São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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"EUA manterão preparativos militares"

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Como não crê que Bagdá venha a respeitar todas as exigências da resolução da ONU, Washington deverá continuar a preparar-se para uma ofensiva militar.
A afirmação é de Davis Bobrow, do Centro Ridgway para Estudos sobre Segurança Internacional (EUA). Leia a seguir sua entrevista, por telefone, à Folha.

Folha - Como Washington deverá reagir à nova atitude de Bagdá?
Davis Bobrow -
Publicamente, a administração americana dirá que o modo como a questão está sendo tratada é correto. Também dirá que não acredita que o Iraque venha a respeitar todas as exigências da ONU. Isso significa que os EUA deverão manter-se atentos, monitorando cada etapa da inspeção das armas iraquianas como falcões que vigiam suas presas.
Para Washington, essa desconfiança legitima a continuação dos preparativos para uma ação militar contra o regime de Saddam Hussein. Na verdade, eles deverão ser intensificados para mostrar ao Iraque que a chamada "comunidade internacional" fala sério quando ameaça uma ofensiva.

Folha - Se respeitar todas as exigências da ONU, Saddam não ficará sem poder de barganha?
Bobrow -
Tudo depende do que Saddam pensa sobre seu futuro. É claro que ele poderá respeitar todas as exigências da ONU se quiser. Ele é um ditador e poderá tomar qualquer decisão. Ademais, ele poderá respeitar algumas exigências para ganhar tempo, mas não aceitar outras mais tarde. Porém acredito que, mesmo nesse caso, a guerra não seja inevitável.
Há uma maneira de evitá-la. Secretamente, já há altos funcionários internacionais que começam a veicular a hipótese de Saddam deixar o poder e partir para outro país, o que, certamente, evitaria um conflito maior. Todavia, para tanto, ele teria de aceitar deixar o poder. Os EUA já concordaram com esse tipo de solução em outros casos. Diplomaticamente, é sempre melhor evitar a guerra.

Folha - Mas o cronograma do texto da ONU nos leva a pensar que já está tudo planejado para uma ação militar no início de 2003, não?
Bobrow -
Em parte, sim. Nenhuma ofensiva militar ocorrerá durante o Ramadã [mês sagrado para os muçulmanos], pois isso poderia transformar a situação numa guerra de religiões. Ela também não deverá ser ordenada antes do Natal, que é algo muito importante para os americanos.
A data exata depende de quando Saddam deixará de cooperar com a ONU -se isso ocorrer- e das negociações no Conselho de Segurança. Embora tenham o direito de atacar sem ajuda de ninguém, os EUA preferem fazê-lo com um verniz multilateralista, para evitar o recrudescimento do antiamericanismo que já existe em alguns países muçulmanos.



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