São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2011

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ANÁLISE

Entrega de armamento gera dúvidas sobre limite da ajuda externa a rebeldes

SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

A confirmação de que um país está abastecendo os rebeldes em armas sela um aprofundamento na relação entre forças externas e insurgentes e traz à tona a pergunta sobre qual o limite do envolvimento internacional nos esforços contra o regime de Muammar Gaddafi.
Quanto mais o conflito se arrasta, mais fica clara a incapacidade dos rebeldes de atingir seus objetivos militares sem receber ajuda externa em várias frentes.
A guerra líbia começou com apelos desesperados dos insurgentes por uma zona de exclusão aérea destinada a aniquilar a capacidade de Gaddafi continuar bombardeando cidades dominadas por rebeldes.
A resolução 1973 do Conselho de Segurança ampara legalmente o pedido dos insurgentes e abre caminho para ataques internacionais a alvos governistas em nome da proteção da população civil.
Mas nem a zona de exclusão aérea nem o enfraquecimento do poderio bélico do regime pelos bombardeios ocidentais foram suficientes.
Os rebeldes líbios que operam a partir de Benghazi -centenas de civis com pouca ou nenhuma formação militar, chefiados por soldados e oficiais desertores- vêm lutando há semanas com as armas saqueadas das bases militares que caíram sob controle insurgente nos primeiros dias da revolta.
Envelhecidos fuzis Kalashnikov e FN FAL são usados principalmente nos combates urbanos. No deserto, baterias antiaéreas fazem as vezes de metralhadoras.
Há duas semanas, um rebelde disparou contra jatos da Otan, que responderam matando 13 pessoas.
Mísseis russos Grad e Katyusha são disparados a esmo sem nenhuma informação precisa sobre a localização dos alvos a ser atingidos.
Há alguns tanques, quase todos obsoletos e de difícil manejo. Rebeldes dizem que Gaddafi, ciente de que sempre fora rejeitado pela população do leste, deixou de propósito equipamento mais antigo nas bases da região para minimizar as chances de um levante bem-sucedido.
A maioria dos países da Otan reluta em entregar armas a rebeldes tão díspares e confusos. Teme-se repetir o cenário afegão, no qual combatentes armados e financiados para repelir os russos acabaram contribuindo para a criação da Al Qaeda.
Se continuarem inócuos os esforços de apoio aos rebeldes, surgirá inevitavelmente uma ideia tratada até agora como tabu: a de uma invasão externa por terra.


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