|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Ganhei no 1º turno e vou embora", anuncia Menem
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
"Ganhei no primeiro turno e
vou embora", disse Carlos Menem ao anunciar, ontem, que desistiu de disputar o segundo turno da eleição presidencial argentina
contra o também peronista Néstor Kirchner, marcado para este
domingo.
"Estou muito feliz. Este é o mesmo dia em que triunfamos em
1989 e em 1995, ambos em disputas presidenciais", disse Menem,
que presidiu o país em dois mandatos, entre 1989 e 1999. "Que ele
[Kirchner] fique com os 22%; eu fico com o povo", afirmou, referindo-se ao resultado do primeiro turno, em 27 de abril, quando Menem obteve 24,45% dos votos, contra 22,2% do adversário.
A certeza de que Menem havia
retirado a candidatura veio às
16h30. Em discurso veiculado em
rede nacional, o ex-presidente
agradeceu aos eleitores, disse se
sentir "vitorioso" e atacou o atual
presidente, Eduardo Duhalde, seu
desafeto político.
Menem lembrou Evita Péron (a
endeusada mulher do presidente
Juan Domingo Perón): "Como dizia Evita, renuncio às honras e aos
títulos, mas não à luta".
"Há momentos, eleitores, em
que são indispensáveis definições
e renúncias. A Assembléia Legislativa já havia proclamado oficialmente a nossa vitória no primeiro
turno, o que mostra o enorme reconhecimento dos milhões que
ratificaram a confiança em nós no
dia 27 de abril."
Segundo Menem, a vitória seria
sua se o PJ (Partido Justicialista)
não tivesse se dividido na disputa
deste ano. No primeiro turno, em
27 de maio, 3 dos 5 primeiros colocados na contagem final das urnas eram peronistas: Menem,
Kirchner e Adolfo Rodríguez Saá,
que ficou em quarto lugar, com
14,1% dos votos.
"Essa situação é resultado de
uma manobra do atual governo
que frustou a realização de uma
interna dentro do partido. Pela
primeira vez em sua história, o
peronismo se viu obrigado a concorrer com três fórmulas surgidas
de suas próprias brigas internas e
por capricho das atuais autoridades nacionais", afirmou.
"A população foi obrigada a
participar de uma prévia peronista, que deveria ter sido decidida
dentro do partido."
Menem disse ainda que o país
passa por uma grave crise, não só
econômica, mas também institucional e pediu para que o novo
presidente tenha "pulso firme"
para evitar que corra o risco de ser
"retirado" do comando. Ele lembrou o caso de Fernando de la
Rúa, que renunciou ao cargo após
uma forte mobilização popular,
em dezembro de 2001.
"O país sofre uma das crises
mais graves de sua história. Mais
do que nunca, a Argentina precisa
contar com um poder político da
mais extrema transparência e legitimidade democrática."
Em uma conversa rápida com
jornalistas no jardim da casa do
governador da Província de La
Rioja, Menem pediu que seus eleitores continuassem tendo "fé" e
sinalizou que não irá abandonar a
política: "Eu fico com a vitória, fui
eu quem saiu à frente na eleição".
"Não participo do segundo turno, mas me comprometo a dar todo o meu apoio e colaboração para defender a estabilidade do sistema democrático da Argentina.
O país não pode ser vítima da
ação dos inimigos da democracia
por viver instabilidade."
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Ópera-bufa derrota sonho de "país normal" Índice
|