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ORIENTE MÉDIO
Presidente apóia plano de Sharon para saída unilateral de Gaza e posição israelense sobre refugiados palestinos
Israel pode manter colônias, diz Bush
DA REDAÇÃO
O presidente George W. Bush
rompeu com décadas de política
americana para o Oriente Médio
ontem quando declarou que Israel pode conservar parte dos territórios palestinos que tomou na
guerra de 1967. Os palestinos rechaçaram a declaração.
Bush fez a declaração após um
encontro com o premiê israelense, Ariel Sharon, na Casa Branca.
Bush qualificou como "histórico e
corajoso" o plano de Sharon que
prevê uma retirada unilateral israelense da faixa de Gaza, também ocupada desde 1967.
"À luz das novas realidades no
terreno, incluindo a existência de
fato de importantes centros populacionais israelenses na área, é
irrealista esperar que o resultado
das negociações sobre o status final seja o retorno completo e total
às linhas do armistício traçadas
em 1949 [após a primeira guerra
árabe-israelense]", disse Bush em
coletiva ao lado de Sharon.
Num gesto aos palestinos, Bush
enfatizou que qualquer colônia israelense "deve ser temporária e
não prejudicar as negociações sobre o status final [da região], incluindo fronteiras definitivas".
Disse ainda que espera a criação
de um Estado palestino em 2005,
como prevê plano proposto por
EUA, União Européia, Rússia e
ONU em 2003.
Durante décadas, passando por
governos republicanos e democratas, os EUA oficialmente viram
os assentamentos judaicos como
um obstáculo à paz. Bush modificou essa visão, vendo alguns deles
como fato consumado.
Desde que capturou a Cisjordânia e a faixa de Gaza, Israel já implantou cerca de 120 assentamentos na Cisjordânia. Além disso,
cercou Jerusalém Oriental, ocupada por subúrbios judaicos.
Em sua declaração, Bush provavelmente se referiu aos grandes
assentamentos judaicos que Israel
ergueu em volta de Jerusalém e
também, possivelmente, a alguns
dos grandes encraves que criou
adjacentes à fronteira de 1967.
Cerca de 230 mil colonos israelenses e 2,3 milhões de palestinos
vivem na Cisjordânia. A faixa de
Gaza tem 1,3 milhão de palestinos
e cerca de 7.000 colonos israelenses, que vivem em encraves isolados e fortificados que, sob o plano
de Sharon, seriam esvaziados.
A declaração de Bush tem amplas repercussões políticas nos
EUA e no exterior. Deve reforçar
o apoio da direita cristã e de uma
parte do eleitorado judaico a Bush
na eleição presidencial de novembro. Mas é provável que inflame
ainda mais o mundo árabe e crie
novas complicações aos esforços
de estabilização do Iraque.
A declaração e as cartas trocadas por Bush e Sharon devem ainda ajudar o líder israelense a levar
adiante seu plano de desmontar
os 21 assentamentos judaicos na
faixa de Gaza e quatro na Cisjordânia, por meio de uma votação
em seu partido, o Likud (centro-direita), em 2 de maio. Sharon vinha sendo acusado pela extrema
direita, presente em sua coalizão,
e por setores do Likud de não obter nada em troca da saída unilateral de Gaza. Sharon afirma que,
desde a eclosão da Intifada -a revolta palestina contra a ocupação-, em setembro de 2000, não
há interlocutor para uma retomada das negociações de paz e que as
colônias em Gaza absorvem recursos demais de Israel.
Bush também sinalizou que os
EUA aceitam a posição israelense
de que é impossível dar direito de
retorno aos refugiados palestinos
a Israel, dizendo que, em lugar
disso, eles devem ser reassentados
num futuro Estado palestino. Israel alega que a volta de milhões
de refugiados minaria seu caráter
judaico. Sorrindo abertamente,
Sharon disse a Bush: "Fiquei encorajado com seu apoio a meu
plano. O senhor me entregou
uma carta que inclui uma afirmação muito importante relativa à
segurança de Israel e seu bem-estar como Estado judaico".
O premiê britânico, Tony Blair,
saudou a promessa de Sharon de
retirar as forças israelenses de Gaza e de alguns assentamentos na
Cisjordânia, dizendo que a comunidade internacional "deve agora
trabalhar em conjunto para aproveitar essa oportunidade de injetar vida nova no processo de paz".
Blair não fez referência à mudança de posição de Washington em
relação aos assentamentos. Ele
encontrará Bush amanhã. A mudança de posição se dá no momento em que Israel segue erguendo uma barreira de separação que adentra fundo na Cisjordânia, já criticada por Bush, mas
não mencionada ontem.
Com agências internacionais
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