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Estado é possível já, diz ativista palestino
DO ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH
As eventuais eleições presidenciais são a "oportunidade de ouro" para a formação de um Estado
palestino em até um ano. Questões delicadas, como a da volta
dos refugiados palestinos, podem
ficar para depois.
A opinião é de Mustafa Barghouti, importante ativista político palestino. Médico, preside a
União de Comitês de Auxílio Médico Palestinos, e está à esquerda
no espectro político local.
A questão dos refugiados é uma
das mais sérias para os palestinos.
Como resultado das guerras com
Israel em 1948 e 1967, principalmente, houve ondas de refugiados por toda região. Na Jordânia,
são 1,7 milhão, 900 mil na faixa de
Gaza, 400 mil no Líbano. Na Cisjordânia, são 700 mil.
A questão do direito da volta
dessa população é considerada
um dos principais motivos pelo
qual Iasser Arafat não aceitou o
acordo que lhe foi oferecido por
Israel em Camp David em 2000.
Barghouti falou à Folha ontem,
em frente ao túmulo de Arafat,
em Ramallah. Anteontem, ele ficou retido e não conseguiu assistir ao funeral de Estado do líder
no Cairo. Acabou sendo abordado pelo ministro José Dirceu (Casa Civil), também retido, que lhe
apresentou as condolências. "Nós
tivemos uma ótima conversa. O
Brasil sempre se preocupou com
a causa palestina, e somos muito
gratos", disse, sem detalhar o diálogo com Dirceu.
(IG)
Folha - Como o sr. avalia o processo sucessório de Arafat?
Mustafa Barghouti - É um momento de unidade único. Eu acredito que Arafat morreu, e a demonstração de ontem aqui na
Muqata mostrou bem, representando o sonho de um Estado.
Acho que esse sonho é possível.
Folha - O sr. acha que é possível
fazer a eleição?
Barghouti - É nossa oportunidade de ouro. Seriamente, acho que,
se tivermos eleições, em um ano
poderemos ter um Estado. Essa é
a prioridade, todas as outras ficam para depois.
Folha - Até os refugiados?
Barghouti - Sim. É questão central, mas é delicada e precisa de
tanta negociação com Israel que
não pode ser colocada em primeiro lugar. Estamos sob sítio. Não
podemos ir de um lugar a outro livremente. Isso é o direito básico.
Folha - Qual o papel que o sr. atribui aos EUA no processo?
Barghouti - Central, porque não
vejo da parte de Israel nenhum
movimento desde a morte de
Arafat. Não era ele o obstáculo
que viam contra a paz? Pois bem,
Arafat está morto. E agora? Nada.
Nada falaram. Precisamos da comunidade internacional, EUA e
UE à frente. De preferência com
presença internacional, militar e
de monitoramento.
Folha - O que o sr. achou da fala
de George W. Bush anteontem? Pareceu sincera?
Barghouti - Ele sempre foi totalmente pró-Sharon. Agora fala em
Estado em 2009. Por que não agora, em 2005? Creio, porém, que ele
fez um bem enorme a nós,
apoiando a idéia das eleições como base para o Estado.
Folha - E os radicais, poderão participar do processo?
Barghouti - Como o Hamas?
Gostaria de vê-los integrados ao
processo político sim. Mas, para
participar, têm de obedecer a lei.
Tem de haver ordem, não toleramos mais o caminho da violência.
Que declarem um cessar-fogo. Aí
poderemos conversar.
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