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ARTIGO
Militares dos EUA criticam conflito
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Boa parte do establishment militar dos EUA não se conforma
com a idéia (ou medo) de uma
humilhação no Iraque. "Em situações como as que enfrentamos, a
sabedoria aconselha retirar-se,
cair fora", é a opinião do general
William Odon. O candidato democrata, John Kerry, diz contar
com o aval de 12 generais. Tem
usado um conflito conhecido, envolvendo o general Eric Shinseki e
os civis com o comando do Pentágono, sobretudo o vice-secretário
Paul Wolfowitz, "ideólogo" da invasão do Iraque, para ilustrar divergências entre o governo Bush e
altas patentes dos quartéis. Com
isso rebater afirmações de Bush
de que a Guerra do Iraque está no
rumo certo.
Shinseki ocupou a chefia do Estado-Maior do Exército. Foi constrangido a passar para a reserva
em 2003 por insistir na necessidade de mandar mais tropas e apontar erros no pós-invasão. O "Defense Policy Board", ninho dos
falcões civis no Pentágono, previu
"vitória fácil" e necessidade no
máximo de 40 mil soldados. Hoje,
os 140 mil não dão conta do recado. Odon comandou a Agência
Nacional de Segurança e hoje integra a elite do Instituto Hudson,
centro de estudos conservador, ao
que se sabe nada hostil à Casa
Branca. Em depoimento à Salon.com, "as tensões entre o governo Bush e oficiais militares veteranos, a respeito do Iraque, são
piores do que os mesmos tipos de
tensões em qualquer outra época,
incluindo a do Vietnã".
Saiu de uma eleitora de Bush a
declaração de que "salvamos a
Europa do nazismo e agora vamos salvá-la do islamismo". Uma
guerra desse tipo não entusiasma
os generais americanos. Odon garante que "uma maioria significativa de oficiais americanos está
convencida de que acontece um
desastre no Iraque". Vai contra o
discurso de Bush e até afirma que
o Irã e Bin Laden podem acabar
sendo beneficiários. O terrorista
mais procurado do mundo argumentaria, com alguma razão, segundo Odon, que o avanço dos
EUA no Iraque equivale ao dos
alemães em Stalingrado.
Derrotaram a si próprios, caíram num abismo, tentando ir
mais a fundo. Manter o rumo, como ordena Bush, o comandante-chefe? "O rumo pode ser as cataratas do Niagara", é o que prevê
outro general. Não é da tradição
militar nos EUA oficiais questionarem os civis da cúpula do Pentágono. O controle civil dos militares tem sido algo sagrado na democracia americana. Com a
Guerra no Iraque há o registro de
desabafos nada amistosos por
parte de oficiais. Se a tradição é
quebrada é porque, na visão do
establishment militar dos EUA,
sucedem coisas graves na condução da Guerra do Iraque.
Newton Carlos é jornalista e analista de
questões internacionais
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