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BUSH LEVA
Processo eleitoral expõe a grande divisão do país
Principais projetos do novo presidente estão ameaçados
Decisão confusa da Justiça garante vitória
DE WASHINGTON
O governador do Texas, George
W. Bush, garantiu a vitória nas
eleições presidenciais norte-americanas depois que a Suprema
Corte do país, anteontem à noite,
numa decisão tão histórica quanto confusa, inviabilizou a recontagem manual de votos na Flórida e
pôs fim às chances do vice-presidente Al Gore, candidato democrata, chegar à Casa Branca.
Diante da decisão da Suprema
Corte, Gore decidiu reconhecer a
derrota ontem, 36 dias depois de
os norte-americanos terem ido às
urnas nas eleições mais disputadas e conflituosas deste século.
Gore planejava discursar à nação na noite de ontem, para explicar por que insistiu na recontagem de votos e pedir que os norte-americanos aceitem Bush como o
presidente eleito. Bush faria pronunciamento pouco depois.
As eleições de 2000 expuseram
uma divisão marcante da população norte-americana e provocaram uma longa e desgastante batalha pós-eleitoral, que poderá
macular os quatro anos de mandato de Bush e levantar sérias dúvidas sobre a legitimidade da vitória do republicano.
Pela primeira vez na história
dos EUA, a definição de um presidente foi determinada pelo Judiciário do país. Dividido em 7 votos a 2, o Supremo federal anulou
decisão da Suprema Corte da Flórida que havia determinado a recontagem de cerca de 44 mil votos
não lidos pelas máquinas apuradoras, nos quais Gore depositava
suas últimas esperanças para ganhar o pleito.
Três Estados tiveram resultados
eleitorais com vantagens menores
que 2.000 votos. O Senado, pela
primeira vez, dividiu-se igualmente entre democratas e republicanos (50 cadeiras cada). O vice
de Bush, Dick Cheney, terá o voto
de minerva na Casa.
Por ter colocado um fim à disputa presidencial de uma maneira
pouco clara, a Suprema Corte foi
criticada tanto por democratas
quanto por republicanos.
Nos votos dos juízes dissidentes, a corte reconheceu, com uma
franqueza inédita, a fragilidade de
sua própria decisão. "Apesar de
que talvez nunca conheçamos
com certeza absoluta a identidade
do vencedor da eleição presidencial deste ano, a identidade do
perdedor é perfeitamente clara. É
a confiança da nação no juiz como guardião imparcial do império da lei", escreveu o juiz John
Paul Stevens, que era favorável a
uma recontagem de votos.
Ao anular a decisão da Suprema
Corte da Flórida, a Suprema Corte
norte-americana confirmou, de
forma indireta, a vitória de Bush
na Flórida, Estado governado pelo seu irmão Jeb Bush, por 537 votos de diferença sobre Gore, num
universo de 6 milhões de eleitores.
Durante cinco semanas, a Flórida foi o fiel da balança da disputa
presidencial. Bush e Gore dependiam dos votos de seus 25 delegados para obter a maioria mínima
de 270 votos no Colégio Eleitoral,
o órgão que escolhe de fato o próximo presidente, na segunda-feira. O Congresso ratifica o resultado em 6 de janeiro.
Com a vitória na Flórida, Bush
garante 271 delegados, contra 267
de Gore. Bush toma posse em 20
de janeiro no mesmo cargo ocupado oito anos antes por seu pai, o
ex-presidente George Bush. Ele
sucederá a Bill Clinton, o democrata que derrotou seu pai nas
eleições de 1992. A vontade de
vingar o pai foi uma das maiores
motivações de Bush na campanha.
Ele será o segundo filho de presidente a ocupar o mesmo posto
do pai nos EUA. O primeiro foi
John Quincy Adams, em 1825,
eleito 25 anos depois que John
Adams deixou a Presidência.
Após violentas disputas partidárias ao longo dos oito anos de
governo Clinton, principalmente
por causa do fracassado processo
de impeachment, pesquisas
apontavam desejo de grande
maioria da população de que, no
próximo governo, democratas e
republicanos cooperassem mais,
pelo bem do país.
Mas os ânimos parecem estar
mais acirrados ainda após a dura
batalha pós-eleitoral.
Há dúvidas sobre se Bush conseguirá aprovar seus maiores projetos para a Presidência -entre
os quais um corte de impostos de
US$ 1,3 trilhão em dez anos e a
privatização parcial da Previdência Social e do sistema educacional.
A batalha pela Casa Branca também reduziu o período de transição, que deverá começar oficialmente nos próximos dias. Há cerca de duas semanas, a equipe de
transição de Bush trabalha improvisadamente num escritório
nos arredores de Washington.
Carreira curta
Para um homem com uma curta carreira na vida pública e que
lançou-se na política com a ajuda
dos amigos do pai, as circunstâncias nas quais se elege presidente
não poderiam ser piores.
Brigas judiciais, cédulas mal desenhadas e máquinas de apuração
incapazes de registrar adequadamente a intenção de voto de eleitores transformaram a sucessão
de Clinton numa das maiores
confusões da política dos EUA.
Gore
Gore consumiu o dia de ontem
definindo, com assessores, o tom
do discurso que faria à noite.
Entre suas opções estavam a de
apenas retirar-se da disputa, sem
reconhecer diretamente a vitória
de Bush, ou pedir à nação que
aceite o presidente eleito como o
legítimo ocupante da Casa Branca. Analistas dizem que o discurso
de Gore poderia ser o primeiro
ato da campanha presidencial
norte-americana de 2004.
Depois da primeira derrota eleitoral de sua carreira política, resta
a Gore avaliar se a disputa pela
Casa Branca o fortaleceu, colocando-o como uma opção democrata em 2004, ou o desgastou, sepultando de vez suas pretensões
presidenciais.
Há fatos que justificam cada
uma dessas duas hipóteses. "A
carreira de Gore está forte ou fraca, dependendo da maneira como
analisamos o resultado das eleições", afirmou Charles Jones, pesquisador do Instituto Brookings,
em Washington, e professor de
ciência política da Universidade
de Wisconsin.
Gore sofreu críticas dentro de
seu próprio partido por não ter
assegurado, como candidato governista e vice-presidente nos últimos oito anos, uma vitória folgada num momento em que os
EUA vivem sua maior expansão
econômica.
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