São Paulo, segunda, 14 de dezembro de 1998

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CRISE
Há duas semanas, não há sessão no Parlamento paraguaio por causa do impasse sobre a liberdade do ex-golpista
Caso Oviedo "paralisa" o Paraguai

LUÍS EBLAK
enviado especial a Assunção

Os protestos a favor do general Lino Oviedo no Paraguai agravaram a crise política no país e paralisaram o Congresso na semana passada.
Desde 1º de dezembro, não houve mais sessões que não fossem interrompidas no Parlamento paraguaio. No último dia 3, a ala de apoio ao general boicotou a sessão em protesto contra a sentença judicial do dia anterior, quando a Corte Suprema determinou inconstitucional o decreto presidencial que libertou Oviedo.
O general foi condenado a dez anos de prisão por ter liderado em 1996 uma tentativa de golpe de Estado contra o então presidente paraguaio, Juan Carlos Wasmosy.
Mas, em agosto passado, o recém-empossado presidente Raúl Cubas -aliado de Oviedo- decretou indulto da pena do oficial.
A sentença da Corte obrigaria Cubas (do Partido Colorado, mas de uma ala rival à do ex-presidente Wasmosy) a mandar o ex-golpista de volta à cadeia, mas o presidente discorda da decisão judicial.
A sentença da Corte -máxima instância judicial do país- está sendo ignorada.
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Ameaças Na última quinta-feira, quando outra sessão foi adiada, a Unace (União Nacional dos Colorados Éticos, cujo líder é Oviedo) organizou um protesto diante do Congresso com 15 mil pessoas.
Ovacionado pelo público, o general fez um discurso em tom ameaçador à Justiça.
"Exijo a renúncia dos cinco juízes da Corte, que são violadores, traidores e corruptos. Caso contrário, o povo tomará as medidas necessárias", afirmou Oviedo.
O ex-golpista chegou até a fixar uma data para a renúncia dos juízes: 31 de dezembro.
Oviedo se referia ao cinco juízes que votaram a favor da inconstitucionalidade de seu indulto.
No dia seguinte, só se falava de Oviedo em Assunção (contra ou a favor). Os juízes da Corte afirmaram que não renunciariam, e o Congresso ameaçou processar Oviedo por injúria e calúnia.
Nos meios de comunicação paraguaios há quem compare Oviedo ao ditador nazista Adolf Hitler.
Na manifestação em Assunção, o general pedia a seus seguidores que erguessem as mãos para o alto.
Alguns erguiam o punho, outros, a palma da mão, em um gesto similar à saudação nazista.
No meio do protesto oviedista, a Folha perguntou ao trabalhador rural Rodrigo Gimenez se ele não achava Oviedo um ditador. Ele respondeu: "Não sei. Ele é nosso líder. O Paraguai precisa de líderes. Senão o país não avança".
"É grave a ausência no Paraguai de líderes alternativos frente aos líderes autoritários", afirmou ao jornal "Última Hora" a cientista política Line Bareiro.
Desde o fim da ditadura de Alfredo Stroessner, em 1989 (depois de 34 anos de governo), o Paraguai parece não conhecer esse líder, diz Bareiro.
Anteontem, nas ruas de Assunção, apareceram cartazes com a foto dos cinco juízes e os dizeres "ladrões e corruptos". Ninguém assumiu a autoria do ato.
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"Efeito Chávez' Os oviedistas propõem a realização de um referendo popular para decidir sobre a liberdade do general. Mas a oposição (maioria no Congresso) diz que só negocia se Oviedo voltar à prisão.
É nítido o temor da oposição de que aconteça no Paraguai o que ocorreu na Venezuela: a eleição para presidente do tenente-coronel Hugo Chávez, que, a exemplo de Oviedo, também liderou uma tentativa de golpe.



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