São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Para historiador, católicos reagem a conservadorismo

Bispo negacionista foi estopim de protesto inédito

DA REPORTAGEM LOCAL

Além dos protestos extracatólicos no caso do bispo ultraconservador Richard Williamson -de representantes religiosos judeus a líderes políticos, como a chanceler alemã, Angela Merkel-, a Igreja Católica presenciou uma forte e incomum reação interna a uma decisão do Vaticano.
Na Alemanha e na Áustria, bispos condenaram a suspensão da excomunhão dos seguidores do arcebispo ultraconservador Marcel Levèbvre e alertaram para o risco de "perda de credibilidade" e "confiança" em relação ao papa. Bispos belgas afirmaram que a unidade dos cristãos não pode ser perseguida "em detrimento da verdade".
Na Suíça, cerca de 200 religiosos escreveram a seus bispos afirmando que a reabilitação do grupo se somava a uma série de "decisões fortemente regressivas". Na França, cerca de 50 intelectuais católicos assinaram texto em revista católica contra o negacionismo na igreja.
Para o teólogo e historiador José Oscar Beozzo, "a água chegou no nariz", e esses gestos são manifestações do "mal-estar" e do "incômodo" de parte da igreja com decisões do pontificado de Bento 16.
"Deu a impressão de que esse caso é mais uma pedrinha que se encaixa numa série de gestos conservadores. Aí, é como se dissessem: "Basta". Há um pouco esse sentimento", diz.
Num esforço para reparar o estrago feito com a aproximação entre a Santa Sé e um negacionista -e assim tentar melhorar a relação entre catolicismo e judaísmo-, Bento 16 se reuniu na última quinta-feira com líderes judaicos.
Após o encontro, ele declarou que a Igreja Católica tem "um compromisso profundo e irrevogável" com a rejeição ao antissemitismo. Condenou a negação do Holocausto como "intolerável" e disse que deve estar claro que o extermínio de judeus foi "um crime contra Deus e a humanidade".
A Santa Sé também exigiu de Williamson que ele tome "distância de forma pública e inequívoca" de declarações negacionistas sobre o Holocausto para que possa voltar a desempenhar funções na igreja.
Para o professor de sociologia da USP Antônio Flávio Pierucci, especialista em religião, "o papa teve que recuar". "A existência do Holocausto está reafirmada publicamente, menos pelo Williamson", ele diz.
"É verdade que esse papa estava experimentando, que nem a mãozinha do gato. De repente, ele enfiou a mão na tomada e levou um choque", ele diz.
"Nós assistimos a um momento em que o papa, com toda a sua autoridade, ao abrir o seu coração para os integristas, não pensou na reação. O feitiço se virou contra feiticeiro. Temos a impressão, em relação ao papa, de que algo escapa, e irrompe às vezes uma irracionalidade que vem desse seu pendor pela extrema direita." (RC)


Com agências internacionais


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