São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2004

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Estado é possível já, diz ativista palestino

DO ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH

As eventuais eleições presidenciais são a "oportunidade de ouro" para a formação de um Estado palestino em até um ano. Questões delicadas, como a da volta dos refugiados palestinos, podem ficar para depois.
A opinião é de Mustafa Barghouti, importante ativista político palestino. Médico, preside a União de Comitês de Auxílio Médico Palestinos, e está à esquerda no espectro político local.
A questão dos refugiados é uma das mais sérias para os palestinos. Como resultado das guerras com Israel em 1948 e 1967, principalmente, houve ondas de refugiados por toda região. Na Jordânia, são 1,7 milhão, 900 mil na faixa de Gaza, 400 mil no Líbano. Na Cisjordânia, são 700 mil.
A questão do direito da volta dessa população é considerada um dos principais motivos pelo qual Iasser Arafat não aceitou o acordo que lhe foi oferecido por Israel em Camp David em 2000.
Barghouti falou à Folha ontem, em frente ao túmulo de Arafat, em Ramallah. Anteontem, ele ficou retido e não conseguiu assistir ao funeral de Estado do líder no Cairo. Acabou sendo abordado pelo ministro José Dirceu (Casa Civil), também retido, que lhe apresentou as condolências. "Nós tivemos uma ótima conversa. O Brasil sempre se preocupou com a causa palestina, e somos muito gratos", disse, sem detalhar o diálogo com Dirceu. (IG)

Folha - Como o sr. avalia o processo sucessório de Arafat?
Mustafa Barghouti -
É um momento de unidade único. Eu acredito que Arafat morreu, e a demonstração de ontem aqui na Muqata mostrou bem, representando o sonho de um Estado. Acho que esse sonho é possível.

Folha - O sr. acha que é possível fazer a eleição?
Barghouti -
É nossa oportunidade de ouro. Seriamente, acho que, se tivermos eleições, em um ano poderemos ter um Estado. Essa é a prioridade, todas as outras ficam para depois.

Folha - Até os refugiados?
Barghouti -
Sim. É questão central, mas é delicada e precisa de tanta negociação com Israel que não pode ser colocada em primeiro lugar. Estamos sob sítio. Não podemos ir de um lugar a outro livremente. Isso é o direito básico.

Folha - Qual o papel que o sr. atribui aos EUA no processo?
Barghouti -
Central, porque não vejo da parte de Israel nenhum movimento desde a morte de Arafat. Não era ele o obstáculo que viam contra a paz? Pois bem, Arafat está morto. E agora? Nada. Nada falaram. Precisamos da comunidade internacional, EUA e UE à frente. De preferência com presença internacional, militar e de monitoramento.

Folha - O que o sr. achou da fala de George W. Bush anteontem? Pareceu sincera?
Barghouti -
Ele sempre foi totalmente pró-Sharon. Agora fala em Estado em 2009. Por que não agora, em 2005? Creio, porém, que ele fez um bem enorme a nós, apoiando a idéia das eleições como base para o Estado.

Folha - E os radicais, poderão participar do processo?
Barghouti -
Como o Hamas? Gostaria de vê-los integrados ao processo político sim. Mas, para participar, têm de obedecer a lei. Tem de haver ordem, não toleramos mais o caminho da violência. Que declarem um cessar-fogo. Aí poderemos conversar.

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