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Integração de Cuba ao Grupo do Rio visa Obama
DO COLUNISTA DA FOLHA
As cúpulas da Bahia - mais
especificamente a do Grupo do
Rio, mecanismo regional de
consultas diplomáticas- marcarão a reintegração de Cuba ao
processo regional de negociações diplomáticas: o presidente
Raúl Castro foi convidado e
aceitou fazer sua primeira viagem internacional.
Há, nesse convite e nessa
reintegração, uma espécie de
homenagem ao passado romântico da Revolução Cubana,
mas há, principalmente, uma
mensagem para o futuro, especificamente para o presidente
eleito Barack Obama.
A mensagem é clara: o conjunto de países latino-americanos gostaria que o embargo que
os EUA impõem à ilha caribenha há meio século seja levantado o mais depressa possível.
Mas não se trata de um movimento de cunho ideológico.
Por mais que um punhado de
presidentes sul-americanos tenha um passado de esquerda e
de simpatia pelo castrismo, hoje os mais influentes (a começar pelo anfitrião Luiz Inácio
Lula da Silva) namoram muito
mais os países ricos do que o socialismo, seja ele cubano ou
"bolivariano".
Em parte por isso, Rafael
Correa está tentando dar um
verniz ideológico ao confronto
com o Brasil, colocando-o no
balaio dos "mesmos de sempre", bordão de esquerda para
"imperialismo".
O chanceler Celso Amorim
rebateu indignado a tentativa
equatoriana, que não deixa de
ter um lado contraditório. Foi
afinal um escritório norte-americano de advocacia que
elaborou a reclamação do
Equador contra a dívida. Muito
bem elaborada, na avaliação
exatamente da outra parte, o
BNDES, por mais que o banco
diga que os equatorianos estão
"procurando pêlo em ovo".
O Brasil continua apostando
que o Equador pagará a próxima prestação do financiamento, que vence dia 29.
Aposta também em outra
contradição: embora Hugo
Chávez tenha se solidarizado
publicamente com o Equador,
nos bastidores trabalha para
uma acomodação. "Uma coisa é
a retórica; outra é atuação nos
bastidores", ouviu a Folha de
um alto funcionário brasileiro
envolvido nas negociações.
O problema é que a retórica e
a ação equatorianas atraíram
outro presidente sul-americano, o paraguaio Fernando Lugo, para o questionamento da
dívida com o Brasil referente à
usina de Itaipu. Como Lugo
também estará na Bahia, recebeu igualmente recados para
que se contenha.
A partir de amanhã, se saberá se os presidentes com contenciosos preferirão, como o
Brasil, a mesa de negociação ou
os microfones, como diz Marco
Aurélio Garcia, o assessor diplomático de Lula.
(CR)
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