São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2004

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Cidade amanhece calma após caos

DO ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH

A tranqüilidade reinou em Ramallah na manhã seguinte ao caos decorrente do enterro de Iasser Arafat no seu quartel-general, a Muqata. Cartazes pelo chão, colados pela parede e restos de bandeiras e faixas eram o único sinal visível do turbilhão que tomou a cidade na sexta-feira.
Ao fim do dia imensa fila se formou para que quem quisesse apertar as mãos dos três dirigentes que dividem por enquanto o poder: o premiê Ahmed Korei, Rawi Fattouh, presidente interino da ANP, e Abu Mazen, chefe da OLP. A cerimônia durou até 22h.
Rádios e a TV palestina ocuparam toda sua programação com cânticos religiosos em homenagem a Arafat -e devem permanecer assim até amanhã, quando acaba o luto oficial de 3 dias. Um luto de 40 dias, menos restritivo, será observado. Mas o intenso comércio da cidade deverá reabrir todo amanhã.
A diferença mais gritante, porém, era vista na Muqata. A tumba de Arafat, quase invisível sob as massas que invadiram o complexo ontem, foi finalizada. Agora ela tem uma passarela e acabamento feitos com a tradicional pedra de cor creme da região -a mesma da qual são feitas quase todas as construções. O morro de terra à sua volta foi reduzido e o piso de mármore cinza, limpo.
Pequenos postes com correntes foram colocados, cercando a entrada. E dois guardas de honra, com uma faixa palestina cruzando-lhes o peito, ficam o dia inteiro à frente. Junto ao kaffieh, tradicional turbante com padronagem preta-e-branca palestina, que havia sido colocado na véspera, havia uma foto do líder.
Outra mudança: ontem as autoridades conseguiram prestar sua homenagem. Anteontem, a população não permitiu que Arafat fosse velado em sua sala de despachos, levando o caixão à tumba e deixando políticos e representantes diplomáticos sem ação.
Ontem, um imã (clérigo muçulmano) entoou versos do Corão durante todo o dia no salão principal da Muqata, onde toda cúpula palestina e visitantes passaram a manhã. Todos oraram juntos e se confraternizaram. Abu Mazen, comandou uma oração coletiva em frente à tumba.
No pátio em frente do prédio, as conversas políticas correram soltas. Um alto-falante espalhava o canto do imã.
Os políticos, em grupo ou sozinhos, levaram coroas de flores ao agora renovado túmulo de Arafat. Havia também alguns moradores de Ramallah, mas nada parecido com as cenas vistas na véspera. "Ninguém o vai substituir, ele é único. Para tudo continuar, eu votarei no Abu Mazen se houver eleição e ele for candidato", disse Jed Salman, 40, que trabalha num comitê para refugiados.
Salman, como muitos ontem, saiu da Muqata e foi para casa preparar a festa do Eid El-Fitr, que marca o fim do Ramadã (IG)


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