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Cidade amanhece calma após caos
DO ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH
A tranqüilidade reinou em Ramallah na manhã seguinte ao caos
decorrente do enterro de Iasser
Arafat no seu quartel-general, a
Muqata. Cartazes pelo chão, colados pela parede e restos de bandeiras e faixas eram o único sinal
visível do turbilhão que tomou a
cidade na sexta-feira.
Ao fim do dia imensa fila se formou para que quem quisesse
apertar as mãos dos três dirigentes que dividem por enquanto o
poder: o premiê Ahmed Korei,
Rawi Fattouh, presidente interino
da ANP, e Abu Mazen, chefe da
OLP. A cerimônia durou até 22h.
Rádios e a TV palestina ocuparam toda sua programação com
cânticos religiosos em homenagem a Arafat -e devem permanecer assim até amanhã, quando
acaba o luto oficial de 3 dias. Um
luto de 40 dias, menos restritivo,
será observado. Mas o intenso comércio da cidade deverá reabrir
todo amanhã.
A diferença mais gritante, porém, era vista na Muqata. A tumba de Arafat, quase invisível sob
as massas que invadiram o complexo ontem, foi finalizada. Agora
ela tem uma passarela e acabamento feitos com a tradicional pedra de cor creme da região -a
mesma da qual são feitas quase
todas as construções. O morro de
terra à sua volta foi reduzido e o
piso de mármore cinza, limpo.
Pequenos postes com correntes
foram colocados, cercando a entrada. E dois guardas de honra,
com uma faixa palestina cruzando-lhes o peito, ficam o dia inteiro
à frente. Junto ao kaffieh, tradicional turbante com padronagem
preta-e-branca palestina, que havia sido colocado na véspera, havia uma foto do líder.
Outra mudança: ontem as autoridades conseguiram prestar sua
homenagem. Anteontem, a população não permitiu que Arafat
fosse velado em sua sala de despachos, levando o caixão à tumba e
deixando políticos e representantes diplomáticos sem ação.
Ontem, um imã (clérigo muçulmano) entoou versos do Corão
durante todo o dia no salão principal da Muqata, onde toda cúpula palestina e visitantes passaram
a manhã. Todos oraram juntos e
se confraternizaram. Abu Mazen,
comandou uma oração coletiva
em frente à tumba.
No pátio em frente do prédio, as
conversas políticas correram soltas. Um alto-falante espalhava o
canto do imã.
Os políticos, em grupo ou sozinhos, levaram coroas de flores ao
agora renovado túmulo de Arafat.
Havia também alguns moradores
de Ramallah, mas nada parecido
com as cenas vistas na véspera.
"Ninguém o vai substituir, ele é
único. Para tudo continuar, eu
votarei no Abu Mazen se houver
eleição e ele for candidato", disse
Jed Salman, 40, que trabalha num
comitê para refugiados.
Salman, como muitos ontem,
saiu da Muqata e foi para casa
preparar a festa do Eid El-Fitr, que
marca o fim do Ramadã
(IG)
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