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HAITI EM RUÍNAS
Ideais e salário atraem brasileiros a missão
No Haiti, soldados ganham mais do que no Brasil e podem economizar maior parte do dinheiro, pois não têm despesas
País já gastou R$ 703,6 mi em esforço de paz no qual tem o comando e incluiu previsão de despesa de R$ 140 mi
no Orçamento deste ano
LUIS KAWAGUTI
DO "AGORA"
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Crescimento profissional,
oportunidade de participar pela primeira vez de operações
"reais", idealismo e pagamento
em dólares são os fatores que
levam militares brasileiros a se
voluntariar para a missão de
paz no Haiti.
Só militares de carreira podem se candidatar a uma vaga
no contingente brasileiro da
Minustah (Missão das Nações
Unidas para a Estabilização do
Haiti).
Isso significa que as Forças
Armadas não levam ao Haiti os
recrutas do serviço militar
obrigatório. Segundo o Exército, sempre há mais candidatos
para ir ao país caribenho do que
vagas. A seleção é feita por critérios de tempo de serviço e desempenho nos treinamentos
no Brasil.
"Servi para viver uma operação real e para diminuir a angústia daquele povo", disse o
coronel de cavalaria reformado
José Ricardo Aizcorbe, que esteve no Haiti em 2005.
O salário financiado pela
ONU é outro atrativo, variando
segundo patente e função. Um
soldado é remunerado com
US$ 972 mensais, que equivalem hoje a R$ 1.652. No Brasil,
esse salário não passa de R$
1.340. O salário para um coronel que sirva no Haiti chega a
US$ 4.500
Como cada militar fica por
seis meses no Haiti (e praticamente não há despesas durante
a missão), a maioria se inscreve
para voltar com uma poupança
ou comprar um imóvel.
"Um médico estuda seis anos
para operar, mas ele tem que
ter um paciente ou vai ficar
frustrado. Um militar do Exército tem que ir para o conflito.
Além disso, no Haiti você ganha
o triplo do seu salário", disse o
major reformado Nélson Ricardo Fernandes, que serviu no
Haiti em 2005. Alem disso, segundo ele, outros atrativos fortes são o nome da ONU e o ambiente multicultural vivenciado em uma missão como essa.
Gastos
Em seis anos de participação
na Minustah, o governo brasileiro já gastou um total de R$
703,58 milhões com o envio e
manutenção de tropas. No ano
passado, o Brasil utilizou 62%
do montante previsto com missões de paz, sendo que a principal missão é no Haiti.
Para este ano, o Orçamento
já aprovado pelo Congresso (e
que está aguardando sanção do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva) reservou um valor recorde. Serão R$ 140 milhões, um
acréscimo de 10% sobre os R$
125 milhões previstos inicialmente no ano passado.
Mas esse é o valor orçado pelo governo, não necessariamente o gasto. Em 2009, por
exemplo, foram efetivamente
gastos apenas R$ 79,52 milhões
na rubrica "participação brasileira em missões de paz", segundo o site Contas Abertas.
Isso equivale a 62% do dinheiro orçado. O restante passa
a ser denominado "restos a pagar", podendo ser gasto em
2010. O governo não informou
a razão de não ter usado todo o
dinheiro previsto.
A Minustah é a principal missão de paz internacional integrada pelo Brasil, mas há outras
(no Timor Leste, por exemplo),
em que os contingentes são
bem pequenos.
O Brasil tem o comando da
tropa e o principal contingente,
com 1.266 militares. No total, a
missão da ONU no Haiti tem
Orçamento anual de US$ 638
milhões, o que significa dizer
que o Brasil sozinho responde
por cerca de 12,5% desse total.
De acordo com o Ministério
das Relações Exteriores, entre
as principais razões para o Brasil chefiar a parte militar da Minustah estão a tradição de participar em missões de paz que
têm autorização do Conselho
de Segurança e contam com o
consentimento do estado anfitrião (o pais já mandou tropas a
Suez, Angola, Timor Leste, entre outros), o valor do 4º artigo
da Constituição sobre a "defesa
da paz" e a identificação entre
os países, que possuem problemas estruturais semelhantes.
Contudo, a Folha apurou
que, além dessas razões, pesaram na decisão de participar da
missão o interesse do país em
uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e a
possibilidade de treinar tropas
em situação de combate real,
tendo parte das despesas reembolsadas pela organização.
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