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Parentes buscam informação de desaparecidos pela internet
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Islande Jean Baptiste tem 25
anos e vive em Massachusetts,
nos EUA. Seu filho Abellard, 11,
vive no Haiti. Ou vivia. Na tarde
de ontem, a haitiana radicada
nos EUA era uma das mais de
8.000 pessoas que buscavam
notícias de parentes desaparecidos após o terremoto em um
site aberto pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
No formulário simples que
preencheu com seus contatos,
Islande não encontrou um lugar para colocar o "endereço"
do menino, mas apenas um
"antigo endereço". Pragmático,
o site absorveu a ideia de que
tudo ruiu ou pode ruir. Quem
sobreviveu vive nas ruas.
Não só por isso o Family
Links (icrc.org/familylinks) é
um retrato bem dimensionado
do desastre. Os pedidos por notícias se avolumam velozmente
-seis horas após sua abertura,
já eram 3.000, e o Haiti e na
Costa Leste dos EUA, de onde
vêm boa parte das solicitações,
começavam o dia.
Mais seis horas e o número
triplicara. Haitianos, americanos, italianos, franceses, civis,
militares, diplomatas, turistas.
Embora o site sirva tanto para
quem procura quanto para
quem quer se fazer encontrar,
nas contas do CICV os haitianos avisando que estavam bem
não passavam de 300.
"Mas já é bom sinal", disse à
Folha Marçal Izard, porta-voz
da entidade em Genebra. "Podemos dizer que são pessoas
confirmando que estão vivas, e
que a internet funciona pelo
menos em partes do país."
Embora Izard afirme que o
sistema usado no tsunami asiático (2004) tem capacidade de
absorver muito mais nomes,
ele saiu do ar repetidas vezes.
O CICV não se responsabiliza pela precisão das informações, só por colocá-las e tirá-las
do ar uma vez que haja respostas. Passadas 12 horas contudo,
o endereço ainda exibia só incógnitas e contatos ansiosos.
Essa ânsia por notícias catapultou o blog de um casal de
missionários cristãos americanos à capa do jornal inglês "The
Guardian" ontem. Tara e Troy
Livesay vivem no Haiti desde
2006 com 6 de seus 7 filhos (3
deles adotados no país).
Transformaram-se nos últimos dias em uma espécie de
"buscadores" não oficiais de
americanos e haitianos sumidos e em uma das mais precisas
e rápidas fontes de informação
sobre Porto Príncipe, com Troy
rodando a cidade para procurar
gente cujo paradeiro era solicitado por parentes em seu site e
colocando no microblog Twitter o que via.
Em casa, Tara atualizava o
blog e temia que o óleo diesel
(combustível dos geradores
elétricos) acabasse. "Os mortos
estão sendo arrastados para a
beira das estradas, cobertos e
largados. Não vivemos em uma
das áreas mais atingidas, e mesmo assim vemos muitos corpos", escreveu ontem.
Em outro post, apelava: "A
menos que você fale crioulo e
não tenha problema em cuidar
de feridas horrorosas, não venha para cá [ajudar]. Não podemos alimentá-lo."
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