São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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UMA ANÁLISE ISRAELENSE

"Porta ainda está aberta a palestinos"

DA REPORTAGEM LOCAL

Jornalista do diário israelense "Haaretz" e biógrafo de Ariel Sharon, Uzi Benziman diz que George W. Bush e o premiê israelense tomaram as precauções verbais necessárias para não fechar as portas aos palestinos.
Mesmo assim, eles reagirão ao fato de os EUA apoiarem a preservação dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e também endossarem o projeto de Sharon quanto aos refugiados, que perderiam o direito de retorno ao que é hoje Israel e precisariam ser abrigados num futuro Estado palestino. Benziman acha ainda que Bush pode ter ajudado Sharon a não ser indiciado por corrupção.
(JBN)

 

Folha - O fato de Bush ter endossado os planos de Sharon fortaleceria o premiê no referendo que fará em seu partido sobre seu plano de saída de Gaza?
Uzi Benziman -
Ninguém tem certeza quanto ao resultado dessa consulta no Likud, mas creio que as chances de Sharon cresceram. Mesmo assim, a oposição a ele dentro do partido não ficará de braços cruzados. Ela se opõe à saída de Gaza.

Folha - Sharon estava isolado com relação a esse aspecto e também quanto à manutenção das colônias na Cisjordânia. Não mais?
Benziman -
Foi essa justamente a intenção que estava por detrás da viagem dele a Washington. Creio também que Bush se dispôs a tirar Sharon da situação embaraçosa de poder ser desautorizado por seu próprio partido.

Folha - Como a retirada de Gaza é vista em Israel?
Benziman -
Para setores israelenses, o abandono de assentamentos em Gaza é algo de extrema gravidade. É algo que não será facilmente aceito. O fato é que Bush ajudou a vencer as resistências dentro do Likud.

Folha - E os palestinos?
Benziman -
Devemos ler muito cuidadosamente o que Bush e Sharon disseram. Suponho que os assessores da Casa Branca não poderiam ignorar as imediatas reações no mundo árabe. É então possível que a formulação do comunicado tenha sido bastante habilidosa para não melindrar o outro lado. Os palestinos não foram colocados diante de um impasse. Eles podem evocar o comunicado como posição a partir da qual poderiam negociar.

Folha - Mesmo assim não dá para esconder que Israel tem a partir de agora "costas quentes" da maior potência global para manter seus colonos na Cisjordânia.
Benziman -
Os palestinos não ficarão felizes com essa parte do documento. Mas creio também que o presidente Bush e seus assessores não fechariam as portas. Uma das interpretações possíveis é de que há espaço ainda para muitas negociações.

Folha - Bush qualificou o plano de Sharon de "histórico".
Benziman -
Não é bem isso que deixará os palestinos com raiva. Eles ficarão enraivecidos com a questão dos refugiados e, sobretudo, com o direito que Bush reconheceu a Israel de anexar parte da Cisjordânia.

Folha - Até que ponto o sucesso de Sharon em Washington criaria um ambiente favorável para que ele não seja indiciado por suspeita de corrupção?
Benziman -
Teoricamente, política e Justiça não se misturam. Dentro de cerca de duas semanas o procurador-geral de Israel dirá se aceita ou não o indiciamento do premiê por corrupção. Mas esse ambiente psicológico poderá influenciar a decisão do procurador-geral.


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