São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Chefe da agência pede cinco anos para organizar inteligência

CIA admite despreparo contra terror

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Os diretores da CIA (agência de inteligência americana), George Tenet, e do FBI (polícia federal dos EUA), Robert Mueller, disseram ontem à comissão independente que investiga os ataques do 11 de Setembro que levará anos para que os EUA organizem um sistema efetivo de inteligência para combater e prevenir o terror.
Segundo Tenet, "mais cinco anos de trabalho" serão necessários para os EUA terem o tipo de serviço secreto preparado para combater a Al Qaeda e outras ameaças terroristas.
Ele admitiu ainda falhas na ação da agência no período pré-11 de Setembro, afirmando que a CIA "jamais penetrou na trama" do ataque. "Todos conhecíamos a intenção de Bin Laden de atacar dentro dos EUA, mas fomos incapazes de traduzir esse conhecimento numa proteção efetiva para o país."
O diretor da CIA atribuiu a orçamentos limitados desde o fim da Guerra Fria o fato de, em meados dos anos 90, os serviços de inteligência terem perdido "25% de pessoal e bilhões de dólares em investimentos", o que teria prejudicado seu trabalho.
A comissão independente investiga possíveis falhas no governo americano que teriam permitido os atentados de 2001 contra o World Trade Center e o Pentágono. As agências de inteligência têm sido acusadas de terem falhado na prevenção dos ataques.
Em seu depoimento na semana passada à comissão, a assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, atribuiu a "falhas estruturais" de comunicação e troca de informações entre as duas agências parte da responsabilidade pelos ataques. Antes dos depoimentos de ontem, a comissão divulgou um texto em que criticava duramente o FBI -questionando seus esforços de reorganização- e a CIA -por não conseguir avaliar o tamanho da ameaça colocada pela Al Qaeda antes dos atentados.
Mueller afirmou que o FBI tem focado o combate ao terrorismo desde setembro de 2001. E exortou os membros da comissão a permitir que esses esforços continuem e não sejam perdidos pela criação de uma nova agência de inteligência interna que substitua ou ocupe parte das atuais funções do órgão -sugestão que tem sido feita tanto por democratas (oposição) quanto republicanos.
O diretor do FBI disse que o órgão está buscando melhorar seus atributos investigativos e de serviço de inteligência.
"Não queremos que historiadores olhem para trás e digam: "Ok, vocês ganharam a guerra contra o terrorismo, mas perderam suas liberdades civis'", declarou.
O democrata Timothy Roemer, membro da comissão, questionou: "Com tantos riscos para o país, por que deveríamos dar uma segunda chance ao FBI?".
Segundo o relatório da comissão, a CIA teria falhado em reunir todos os dados que detinha sobre a Al Qaeda e compreendê-los corretamente, descrevendo Bin Laden, ainda em 1997, apenas como "financiador do terrorismo".
Confrontado com um fato que exemplificaria falhas da agência -a prisão de um suposto extremista islâmico que tomava lições de vôo em agosto de 2001-, Tenet reconheceu que não havia informado a Bush sobre o fato porque o presidente estava de férias no seu rancho no Texas.
Ele afirmou que também não comunicou a prisão a outros membros da administração por não considerar que isso seria "apropriado".


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