São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE NA MIRA

Após 4 anos, inspetores terão equipamento mais avançado; analistas alertam que o tempo também ajudou Bagdá

Tecnologia torna inspeção mais precisa

Ramzi Haidar - 9.set.2002/France Presse
Jornalistas fazem visita monitorada a reator nuclear destruído em al-Toweitheh, perto de Bagdá


WILLIAM J. BROAD
DO "THE NEW YORK TIMES"

Nos quatro anos passados desde que os inspetores de armas da ONU deixaram o Iraque, a revolução digital deixou seus equipamentos menores, mais leves, mais velozes, mais precisos e mais fáceis de usar. Os especialistas dizem que os avanços dão aos inspetores uma vantagem técnica.
Eis os avanços mais recentes:
1) satélites comerciais de espionagem tão poderosos que as fotos que fazem podem revelar detalhes de fábricas, imóveis e arsenais;
2) sensores miniaturizados capazes de monitorar constantemente o ar, a água e o solo para detectar sinais de armas de destruição em massa;
3) detectores de germes capazes de verificar traços de antraz, peste bubônica ou outros agentes biológicos mortíferos num ambiente;
4) sistemas de radar potentes, capazes de entrar no solo para detectar indícios da existência de túneis ou de bunkers subterrâneos.
A experiência e o conhecimento humanos serão muito importantes em qualquer regime de inspeções, segundo o diretor das equipes de inspetores da ONU, Hans Blix. Mas ele disse que meios novos e poderosos de verificação também serão usados.
Sua visão é confirmada por analistas militares. Eles observam que, se equipamentos forem capazes de encontrar provas contundentes da presença de armas proibidas, isso poderá ser importante para formular um argumento pela tomada de uma ação contra o ditador Saddam Hussein.
Porém os analistas militares também observam que os fabricantes de armas iraquianos tiveram quatro anos para aperfeiçoar os métodos usados para esconder seu arsenal e para compreender a abordagem da ONU.
As inspeções de armas começaram no Iraque em 1991, mas, em dezembro de 1998, após várias falhas na cooperação entre a ONU e Bagdá, os inspetores deixaram o país -horas antes de os EUA e o Reino Unido iniciarem três dias de ataques aéreos.
Quatro anos mais tarde, sobram perguntas sobre o que Bagdá fez durante esse tempo. Numa estimativa do pior cenário possível, a Agência de Inteligência de Defesa dos EUA disse que o Iraque poderia estar reconstruindo seu programa nuclear, retomando a produção de agentes letais e buscando produzir armas biológicas.
A ONU tem cerca de 250 especialistas treinados para vasculhar o Iraque em busca de armas de destruição em massa.
Tim McCarthy, que foi ao Iraque 15 vezes como inspetor de mísseis, observa que as novas tecnologias podem iludir os cientistas e, ao mesmo tempo, acabar provocando um desperdício de tempo e dinheiro.
Para ele, uma das ferramentas essenciais dos inspetores é a entrevista. Acredita-se que centenas de cientistas iraquianos conheçam os programas de desenvolvimento de armas biológicas, químicas e nucleares. Os inspetores precisam desenvolver a habilidade de detectar mentiras.
Os funcionários da ONU se negam a descrever as novas tecnologias em detalhes para evitar passar informações úteis ao Iraque.
Os detectores de germes melhoraram de maneira dramática. Os mais precisos mapeiam o material genético de um micróbio com o mesmo tipo de equipamento usado para decodificar o genoma humano. Em 1998, apenas grandes laboratórios tinham condições de fazer tais análises.
Mas, em 2001, o Laboratório Nacional Lawrence Livermore, da Califórnia, produziu um aparelho capaz de reconhecer um micróbio por seu DNA. Com isso, o aparelho pode ajudar a eliminar falhas de identificação e falsos positivos.
A miniaturização também permitiu a criação de detectores de radiação pequenos, capazes de ajudar a rastrear materiais nucleares.
Quanto aos seis novos satélites comerciais, criados em 1999, suas câmeras podem localizar objetos que medem apenas 60 cm de largura na superfície da Terra, trazendo à tona estradas, edifícios, oleodutos, pontes, tanques, jatos e mísseis. A ONU está usando imagens feitas por pelo menos dois desses satélites comerciais.
Em setembro, depois de estudar fotos do Iraque, os inspetores de armas identificaram várias áreas em que há novas construções -possivelmente relacionadas à energia nuclear. ""Estamos curiosos para ver o que há lá", disse Jacques Baute, inspetor de armas que trabalha para a ONU.
Uma tecnologia mais nova no horizonte é a dos aviões de espionagem sem tripulantes, cujo uso durante as novas inspeções no Iraque foi autorizado pelo Conselho de Segurança, segundo a resolução adotada na sexta-feira passada. As forças americanas já usaram o avião para vigilância fotográfica, além de outras tarefas.
Especialistas privados disseram que esses aviões ou aviões de vigilância pilotados podem transportar equipamentos que ajudem os inspetores a localizar bunkers subterrâneos, uma das prioridades dos inspetores.
No ano passado, um desertor iraquiano -que afirmou ser engenheiro civil- disse que trabalhara pessoalmente em instalações secretas para a produção de armas biológicas, químicas e nucleares em locais subterrâneos. A informação foi repetida por relatórios dos serviços de inteligência ocidentais.

Tradução de Clara Allain


Texto Anterior: Iraque na mira: Bagdá diz que aceita a resolução da ONU
Próximo Texto: "EUA manterão preparativos militares"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.