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IRAQUE OCUPADO
Modo de interrogar presos viola tratados; militar diz que colegas "pareciam gostar" de maltratar prisioneiros
Defesa veta técnica aprovada por Rumsfeld
DA REDAÇÃO
Diante das conseqüências do
escândalo envolvendo tortura de
iraquianos, o Pentágono vai proibir o uso de técnicas de interrogatório defendidas nesta semana
pelo secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, que violam as Convenções de Genebra, sobre os direitos
dos prisioneiros de guerra.
Segundo fontes na Defesa que
pediram anonimato, técnicas como a supressão do sono e a manutenção de prisioneiros em posição
de estresse -que podiam ser usadas sob autorização do alto comando -serão banidas do protocolo. A decisão é do principal
comandante dos EUA no Iraque,
general Ricardo Sanchez.
Rumsfeld dissera que os dois
procedimentos haviam sido aprovados por advogados do Pentágono por condizerem com as convenções. Mas, um dia depois, dois
dos principais nomes da Defesa, o
subsecretário Paul Wolfowitz e o
general Peter Pace, disseram desconhecer seu uso pelas tropas.
Diversão
Transcrições do depoimento do
recruta Jeremy Sivits, 24, divulgadas ontem por jornais dos EUA,
dão conta de que os soldados
americanos "sorriam e pareciam
se divertir" ao espancar, despir e
humilhar sexualmente prisioneiros iraquianos. Sivits, o primeiro a
enfrentar a corte marcial por causa do escândalo, deve se declarar
culpado na próxima quarta.
O soldado cooperou com a Promotoria e, em troca, sofrerá acusações mais brandas do que outros seis indiciados. Além disso,
suas declarações poupam o comando militar: "Nossos comandantes acabariam conosco [se
soubessem da tortura]. Eles achavam que fazíamos a coisa certa".
O testemunho está em linha
com o relatório do general Antonio Taguba, que afirmou não ter
havido ordem direta para tortura,
porém apontou falhas no comando. Mas os advogados de outros
envolvidos no caso questionaram
a credibilidade de Sivits por causa
do acordo com a Promotoria.
O relato é o mais detalhado desde a divulgação das imagens de
terror em Abu Ghraib. Em um
dos episódios, Sivits disse que um
prisioneiro que tinha ferimentos a
bala nas pernas, algemado a uma
cama, gritava "senhor, por favor,
pare", enquanto o policial militar
Charles Graner o espancava com
um cassetete. Graner foi indiciado
sob sete acusações -inclusive
crueldade- e deve se apresentar
à corte no dia 20, com os sargentos Ivan Frederick e Javal Davis.
"Eu ria de algumas coisas que
eles faziam aos prisioneiros", depôs Sivits em janeiro. "Mas ficava
enojado com algumas outras."
O recruta descreveu Graner como o "chefe do bando". Em um
dos casos, o policial golpeou a cabeça de um prisioneiro com tanta
força que ele desmaiou.
O sargento Davis teria jogado
prisioneiros no chão, uns sobre os
outros, e pisoteado seus dedos. Já
Frederick teria forçado detentos
nus, com a cabeça coberta por sacos de areia, a se masturbar. Sobre
a recruta Lynndie England, que
humilhou sexualmente detentos,
Sivits disse apenas que ela "sorria
em algumas fotos".
O advogado de Davis, Paul Bergin, chamou o depoimento de
"inventado" e "auto-indulgente".
Mas o próprio Davis, sob custódia
em Bagdá, declarou por telefone à
TV ABC que seus chefes lhe pediram para "amaciar" os detentos
para o interrogatório.
Ontem, dentro de um programa
para reduzir os cerca de 3.800 detentos de Abu Ghraib pela metade, 293 iraquianos foram soltos.
Com agências internacionais
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