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CRISE
Há duas semanas, não há sessão no Parlamento paraguaio por causa do impasse sobre a liberdade do ex-golpista
Caso Oviedo "paralisa" o Paraguai
LUÍS EBLAK
enviado especial a Assunção
Os protestos a favor do general
Lino Oviedo no Paraguai agravaram a crise política no país e paralisaram o Congresso na semana
passada.
Desde 1º de dezembro, não houve mais sessões que não fossem interrompidas no Parlamento paraguaio. No último dia 3, a ala de
apoio ao general boicotou a sessão
em protesto contra a sentença judicial do dia anterior, quando a
Corte Suprema determinou inconstitucional o decreto presidencial que libertou Oviedo.
O general foi condenado a dez
anos de prisão por ter liderado em
1996 uma tentativa de golpe de Estado contra o então presidente paraguaio, Juan Carlos Wasmosy.
Mas, em agosto passado, o recém-empossado presidente Raúl
Cubas -aliado de Oviedo- decretou indulto da pena do oficial.
A sentença da Corte obrigaria
Cubas (do Partido Colorado, mas
de uma ala rival à do ex-presidente
Wasmosy) a mandar o ex-golpista
de volta à cadeia, mas o presidente
discorda da decisão judicial.
A sentença da Corte -máxima
instância judicial do país- está
sendo ignorada.
²
Ameaças
Na última quinta-feira, quando
outra sessão foi adiada, a Unace
(União Nacional dos Colorados
Éticos, cujo líder é Oviedo) organizou um protesto diante do Congresso com 15 mil pessoas.
Ovacionado pelo público, o general fez um discurso em tom
ameaçador à Justiça.
"Exijo a renúncia dos cinco juízes da Corte, que são violadores,
traidores e corruptos. Caso contrário, o povo tomará as medidas necessárias", afirmou Oviedo.
O ex-golpista chegou até a fixar
uma data para a renúncia dos juízes: 31 de dezembro.
Oviedo se referia ao cinco juízes
que votaram a favor da inconstitucionalidade de seu indulto.
No dia seguinte, só se falava de
Oviedo em Assunção (contra ou a
favor). Os juízes da Corte afirmaram que não renunciariam, e o
Congresso ameaçou processar
Oviedo por injúria e calúnia.
Nos meios de comunicação paraguaios há quem compare Oviedo
ao ditador nazista Adolf Hitler.
Na manifestação em Assunção, o
general pedia a seus seguidores
que erguessem as mãos para o alto.
Alguns erguiam o punho, outros,
a palma da mão, em um gesto similar à saudação nazista.
No meio do protesto oviedista, a
Folha perguntou ao trabalhador
rural Rodrigo Gimenez se ele não
achava Oviedo um ditador. Ele
respondeu: "Não sei. Ele é nosso líder. O Paraguai precisa de líderes.
Senão o país não avança".
"É grave a ausência no Paraguai
de líderes alternativos frente aos líderes autoritários", afirmou ao
jornal "Última Hora" a cientista
política Line Bareiro.
Desde o fim da ditadura de Alfredo Stroessner, em 1989 (depois de
34 anos de governo), o Paraguai
parece não conhecer esse líder, diz
Bareiro.
Anteontem, nas ruas de Assunção, apareceram cartazes com a foto dos cinco juízes e os dizeres "ladrões e corruptos". Ninguém assumiu a autoria do ato.
²
"Efeito Chávez'
Os oviedistas propõem a realização de um referendo popular para
decidir sobre a liberdade do general. Mas a oposição (maioria no
Congresso) diz que só negocia se
Oviedo voltar à prisão.
É nítido o temor da oposição de
que aconteça no Paraguai o que
ocorreu na Venezuela: a eleição
para presidente do tenente-coronel Hugo Chávez, que, a exemplo
de Oviedo, também liderou uma
tentativa de golpe.
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