São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2005

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MISSÃO NO CARIBE

Novo posicionamento de Fidel e de Chávez agrada ao Brasil

Cuba e Venezuela mudam sobre Haiti

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SALAMANCA

A delegação brasileira que participou da negociação dos documentos a serem emitidos amanhã pela 15ª Cúpula Ibero-Americana ficou feliz da vida pelo fato de os representantes de Cuba e da Venezuela terem, desta vez, mostrado uma "atitude positiva" em relação à posição do conjunto de países ibero-americanos no tratamento da crise haitiana.
Para o governo brasileiro, é um alívio pela simples e boa razão de que Cuba e a Venezuela atacaram, desde o princípio, a operação de paz lançada por iniciativa do Brasil, do Chile e da Espanha e endossada pelos outros membros da comunidade. Fidel Castro e Hugo Chávez acham que tudo não passou de um "golpe de Estado" velado dado pela Comunidade Ibero-Americana sob orientação norte-americana.
Essa crítica, de resto, tem sido feita também no Brasil por acadêmicos especializados em questões internacionais, como o colunista da Folha Demétrio Magnoli.
Se é assim ou não, o fato é que a operação ganhou ontem um endosso importante na voz de Enrique Iglesias, que acaba de deixar a presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para assumir a Secretaria Geral Ibero-Americana, como suposta "voz" da comunidade nos demais organismos internacionais.
Para Iglesias, não dá "nem para imaginar o que seria do Haiti sem a intervenção da força de paz".
O novo secretário-geral diz que está havendo progressos na situação da segurança interna haitiana, salvo "bolsões de difícil controle", em especial Cité Soleil, o favelão de Porto Príncipe, a capital.
O Haiti será tema de uma das 14 declarações específicas que acompanharão a Declaração de Salamanca, o documento final.
Fidel anunciou ontem que não participará da cúpula -é a quinta vez consecutiva que falta ao evento. Se Chávez realmente resolveu colocar em hibernação suas críticas, só se vai saber de fato a partir das reuniões entre os chefes de Estado, hoje e amanhã, na forma de debates abertos. Cada um em tese fala o que quer. Mais: ele deve participar no sábado de um comício organizado por grupos de apoio ao seu governo.
De todo modo, o fogo verbal chavista pode ter sido amenizado pelo fato de que a declaração final, já aprovada e por consenso, atende reivindicações venezuelana e cubana no caso Luis Posada Carriles, responsável por um atentado com mais de 70 mortos contra avião da Cubana de Aviación, preso nos Estados Unidos.
Cuba e a Venezuela exigem a repatriação de Posada Carriles, e o texto, sem citá-lo nominalmente, "reafirma o valor da extradição como ferramenta essencial na luta contra o terrorismo".
Um segundo item de satisfação para a diplomacia brasileira é o fato de o documento incorporar, quando trata de migrações, um amplo consenso no sentido de que é preciso descomplicar as remessas de emigrantes para os países de origem. O Brasil recebe anualmente entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões de seus nacionais que vivem no exterior.

Eleições haitianas
O governo haitiano decidiu ontem criar uma comissão interministerial para verificar a nacionalidade dos candidatos nas eleições gerais. A medida visa avaliar a situação do polêmico milionário haitiano-americano Dumarsais Simeus, que quer se candidatar a presidente.


Com agências internacionais

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