São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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RELIGIÃO

Em documento, Vaticano diz que há "experiências amargas" para a mulher ocidental em casamentos desse tipo

Igreja desaconselha união de católicas com muçulmanos

DA REDAÇÃO

Afirmando que as mulheres são "as menos protegidas da família muçulmana", um documento divulgado ontem pelo Vaticano aconselha as mulheres católicas a não se casar com homens que seguem o Alcorão.
Segundo o Vaticano, há "experiências amargas" de católicas ocidentais que se casaram com maridos muçulmanos, sobretudo casais que se uniram fora do mundo islâmico e mais tarde se mudaram para o país do marido.
Esses comentários, incluídos num documento sobre imigração mundial, foram precedidos por trechos que mostram pontos de convergência entre cristãos e muçulmanos, mas é provável que os "conselhos matrimoniais" de ontem alimentem a desconfiança mútua entre as duas maiores religiões do mundo.

"Preparação cuidadosa"
Quando uma católica quiser se casar com um muçulmano, diz o documento, "a amarga experiência nos ensina que é exigida uma preparação particularmente aprofundada e cuidadosa".
Um possível problema, diz o Vaticano, ocorre entre parentes muçulmanos e católicas gestantes, que devem insistir que crianças de casamento inter-religioso sejam criadas como católicas.
Se o casamento for registrado no consulado de um país muçulmano, aconselha o documento, o católico deve ter cuidado para não assinar um documento ou fazer uma promessa que inclua o shahada (a profissão da fé islâmica), o que seria considerado uma conversão.
O documento sobre imigração também sugere a proibição da utilização de locais de oração por não-cristãos.
O tema foi levantado na semana passada, quando muçulmanos na Espanha solicitaram permissão para rezar na catedral de Córdoba, que já foi uma mesquita.
O documento diz ainda que a Igreja Católica desaconselha casamentos entre fiéis de países católicos e imigrantes não-cristãos.

Conselhos
O Vaticano também afirmou esperar que os muçulmanos demonstrem "uma consciência crescente de que as liberdades fundamentais, os direitos invioláveis da pessoa, o princípio democrático de governo e o saudável caráter laico do Estado sejam princípios irrenunciáveis".
Apesar de o papa João Paulo 2º ter iniciado um canal de diálogo com muçulmanos e de ter sido elogiado no mundo árabe ao se opor com firmeza à Guerra do Iraque, líderes católicos têm expressado preocupações cada vez maiores sobre a expansão do islamismo e o desafio que isso representa à igreja.
O islamismo é atualmente a religião que mais cresce no mundo.
O principal teólogo do Vaticano e candidato a substituto de João Paulo 2º, Joseph Ratzinger, disse nesta semana que o Ocidente "deixou de amar a si mesmo" e por isso é incapaz de responder ao desafio do islã, que cresce por ter "maior energia espiritual".
Em maio de 2001, João Paulo 2º tornou-se o primeiro papa da história a entrar numa mesquita, em Damasco, a capital síria.


Com agências internacionais


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