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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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"Ganhei no 1º turno e vou embora", anuncia Menem

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

"Ganhei no primeiro turno e vou embora", disse Carlos Menem ao anunciar, ontem, que desistiu de disputar o segundo turno da eleição presidencial argentina contra o também peronista Néstor Kirchner, marcado para este domingo.
"Estou muito feliz. Este é o mesmo dia em que triunfamos em 1989 e em 1995, ambos em disputas presidenciais", disse Menem, que presidiu o país em dois mandatos, entre 1989 e 1999. "Que ele [Kirchner] fique com os 22%; eu fico com o povo", afirmou, referindo-se ao resultado do primeiro turno, em 27 de abril, quando Menem obteve 24,45% dos votos, contra 22,2% do adversário.
A certeza de que Menem havia retirado a candidatura veio às 16h30. Em discurso veiculado em rede nacional, o ex-presidente agradeceu aos eleitores, disse se sentir "vitorioso" e atacou o atual presidente, Eduardo Duhalde, seu desafeto político.
Menem lembrou Evita Péron (a endeusada mulher do presidente Juan Domingo Perón): "Como dizia Evita, renuncio às honras e aos títulos, mas não à luta".
"Há momentos, eleitores, em que são indispensáveis definições e renúncias. A Assembléia Legislativa já havia proclamado oficialmente a nossa vitória no primeiro turno, o que mostra o enorme reconhecimento dos milhões que ratificaram a confiança em nós no dia 27 de abril."
Segundo Menem, a vitória seria sua se o PJ (Partido Justicialista) não tivesse se dividido na disputa deste ano. No primeiro turno, em 27 de maio, 3 dos 5 primeiros colocados na contagem final das urnas eram peronistas: Menem, Kirchner e Adolfo Rodríguez Saá, que ficou em quarto lugar, com 14,1% dos votos.
"Essa situação é resultado de uma manobra do atual governo que frustou a realização de uma interna dentro do partido. Pela primeira vez em sua história, o peronismo se viu obrigado a concorrer com três fórmulas surgidas de suas próprias brigas internas e por capricho das atuais autoridades nacionais", afirmou.
"A população foi obrigada a participar de uma prévia peronista, que deveria ter sido decidida dentro do partido."
Menem disse ainda que o país passa por uma grave crise, não só econômica, mas também institucional e pediu para que o novo presidente tenha "pulso firme" para evitar que corra o risco de ser "retirado" do comando. Ele lembrou o caso de Fernando de la Rúa, que renunciou ao cargo após uma forte mobilização popular, em dezembro de 2001.
"O país sofre uma das crises mais graves de sua história. Mais do que nunca, a Argentina precisa contar com um poder político da mais extrema transparência e legitimidade democrática."
Em uma conversa rápida com jornalistas no jardim da casa do governador da Província de La Rioja, Menem pediu que seus eleitores continuassem tendo "fé" e sinalizou que não irá abandonar a política: "Eu fico com a vitória, fui eu quem saiu à frente na eleição".
"Não participo do segundo turno, mas me comprometo a dar todo o meu apoio e colaboração para defender a estabilidade do sistema democrático da Argentina. O país não pode ser vítima da ação dos inimigos da democracia por viver instabilidade."


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