FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Quando tinha 75 anos, Margaret Thatcher, com o humor cáustico que lhe é peculiar, apareceu de surpresa num encontro do Partido Conservador e brincou: "Minha vinda não estava programada, mas, no caminho até aqui, eu passei no cinema e senti que vocês estavam me esperando. O letreiro anunciava: "O Retorno da Múmia'".
Ontem, numa festa para quase 700 convidados no hotel Mandarim Oriental, em Londres, na qual a maior atração foi a rainha Elizabeth 2ª, a ex-primeira-ministra, que liderou o Reino Unido de 1979 a 1990, comemorou 80 anos ainda mais afastada da cena política, mas mantendo a velha capacidade de atrair holofotes e gerar polêmicas.
Outra presença ilustre no jantar foi o primeiro-ministro Tony Blair, trabalhista que, embora teoricamente seja um adversário do grupo de Thatcher, nos últimos anos se aproximou gradativamente das idéias liberalizantes da "Dama de Ferro", a primeira mulher a ocupar o nº 10 da Downing Street.
Em meio ao glamour e aos canapés, desenrolou-se uma intriga política. Enquanto o Partido Conservador -alquebrado depois de três derrotas consecutivas para os trabalhistas- vive uma acirrada disputa para escolher o seu próximo líder, Thatcher convidou para a festa só dois dos quatro principais postulantes. Os "escolhidos" foram David Davis e Liam Fox, da direita do partido. Kenneth Clarke, ministro da Saúde de Thatcher, e David Cameron, um político com jeito de galã e discurso modernizador que virou a sensação da corrida dos conservadores, ficaram de fora.
Thatcher, que em 1982 levou o Reino Unido a uma vitória militar sobre a Argentina, na Guerra das Malvinas, sempre despertou paixões díspares no país. E, a julgar por pesquisa feita ontem pela emissora Sky News com telespectadores, continua a fazê-lo. À pergunta "Os anos Thatcher foram bons ou ruins para o Reino Unido?", 59% escolheram a primeira opção e 41%, a segunda.


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