|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BUSH LEVA
Presidente deve pressionar por Alca e abertura do país
Doadores da campanha disputam mercado brasileiro
Amigos de eleito têm negócios no Brasil
DE WASHINGTON
O presidente eleito George W.
Bush levará para a Casa Branca
interesses diretamente relacionados com o Brasil.
Mais do que sua promessa de
batalhar pela Alca (Área de Livre
Comércio das Américas) já nos
primeiros dias de governo, são a
lista de seus principais financiadores de campanha e pessoas de
seu círculo íntimo os maiores indícios de que a administração
Bush deverá perseguir enfaticamente a abertura do mercado
brasileiro.
Ao menos oito dos dez principais financiadores da chapa Bush-Cheney fizeram investimentos diretos no Brasil ou participaram de
licitações relevantes no país recentemente.
Seus donos são pessoas diretamente ligadas à família Bush que,
na última década, beneficiaram-se das pressões feitas pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional)
e pelo governo norte-americano
para que o Brasil privatizasse setores como os de energia e aprovasse leis mais rígidas de propriedade intelectual.
O principal financiador de Bush
na década é a Enron, maior empresa norte-americana nas áreas
de transporte e venda de gás natural.
Ao longo dos anos, a Enron, sediada no Texas, sustentou a carreira do presidente eleito -desde
sua fracassada campanha para o
Congresso, em 1978, até hoje.
A Enron, que colocou US$ 1,2
milhão na campanha do republicano somente neste ano e cerca de
US$ 3 milhões na década, tem investimentos acumulados no Brasil de cerca de US$ 3 bilhões.
A companhia venceu licitação
promovida para a construção de
uma linha de transmissão de
energia de 400 quilômetros ligando os sistemas elétricos do Brasil e
da Argentina e possui a maior
participação (45%) no consórcio
que adquiriu empresas de distribuição de gás para a cidade e para
o Estado do Rio de Janeiro.
Outro grande financiador é o
grupo Hicks, Muse, Tate & Furst
Incorporated. Depois de comprar
o departamento de futebol do Corinthians no ano passado, o grupo
ingressou fortemente no mercado
de publicidade estática nos estádios brasileiros.
O grupo é um dos maiores fundos de investimentos do mundo e
tem como presidente Tom Hicks,
amigo pessoal de Bush. Hicks e
seu fundo já deram US$ 1,5 milhão às campanhas de Bush nos
últimos dez anos. Hicks foi também o principal financiador de
Bush nas eleições estaduais para o
Texas em 1998.
As ligações de Bush com Hicks
são polêmicas. Em 1998, Hicks
comprou o time de beisebol Texas
Rangers por US$ 250 milhões de
um grupo de empresários do Estado liderado pelo hoje presidente
eleito.
Bush e seu grupo haviam comprado o time em 1989 por apenas
US$ 46 milhões. Pessoalmente,
Bush pagou US$ 606 mil e levou
US$ 14,9 milhões na venda, o que
deu combustível para denúncias
de democratas.
"Sou amigo pessoal (de Bush) e
é óbvio que defendo seus projetos
de integração econômica hemisférica", disse ele em entrevista à
Folha no ano passado.
Outro grande financiador de
Bush é o escritório de advocacia
Texas Vilson & Elkis, que representa, no Brasil, cinco companhias norte-americanas em negócios nas áreas de energia e financeira segundo informações em
seu próprio website. O escritório
não quis revelar a identidade de
seus clientes.
A Philip Morris, que lidera a lista dos maiores colaboradores para as eleições deste ano, com US$
650 mil, também tem interesses
específicos no Brasil. A Philip
Morris aguarda com ansiedade o
governo brasileiro decidir se a
processa ou não para recuperar
gastos do sistema de saúde com
doenças ligadas ao fumo.
"Fast track"
Um dos problemas que Bush
poderá ter na integração comercial com o Brasil é o avanço democrata no Congresso e a batalha
judicial pelos votos na Flórida.
Por terem aumentado a animosidade entre democratas e republicanos, esses fatos podem impedir que Bush aprove o mecanismo
do "fast track" nos três primeiros
meses de seu governo, como havia prometido durante a campanha.
O "fast track" é um instrumento
legislativo que permite ao presidente dos EUA fechar acordos
importantes (como os de livre comércio) sem se submeter a negociações pontuais com o Congresso. Aos parlamentares, sobra a
opção de aprová-los ou rejeitá-los
em bloco, sem alterá-los.
Bush anunciou que quer o mecanismo para negociar a Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) antes do Encontro das
Américas em Quebec, no Canadá
(em abril de 2001). Isso facilitaria
não só a aprovação da Alca no
Congresso. Daria ao presidente
norte-americano também maior
autoridade nas negociação com
outros governos da região.
(MARCIO AITH)
Texto Anterior: Decisão confusa da Justiça garante vitória Próximo Texto: Vice também tem interesse no país Índice
|