São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Corpos encontrados incluem crianças e grávidas, vítimas do regime do ex-ditador no fim dos anos 80

Cova coletiva revela massacre de Saddam

KIM SENGUPTA
DO "INDEPENDENT", EM BAGDÁ

A escavação de uma cova coletiva no norte do Iraque revelou cerca de 300 corpos, incluindo mulheres grávidas e crianças carregando brinquedos.
Suspeita-se que os corpos sejam de curdos mortos por forças do ex-ditador Saddam Hussein no final dos anos 80. As provas divulgadas ontem devem ser usadas contra Saddam e membros de seu regime.
O presidente George W. Bush e o premiê Tony Blair, ambos sofrendo hoje fortes críticas por informações falsas sobre as armas de destruição em massa do Iraque, certamente serão ajudados pelas revelações do massacre de Hatra, perto de Mossul.
O regime de Saddam tem sido acusado por organizações de direitos humanos de ser responsável pela morte de mais de 300 mil civis iraquianos e curdos. Autoridades dos EUA e do Iraque afirmam que mais de 40 covas coletivas já foram identificadas.
O local do massacre de Hatra, em uma área remota de vales, foi encontrada por forças americanas há um ano.
As vítimas teriam sido mortas durante a campanha comandada por Ali Hassan al Majid -conhecido como "Ali Químico"- entre o fim de 1987 e o começo de 1988, quando ocorreram execuções sumárias em larga escala, além do já famoso uso dos gases mostarda e sarin contra a população curda.
Nessa época, Saddam era visto como um aliado do Ocidente contra os aiatolás do Irã. As críticas à sua brutalidade foram pequenas, especialmente dentro dos governos dos EUA e do Reino Unido.
As escavações em Hatra começaram em 1º de setembro, e os primeiros detalhes foram divulgados agora. O total de corpos a ser encontrado pode ser muito superior aos 300 descobertos. Há pelo menos outras dez covas na área.
Entre os corpos já exumados há mulheres e crianças que foram mortas por armas de pequeno calibre. Alguns homens estão com as mãos amarradas e os olhos vendados e foram aparentemente mortos por fuzis automáticos.
A maioria das vítimas está vestida. Mulheres usam jóias e carregam utensílios domésticos. As indicações são de que elas foram expulsas de suas casas ou as abandonaram.
Uma mulher foi morta com um tiro no rosto. Ela carregava uma criança, de cerca de dois anos, que foi morta com um tiro na nuca. Um menino vestia uma camisa de futebol vermelha e branca e carregava uma bola quando foi morto.
Algumas mulheres estavam grávidas. Há ossos de fetos de apenas 18 semanas. Uma antropóloga da Califórnia mostrou ainda o cobertor de um bebê. A cabeça dessa criança foi explodida no corpo da mãe.
Especialistas que participaram de escavações nos Bálcãs e que estão no Iraque disseram nunca ter visto algo similar a Hatra.
Alguns europeus se negam a participar das escavações, temendo que o massacre seja usado para que Saddam seja condenado à morte. A União Européia é contra a pena de morte.


Com agências internacionais


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