São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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Parentes buscam informação de desaparecidos pela internet

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Islande Jean Baptiste tem 25 anos e vive em Massachusetts, nos EUA. Seu filho Abellard, 11, vive no Haiti. Ou vivia. Na tarde de ontem, a haitiana radicada nos EUA era uma das mais de 8.000 pessoas que buscavam notícias de parentes desaparecidos após o terremoto em um site aberto pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
No formulário simples que preencheu com seus contatos, Islande não encontrou um lugar para colocar o "endereço" do menino, mas apenas um "antigo endereço". Pragmático, o site absorveu a ideia de que tudo ruiu ou pode ruir. Quem sobreviveu vive nas ruas.
Não só por isso o Family Links (icrc.org/familylinks) é um retrato bem dimensionado do desastre. Os pedidos por notícias se avolumam velozmente -seis horas após sua abertura, já eram 3.000, e o Haiti e na Costa Leste dos EUA, de onde vêm boa parte das solicitações, começavam o dia.
Mais seis horas e o número triplicara. Haitianos, americanos, italianos, franceses, civis, militares, diplomatas, turistas. Embora o site sirva tanto para quem procura quanto para quem quer se fazer encontrar, nas contas do CICV os haitianos avisando que estavam bem não passavam de 300.
"Mas já é bom sinal", disse à Folha Marçal Izard, porta-voz da entidade em Genebra. "Podemos dizer que são pessoas confirmando que estão vivas, e que a internet funciona pelo menos em partes do país."
Embora Izard afirme que o sistema usado no tsunami asiático (2004) tem capacidade de absorver muito mais nomes, ele saiu do ar repetidas vezes.
O CICV não se responsabiliza pela precisão das informações, só por colocá-las e tirá-las do ar uma vez que haja respostas. Passadas 12 horas contudo, o endereço ainda exibia só incógnitas e contatos ansiosos.
Essa ânsia por notícias catapultou o blog de um casal de missionários cristãos americanos à capa do jornal inglês "The Guardian" ontem. Tara e Troy Livesay vivem no Haiti desde 2006 com 6 de seus 7 filhos (3 deles adotados no país).
Transformaram-se nos últimos dias em uma espécie de "buscadores" não oficiais de americanos e haitianos sumidos e em uma das mais precisas e rápidas fontes de informação sobre Porto Príncipe, com Troy rodando a cidade para procurar gente cujo paradeiro era solicitado por parentes em seu site e colocando no microblog Twitter o que via.
Em casa, Tara atualizava o blog e temia que o óleo diesel (combustível dos geradores elétricos) acabasse. "Os mortos estão sendo arrastados para a beira das estradas, cobertos e largados. Não vivemos em uma das áreas mais atingidas, e mesmo assim vemos muitos corpos", escreveu ontem.
Em outro post, apelava: "A menos que você fale crioulo e não tenha problema em cuidar de feridas horrorosas, não venha para cá [ajudar]. Não podemos alimentá-lo."


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