São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Presidente apóia plano de Sharon para saída unilateral de Gaza e posição israelense sobre refugiados palestinos

Israel pode manter colônias, diz Bush

DA REDAÇÃO

O presidente George W. Bush rompeu com décadas de política americana para o Oriente Médio ontem quando declarou que Israel pode conservar parte dos territórios palestinos que tomou na guerra de 1967. Os palestinos rechaçaram a declaração.
Bush fez a declaração após um encontro com o premiê israelense, Ariel Sharon, na Casa Branca. Bush qualificou como "histórico e corajoso" o plano de Sharon que prevê uma retirada unilateral israelense da faixa de Gaza, também ocupada desde 1967.
"À luz das novas realidades no terreno, incluindo a existência de fato de importantes centros populacionais israelenses na área, é irrealista esperar que o resultado das negociações sobre o status final seja o retorno completo e total às linhas do armistício traçadas em 1949 [após a primeira guerra árabe-israelense]", disse Bush em coletiva ao lado de Sharon.
Num gesto aos palestinos, Bush enfatizou que qualquer colônia israelense "deve ser temporária e não prejudicar as negociações sobre o status final [da região], incluindo fronteiras definitivas". Disse ainda que espera a criação de um Estado palestino em 2005, como prevê plano proposto por EUA, União Européia, Rússia e ONU em 2003.
Durante décadas, passando por governos republicanos e democratas, os EUA oficialmente viram os assentamentos judaicos como um obstáculo à paz. Bush modificou essa visão, vendo alguns deles como fato consumado.
Desde que capturou a Cisjordânia e a faixa de Gaza, Israel já implantou cerca de 120 assentamentos na Cisjordânia. Além disso, cercou Jerusalém Oriental, ocupada por subúrbios judaicos.
Em sua declaração, Bush provavelmente se referiu aos grandes assentamentos judaicos que Israel ergueu em volta de Jerusalém e também, possivelmente, a alguns dos grandes encraves que criou adjacentes à fronteira de 1967.
Cerca de 230 mil colonos israelenses e 2,3 milhões de palestinos vivem na Cisjordânia. A faixa de Gaza tem 1,3 milhão de palestinos e cerca de 7.000 colonos israelenses, que vivem em encraves isolados e fortificados que, sob o plano de Sharon, seriam esvaziados.
A declaração de Bush tem amplas repercussões políticas nos EUA e no exterior. Deve reforçar o apoio da direita cristã e de uma parte do eleitorado judaico a Bush na eleição presidencial de novembro. Mas é provável que inflame ainda mais o mundo árabe e crie novas complicações aos esforços de estabilização do Iraque.
A declaração e as cartas trocadas por Bush e Sharon devem ainda ajudar o líder israelense a levar adiante seu plano de desmontar os 21 assentamentos judaicos na faixa de Gaza e quatro na Cisjordânia, por meio de uma votação em seu partido, o Likud (centro-direita), em 2 de maio. Sharon vinha sendo acusado pela extrema direita, presente em sua coalizão, e por setores do Likud de não obter nada em troca da saída unilateral de Gaza. Sharon afirma que, desde a eclosão da Intifada -a revolta palestina contra a ocupação-, em setembro de 2000, não há interlocutor para uma retomada das negociações de paz e que as colônias em Gaza absorvem recursos demais de Israel.
Bush também sinalizou que os EUA aceitam a posição israelense de que é impossível dar direito de retorno aos refugiados palestinos a Israel, dizendo que, em lugar disso, eles devem ser reassentados num futuro Estado palestino. Israel alega que a volta de milhões de refugiados minaria seu caráter judaico. Sorrindo abertamente, Sharon disse a Bush: "Fiquei encorajado com seu apoio a meu plano. O senhor me entregou uma carta que inclui uma afirmação muito importante relativa à segurança de Israel e seu bem-estar como Estado judaico".
O premiê britânico, Tony Blair, saudou a promessa de Sharon de retirar as forças israelenses de Gaza e de alguns assentamentos na Cisjordânia, dizendo que a comunidade internacional "deve agora trabalhar em conjunto para aproveitar essa oportunidade de injetar vida nova no processo de paz". Blair não fez referência à mudança de posição de Washington em relação aos assentamentos. Ele encontrará Bush amanhã. A mudança de posição se dá no momento em que Israel segue erguendo uma barreira de separação que adentra fundo na Cisjordânia, já criticada por Bush, mas não mencionada ontem.


Com agências internacionais


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