São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Integração de Cuba ao Grupo do Rio visa Obama

DO COLUNISTA DA FOLHA

As cúpulas da Bahia - mais especificamente a do Grupo do Rio, mecanismo regional de consultas diplomáticas- marcarão a reintegração de Cuba ao processo regional de negociações diplomáticas: o presidente Raúl Castro foi convidado e aceitou fazer sua primeira viagem internacional.
Há, nesse convite e nessa reintegração, uma espécie de homenagem ao passado romântico da Revolução Cubana, mas há, principalmente, uma mensagem para o futuro, especificamente para o presidente eleito Barack Obama.
A mensagem é clara: o conjunto de países latino-americanos gostaria que o embargo que os EUA impõem à ilha caribenha há meio século seja levantado o mais depressa possível.
Mas não se trata de um movimento de cunho ideológico. Por mais que um punhado de presidentes sul-americanos tenha um passado de esquerda e de simpatia pelo castrismo, hoje os mais influentes (a começar pelo anfitrião Luiz Inácio Lula da Silva) namoram muito mais os países ricos do que o socialismo, seja ele cubano ou "bolivariano".
Em parte por isso, Rafael Correa está tentando dar um verniz ideológico ao confronto com o Brasil, colocando-o no balaio dos "mesmos de sempre", bordão de esquerda para "imperialismo".
O chanceler Celso Amorim rebateu indignado a tentativa equatoriana, que não deixa de ter um lado contraditório. Foi afinal um escritório norte-americano de advocacia que elaborou a reclamação do Equador contra a dívida. Muito bem elaborada, na avaliação exatamente da outra parte, o BNDES, por mais que o banco diga que os equatorianos estão "procurando pêlo em ovo".
O Brasil continua apostando que o Equador pagará a próxima prestação do financiamento, que vence dia 29.
Aposta também em outra contradição: embora Hugo Chávez tenha se solidarizado publicamente com o Equador, nos bastidores trabalha para uma acomodação. "Uma coisa é a retórica; outra é atuação nos bastidores", ouviu a Folha de um alto funcionário brasileiro envolvido nas negociações.
O problema é que a retórica e a ação equatorianas atraíram outro presidente sul-americano, o paraguaio Fernando Lugo, para o questionamento da dívida com o Brasil referente à usina de Itaipu. Como Lugo também estará na Bahia, recebeu igualmente recados para que se contenha.
A partir de amanhã, se saberá se os presidentes com contenciosos preferirão, como o Brasil, a mesa de negociação ou os microfones, como diz Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático de Lula. (CR)


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