São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Modo de interrogar presos viola tratados; militar diz que colegas "pareciam gostar" de maltratar prisioneiros

Defesa veta técnica aprovada por Rumsfeld

DA REDAÇÃO

Diante das conseqüências do escândalo envolvendo tortura de iraquianos, o Pentágono vai proibir o uso de técnicas de interrogatório defendidas nesta semana pelo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, que violam as Convenções de Genebra, sobre os direitos dos prisioneiros de guerra.
Segundo fontes na Defesa que pediram anonimato, técnicas como a supressão do sono e a manutenção de prisioneiros em posição de estresse -que podiam ser usadas sob autorização do alto comando -serão banidas do protocolo. A decisão é do principal comandante dos EUA no Iraque, general Ricardo Sanchez.
Rumsfeld dissera que os dois procedimentos haviam sido aprovados por advogados do Pentágono por condizerem com as convenções. Mas, um dia depois, dois dos principais nomes da Defesa, o subsecretário Paul Wolfowitz e o general Peter Pace, disseram desconhecer seu uso pelas tropas.

Diversão
Transcrições do depoimento do recruta Jeremy Sivits, 24, divulgadas ontem por jornais dos EUA, dão conta de que os soldados americanos "sorriam e pareciam se divertir" ao espancar, despir e humilhar sexualmente prisioneiros iraquianos. Sivits, o primeiro a enfrentar a corte marcial por causa do escândalo, deve se declarar culpado na próxima quarta.
O soldado cooperou com a Promotoria e, em troca, sofrerá acusações mais brandas do que outros seis indiciados. Além disso, suas declarações poupam o comando militar: "Nossos comandantes acabariam conosco [se soubessem da tortura]. Eles achavam que fazíamos a coisa certa".
O testemunho está em linha com o relatório do general Antonio Taguba, que afirmou não ter havido ordem direta para tortura, porém apontou falhas no comando. Mas os advogados de outros envolvidos no caso questionaram a credibilidade de Sivits por causa do acordo com a Promotoria.
O relato é o mais detalhado desde a divulgação das imagens de terror em Abu Ghraib. Em um dos episódios, Sivits disse que um prisioneiro que tinha ferimentos a bala nas pernas, algemado a uma cama, gritava "senhor, por favor, pare", enquanto o policial militar Charles Graner o espancava com um cassetete. Graner foi indiciado sob sete acusações -inclusive crueldade- e deve se apresentar à corte no dia 20, com os sargentos Ivan Frederick e Javal Davis.
"Eu ria de algumas coisas que eles faziam aos prisioneiros", depôs Sivits em janeiro. "Mas ficava enojado com algumas outras."
O recruta descreveu Graner como o "chefe do bando". Em um dos casos, o policial golpeou a cabeça de um prisioneiro com tanta força que ele desmaiou.
O sargento Davis teria jogado prisioneiros no chão, uns sobre os outros, e pisoteado seus dedos. Já Frederick teria forçado detentos nus, com a cabeça coberta por sacos de areia, a se masturbar. Sobre a recruta Lynndie England, que humilhou sexualmente detentos, Sivits disse apenas que ela "sorria em algumas fotos".
O advogado de Davis, Paul Bergin, chamou o depoimento de "inventado" e "auto-indulgente". Mas o próprio Davis, sob custódia em Bagdá, declarou por telefone à TV ABC que seus chefes lhe pediram para "amaciar" os detentos para o interrogatório.
Ontem, dentro de um programa para reduzir os cerca de 3.800 detentos de Abu Ghraib pela metade, 293 iraquianos foram soltos.


Com agências internacionais

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