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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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Embaixada brasileira escapa dos saques

Entre as diversas embaixadas que se espalham pelo bairro de Al Mansur, perto da "nova mesquita" de Bagdá, pelo menos uma foi poupada: a brasileira. Levaram apenas a bandeira do país, que não tremula mais no mastro da construção modernosa de propriedade de um iraquiano que a aluga ao Itamaraty.
 
Não é propriamente uma embaixada, mas uma casa que guarda os arquivos dos interesses brasileiros no país. A representação mesmo fechou no começo dos anos 90, devido à Guerra do Golfo. Em seu segundo mandato, o ex-presidente FHC quis reabri-la, mas acabou desistindo. Hoje, há apenas um funcionário, que se reporta à embaixada de Amã, na Jordânia. É o poeta iraquiano-brasileiro Auni Audari.
 
Ontem de manhã, durante a visita da Folha ao local, vigilantes civis armados de fuzis AK-47 contratados pelos moradores da região cercavam a casa. Eles achavam que havia um ladrão lá dentro, o mesmo que viria agindo em diversas embaixadas desde a queda do regime de Saddam Hussein.
 
Ninguém apareceu ou foi preso.
 
A representação brasileira fica em frente à "nova mesquita" -não confundir com a "grande mesquita", que ocupa o terreno do antigo aeroporto internacional da cidade. Ambas são estruturas gigantescas de concreto abandonadas; o ex-ditador iraquiano prometeu fazer as duas maiores mesquitas do mundo na capital, mas nunca concluiu as obras.
 
Por ironia do destino, uma das primeiras embaixadas a ser saqueada pelo povo bagdali foi a da Alemanha, país que, com a França, foi o principal defensor da solução diplomática para a questão iraquiana. Saqueada e depois queimada. Não sobrou nada.
 
Não muito distante da representação brasileira, no mesmo bairro, estão as quatro casas destruídas na terça-feira passada por bombas da coalizão anglo-americana, que tinha informações de que Saddam Hussein e seus dois filhos estavam se reunindo lá. No último fim de semana, o lugar virou ponto de romaria.
 
Não exatamente romaria: os iraquianos que visitam as ruínas das casas querem se certificar se Saddam Hussein morreu mesmo, informação que os serviços de inteligência dos EUA não foram capazes de confirmar até agora.
 
O local, próximo da Avenida 14 Ramadã, na verdade uma cratera de oito metros de diâmetro e com o dobro disso de profundidade, está sendo chamado de "o túmulo de Saddam". No dia do bombardeio, o presidente teria chegado com Abed Hmud, seu assistente pessoal, às 10h, e saído antes que as bombas caíssem.
 
Segundo um vizinho, uma das propriedades funcionava como um escritório secreto do regime e estava alugada em nome de Falih Al Azawi, secretário de Qusay Hussein, filho do ex-ditador.
 
Este era o menos problemático dos dois. O mais temido era Uday, o primogênito. Pois foi num dos palácios dele que os marines encontraram ontem muita bebida (proibida pelo islamismo), pornografia (idem), aparelhos eletrônicos de última geração e charutos cubanos. Tudo normal. O problema foram as fotos que estavam pregadas numa das paredes do ginásio particular.
 
Eram todas com as gêmeas Bush, as filhas pós-adolescentes do presidente dos Estados Unidos, em diversas poses e situações.
 
Por via das dúvidas, os marines arrancaram as imagens.


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