militar em Gaza nas últimas semanas. Médicos palestinos disseram que o corpo de Iman foi atingido ao todo por 20 projéteis, na cabeça e no peito.
A agência de notícias Associated Press relata a morte de outra garota palestina, ocorrida ontem. Ela não resistiu aos ferimentos provocados por uma bala perdida israelense em sua sala de aula.
Os israelenses disseram que estavam reagindo a atiradores palestinos que se escondiam nas imediações da escola, que funciona dentro de um campo de refugiados. Mas funcionários da ONU responsáveis pelo campo negaram que atiradores estivessem ativos nas imediações.
Em outros incidentes, Israel ampliou sua penetração ao norte de Gaza, com blindados, na cidade de Beit Lahiya, para neutralizar bases de lançamento de foguetes palestinos, que têm como alvo cidades israelenses.
Em confrontos, foram mortos três palestinos, sete outros foram feridos. Entre os últimos, segundo a Associated Press, há quatro crianças e adolescentes, com idade entre 5 e 16 anos.
Apesar da forte presença militar israelense em Gaza, dois foguetes Qassan foram ontem lançados e atingiram áreas rurais em Israel, sem provocar danos ou vítimas.

Com agências internacionais


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