|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para historiador, católicos reagem a conservadorismo
Bispo negacionista foi estopim de protesto inédito
DA REPORTAGEM LOCAL
Além dos protestos extracatólicos no caso do bispo ultraconservador Richard Williamson -de representantes religiosos judeus a líderes políticos, como a chanceler alemã,
Angela Merkel-, a Igreja Católica presenciou uma forte e incomum reação interna a uma
decisão do Vaticano.
Na Alemanha e na Áustria,
bispos condenaram a suspensão da excomunhão dos seguidores do arcebispo ultraconservador Marcel Levèbvre e alertaram para o risco de "perda de credibilidade" e "confiança" em relação ao papa. Bispos
belgas afirmaram que a unidade dos cristãos não pode ser
perseguida "em detrimento da
verdade".
Na Suíça, cerca de 200 religiosos escreveram a seus bispos
afirmando que a reabilitação do
grupo se somava a uma série de
"decisões fortemente regressivas". Na França, cerca de 50 intelectuais católicos assinaram
texto em revista católica contra
o negacionismo na igreja.
Para o teólogo e historiador
José Oscar Beozzo, "a água chegou no nariz", e esses gestos são
manifestações do "mal-estar" e
do "incômodo" de parte da
igreja com decisões do pontificado de Bento 16.
"Deu a impressão de que esse
caso é mais uma pedrinha que
se encaixa numa série de gestos
conservadores. Aí, é como se
dissessem: "Basta". Há um pouco esse sentimento", diz.
Num esforço para reparar o
estrago feito com a aproximação entre a Santa Sé e um negacionista -e assim tentar melhorar a relação entre catolicismo e judaísmo-, Bento 16 se
reuniu na última quinta-feira
com líderes judaicos.
Após o encontro, ele declarou que a Igreja Católica tem
"um compromisso profundo e
irrevogável" com a rejeição ao
antissemitismo. Condenou a
negação do Holocausto como
"intolerável" e disse que deve
estar claro que o extermínio de
judeus foi "um crime contra
Deus e a humanidade".
A Santa Sé também exigiu de
Williamson que ele tome "distância de forma pública e inequívoca" de declarações negacionistas sobre o Holocausto
para que possa voltar a desempenhar funções na igreja.
Para o professor de sociologia da USP Antônio Flávio Pierucci, especialista em religião,
"o papa teve que recuar". "A
existência do Holocausto está
reafirmada publicamente, menos pelo Williamson", ele diz.
"É verdade que esse papa estava experimentando, que nem
a mãozinha do gato. De repente, ele enfiou a mão na tomada e
levou um choque", ele diz.
"Nós assistimos a um momento em que o papa, com toda
a sua autoridade, ao abrir o seu
coração para os integristas, não
pensou na reação. O feitiço se
virou contra feiticeiro. Temos a
impressão, em relação ao papa,
de que algo escapa, e irrompe às
vezes uma irracionalidade que
vem desse seu pendor pela extrema direita."
(RC)
Com agências internacionais
Texto Anterior: Papa faz "reforma" parcial do Concílio Vaticano 2º Próximo Texto: EUA matam 27 em ataque na fronteira do Paquistão Índice
|