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Revolução Cultural expunha dissidentes
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Grande Revolução Cultural Proletária, evocada pelo episódio de Shenzen, foi um dos
períodos mais turbulentos da
história chinesa, no qual milhões de pessoas rotuladas de
revisionistas, burguesas e contra-revolucionárias morreram
vítimas da perseguição dos
Guardas Vermelhos, fanáticos
seguidores de Mao Tsé-tung.
Entre as vítimas estavam intelectuais, religiosos, antigos líderes comunistas e qualquer
chinês identificado com hábitos "decadentes" -o que podia
incluir a leitura de clássicos
ocidentais ou contatos remotos
com o mundo capitalista.
Iniciada em 1966, a Revolução Cultural mergulhou a China em um frenesi de delações,
autocríticas e sessões públicas
de humilhação, na qual supostos traidores eram coagidos a
confessar seus "erros" diante
de multidões enfurecidas. O
culto à personalidade de Mao
ganhou enormes proporções, e
seu Livro Vermelho se incorporou ao cotidiano dos chineses.
O movimento foi uma espécie de golpe de Estado de Mao,
que teve seu poder questionado
depois do fracasso do Grande
Salto Adiante -a reforma econômica de 1958-1961 que desestruturou a agricultura e levou cerca de 30 milhões de chineses a morrerem de fome.
Enfraquecido, Mao apelou à
ala mais radical do Partido Comunista, que iniciou a perseguição a seus opositores.
O alvo mais proeminente foi
Liu Shaoqi, presidente da China desde 1958 e um dos principais críticos do Grande Salto
Adiante idealizado por Mao,
que era o líder supremo da China. Liu perdeu o cargo em 1967
e foi preso junto com sua mulher, Wang Guangmei. Torturado e humilhado em sessões
públicas, Liu morreu doente na
prisão em 1969, quando lhe foi
negada assistência médica.
Acusada de espionagem,
Wang foi exibida publicamente
pelos Guardas Vermelhos em
um vestido com fendas que deixavam suas coxas à mostras e
um colar feito com bolas de
pingue-pongue, com os quais
parecia uma prostituta. Passou
12 anos na prisão e só foi libertada em 1979.
Outra vítima da Revolução
Cultural foi Deng Xiaoping, o líder que daria início às reformas
econômicas da China em 1978.
Deng perdeu o cargo de secretário-geral do Partido em 1967
e foi enviado para trabalhar em
uma fábrica de tratores no extremo oeste do país.
Seu filho mais velho, Deng
Pufang, ficou paraplégico depois de ser atirado do quarto
andar de um edifício por um
grupo de Guardas Vermelhos.
A Revolução Cultural só acabou depois da morte de Mao,
em 1976, e da prisão de sua viúva, Jiang Qing, poucas semanas
depois. Uma das mais radicais
líderes do movimento e chefe
da Gangue dos Quatro, Jiang
foi condenada à prisão perpétua e suicidou-se em 1991.
Depois de 1978, o Partido Comunista reabilitou os perseguidos e fez autocrítica da Revolução Cultural, período que a
China de hoje tenta esquecer.
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