São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

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Revolução Cultural expunha dissidentes

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A Grande Revolução Cultural Proletária, evocada pelo episódio de Shenzen, foi um dos períodos mais turbulentos da história chinesa, no qual milhões de pessoas rotuladas de revisionistas, burguesas e contra-revolucionárias morreram vítimas da perseguição dos Guardas Vermelhos, fanáticos seguidores de Mao Tsé-tung.
Entre as vítimas estavam intelectuais, religiosos, antigos líderes comunistas e qualquer chinês identificado com hábitos "decadentes" -o que podia incluir a leitura de clássicos ocidentais ou contatos remotos com o mundo capitalista.
Iniciada em 1966, a Revolução Cultural mergulhou a China em um frenesi de delações, autocríticas e sessões públicas de humilhação, na qual supostos traidores eram coagidos a confessar seus "erros" diante de multidões enfurecidas. O culto à personalidade de Mao ganhou enormes proporções, e seu Livro Vermelho se incorporou ao cotidiano dos chineses.
O movimento foi uma espécie de golpe de Estado de Mao, que teve seu poder questionado depois do fracasso do Grande Salto Adiante -a reforma econômica de 1958-1961 que desestruturou a agricultura e levou cerca de 30 milhões de chineses a morrerem de fome.
Enfraquecido, Mao apelou à ala mais radical do Partido Comunista, que iniciou a perseguição a seus opositores.
O alvo mais proeminente foi Liu Shaoqi, presidente da China desde 1958 e um dos principais críticos do Grande Salto Adiante idealizado por Mao, que era o líder supremo da China. Liu perdeu o cargo em 1967 e foi preso junto com sua mulher, Wang Guangmei. Torturado e humilhado em sessões públicas, Liu morreu doente na prisão em 1969, quando lhe foi negada assistência médica.
Acusada de espionagem, Wang foi exibida publicamente pelos Guardas Vermelhos em um vestido com fendas que deixavam suas coxas à mostras e um colar feito com bolas de pingue-pongue, com os quais parecia uma prostituta. Passou 12 anos na prisão e só foi libertada em 1979.
Outra vítima da Revolução Cultural foi Deng Xiaoping, o líder que daria início às reformas econômicas da China em 1978. Deng perdeu o cargo de secretário-geral do Partido em 1967 e foi enviado para trabalhar em uma fábrica de tratores no extremo oeste do país.
Seu filho mais velho, Deng Pufang, ficou paraplégico depois de ser atirado do quarto andar de um edifício por um grupo de Guardas Vermelhos.
A Revolução Cultural só acabou depois da morte de Mao, em 1976, e da prisão de sua viúva, Jiang Qing, poucas semanas depois. Uma das mais radicais líderes do movimento e chefe da Gangue dos Quatro, Jiang foi condenada à prisão perpétua e suicidou-se em 1991.
Depois de 1978, o Partido Comunista reabilitou os perseguidos e fez autocrítica da Revolução Cultural, período que a China de hoje tenta esquecer.


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