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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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"Ninguém queria ficar conosco", diz ex-prisioneiro americano

DA REDAÇÃO

Os 21 dias de cativeiro no Iraque que separaram a rendição dos sete prisioneiros de guerra americanos, em 23 de março, e seu resgate, anteontem, foram marcados pelo medo da morte, interrogatórios e a mudança de cativeiros.
A cozinheira Shoshana Johnson, 30, o sargento James Riley, 31, os especialistas Joseph Hudson, 23, e Edgar Hernandez, 21, o recruta Patrick Miller, 23, e os pilotos Ronald Young Jr., 26, e David Williams, 30, foram encontrados por marines em Samarra (60 km ao norte de Bagdá).
Os cinco primeiros pertenciam a uma companhia que ia para Bagdá quando caiu em emboscada em Nassiriah. Nove soldados foram mortos, e outros seis, rendidos -incluindo a recruta Jessica Lynch, 19, libertada de um hospital de Nassiriah em 1º de abril. "Estávamos cercados. Não tínhamos chance", disse Riley. O grupo foi levado a uma casa no norte de Bagdá, onde dias depois chegaram Williams e Young.
Hudson, Hernandez e Shoshana foram feridos -ela, sem conseguir andar, só foi bem tratada quando os iraquianos notaram ser uma mulher. O mesmo não ocorreu com os demais. "Pensei que iam me matar", disse Miller.
Em Bagdá, os feridos foram operados e Jessica, removida. Isolados em celas de concreto com teto de zinco, onde receberam pijamas e um cobertor de lã, comiam arroz, pão e, às vezes, frango, até três vezes por dia, e eram interrogados constantemente.
Os pilotos chegaram depois. Quando o helicóptero deles caiu, os dois nadaram 400 m em um canal e correram por um campo aberto até serem pegos por fazendeiros e levados a uma delegacia.
No fim da segunda semana de cativeiro, após uma explosão que fez tremer a prisão, os sete foram deslocados pela primeira vez. Desde então, com o avanço das tropas americanas a Bagdá, foram sete ou oito cativeiros, entre prédios do governo e residências. "Éramos os filhos bastardos do Iraque. Ninguém queria ficar conosco", disse Young.
No último cativeiro, em Samarra, foram libertados. "Eu estava sentado, e o que me lembro em seguida é de marines chutando a porta e nos mandando abaixar", contou Miller. "Fomos prisioneiros por pouco tempo", disse Young. "Não sei como os caras no Vietnã aguentaram. Eu não conseguiria."


Com agências internacionais


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