São Paulo, domingo, 15 de março de 1998

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ISOLAMENTO LÍBIO
Gaddafi quer fim das sanções impostas após líbios serem acusados por atentado contra avião da Pan Am
Líbia busca eliminar o embargo da ONU

do enviado especial

O dirigente líbio Muammar Gaddafi concentra esforços em busca de uma improvável vitória diplomática: o fim das sanções econômicas impostas pelo Conselho de Segurança da ONU em 1992.
O embargo veio como resposta patrocinada por EUA e Reino Unido à recusa líbia a extraditar dois supostos terroristas, acusados de tramar a explosão do vôo 103 da Pan Am, ocorrida em 1988 sobre a cidade de Lockerbie (Escócia). Morreram 259 viajantes que iam de Frankfurt a Nova York e 11 pessoas no chão.
As investigações de norte-americanos e britânicos apontam os líbios Abdel Basset Ali al Megrahi e Lamen Khalifa Fhimah, acusados de serem agentes dos serviços de inteligência de seu país, como os autores do atentado. Washington e Londres querem julgá-los, alegando que o avião pertencia a uma empresa dos EUA e o crime ocorreu em espaço aéreo britânico.
Gaddafi se recusou a entregar os suspeitos. Vieram então, em 1992, as sanções, que basicamente impedem o movimento aéreo no país, a venda de armas à Líbia e dificultam algumas operações financeiras no exterior feitas em nome de instituições líbias.
As sanções não dificultam a vida da indústria de petróleo, de acordo com os interesses dos exportadores líbios e também dos importadores europeus.
Já inspirado na moderação dos últimos anos, Gaddafi admitiu julgar os acusados na Líbia e argumentou que seu governo não tem nada a temer num processo judicial. Disse acreditar na inocência de Megrahi e Fhimah.
O dirigente líbio propôs um acordo aos EUA e ao Reino Unido. Aceitou entregar os suspeitos a um terceiro país para julgamento. Outra negativa dos inflexíveis norte-americanos e britânicos.
Para os EUA, Megrahi e Fhimah arquitetaram uma vingança contra o bombardeio norte-americano de Trípoli e Bengazi, em 1986. Para as autoridades líbias, extremistas iranianos ou palestinos seriam os responsáveis pelo crime.
A polêmica sobre os autores do crime permanece, enquanto EUA e Reino Unido se recusam a apresentar as supostas evidências do envolvimento líbio. Dizem que o farão apenas num tribunal.
Decisão em Haia
A Líbia colhe alguns sinais de que há luz no fim do túnel em seu embate do caso Lockerbie. A primeira boa notícia veio do Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, na Holanda, no último dia 27.
A corte afirmou ter competência para decidir quem deve julgar os líbios acusados pelo atentado. A decisão, embora favorável às reivindicações de Trípoli, ainda está longe de significar a inocência de Megrahi e Fhimah e deverá ser anunciada dentro de um ano.
Mas a chancelaria líbia não perdeu tempo e divulgou comunicado exigindo o fim das sanções impostas pela ONU. Conta com o apoio de países árabes e africanos.
No dia 7 de março, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu, como faz a cada 120 dias, para decidir sobre a renovação ou não do embargo. A Líbia, inspirada pela decisão de Haia, esperava que o ritual sumário, repetido já 18 vezes, trouxesse um debate sobre a possibilidade de levantar o embargo.
O Conselho de Segurança repetiu o ritual sumário e renovou as sanções. A Líbia, no entanto, arrancou uma suada vitória. Conseguiu que o organismo marcasse para o próximo dia 20 um debate sobre a disputa judicial, por causa da decisão do Tribunal de Haia.
Mas, diante da inflexibilidade dos EUA e do Reino Unido, são ainda pequenas as chances de uma vitória de Gaddafi num futuro próximo. (JS)



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