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EUA
Mesmo mantendo suas posições, presidente se vê obrigado a fazer mais diplomacia e "falcões" deixam primeiro plano
Neocons perdem espaço no governo Bush
CORINE LESNES
DO "LE MONDE", EM WASHINGTON
Estarão os "falcões" em queda
nos Estados Unidos? Três meses
depois de iniciado o segundo
mandato do presidente Bush, o
ambiente em Washington mudou. Os representantes da direita
mais dura deixaram o governo
-promovidos e, ao mesmo tempo, calados ou mesmo deixados
de lado.
Paul Wolfowitz, o ideólogo, e
Douglas Feith, o "cérebro" da
Guerra no Iraque, deixaram seus
cargos, mas também o fizeram
outras figuras menos conhecidas,
como Ian Brzezinski, filho do assessor do ex-presidente Jimmy
Carter, um dos ditos "civis do
Pentágono" cuja saída não será lamentada por seus interlocutores
transatlânticos.
Quanto a John Bolton, o "adversário do multilateralismo", a confirmação de sua muito polêmica
nomeação como embaixador dos
EUA na ONU é objeto de uma disputa prolongada no Senado.
Mesmo que o plenário o aprove,
Bolton não teve seu nome recomendado pela Comissão de Relações Internacionais -após estudar a nomeação por semanas e
examinar milhares de documentos, o comitê decidiu por 10 votos
a 8, na última quinta-feira, não
chancelar a escolha.
O ambiente está mais "tradicional", segundo uma antiga diplomata, Avis Bohlen. "A realidade
obrigou o presidente a fazer diplomacia, mesmo que sem mudar
sua posição."
No Congresso, os republicanos
moderados teriam "despertado".
"Eles estão fartos de ouvir dizer
que as coisas estão melhorando
no Iraque, mas que é preciso
aprovar mais US$ 3 bilhões", afirma outro observador.
O secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, deixou de escrever memorandos sobre a experiência
"transformacional" que aguarda
o Exército no século 21 -ou, ao
menos, não deixa que eles vazem.
"Há menos apetite por aventuras", resume o diretor da equipe
democrata na Comissão de Relações Exteriores do Senado, Anthony Blinken. "O governo voltou
a se preocupar mais com as grandes potências, como a China e a
Rússia. Houve um retorno ao pré-11 de Setembro."
Pragmatismo
O poder, ou "a energia" , como
dizem os americanos, agora está
sobretudo com o Departamento
de Estado. À sua frente, Condoleezza Rice constituiu uma equipe
que fala com uma só voz -geralmente a sua.
A imprensa já se queixa da pouca divulgação de informações,
mas os diplomatas não deixam de
gostar de não mais ficarem suspensos, na dependência dos resultados dos enfrentamentos no
primeiro escalão, que sempre
aconteciam em plena luz.
Nem o número dois atual, Robert Zoellick, um dos signatários
do manifesto neocon sobre o Iraque, nem seus colegas, são "fanáticos pelo multilateralismo", nas
palavras de uma fonte familiarizada com o Departamento de Estado. Mas as aparências são mantidas. "Percebe-se o desejo de não
mais quebrar pratos a toda hora."
Condoleezza Rice não mede esforços para evitar que os desentendimentos venham à tona.
Ainda na semana passada, na
América Latina, ela não conseguiu organizar a "coalizão anti-Chávez" com a qual sonha o governo americano para refrear a
impulsividade do presidente da
Venezuela. Ela nem sequer conseguiu impor o candidato de sua
preferência para a presidência da
Organização dos Estados Americanos (OEA). Mas nada disso
transpareceu.
Sorriso aberto, apoio tardio ao
candidato preferido dos latinos, o
chileno José Miguel Insulza.
"Condi engole sapos com certo
talento", admira um diplomata.
A mesma moderação foi vista
com relação a Darfur. Os europeus queriam levar os criminosos
sudaneses à Corte Penal Internacional (CPI). Os americanos não
queriam legitimar o tribunal internacional. A negociação durou
semanas. Finalmente, a CPI ficará
a cargo de Darfur.
"É um exemplo de um tipo de
acordo conciliatório que não
agradava aos duros e que ela
(Condoleezza) impôs", disse uma
fonte familiarizada com o caso.
A secretária de Estado ousou
romper com "a política inflexível
decidida por Bolton", acrescentou o editorialista Jackson Diehl
no "The Washington Post" de 9
de maio.
É uma abordagem pragmática,
ele afirma, mas que significa
"uma diminuição da preeminência americana" e "concessões ocasionais em relação às prioridades
dos conservadores, como Cuba
ou a Corte Penal Internacional".
O teste do Irã
No tocante ao Irã e à Europa, os
neoconservadores também sofreram reveses.
A grande estratégia de contornar a União Européia por meio da
Otan perdeu força. Washington
optou também por apoiar a negociação dos europeus com relação
ao Irã.
Essas decisões são atribuídas
pessoalmente ao presidente Bush.
"Ele engrandeceu seu cargo",
constata o democrata Anthony
Blinken. "Está bem mais à vontade para tratar dessas questões."
Apesar disso, as "pombas" não
assumiram o poder em Washington. "Os "neocons" estão em ponto
morto, mas não houve marcha à
ré", resume Blinken.
Vários deles continuam a ocupar cargos-chaves, como o conselheiro de segurança nacional Stephen Hadley ou o antigo embaixador na Turquia, Eric Edelman,
próximo do vice-presidente Dick
Cheney , que tomou o lugar de
Douglas Feith no Pentágono.
O inamovível Eliott Abrams,
que há 20 anos foi questionado
sobre o Irangate (venda secreta de
armas ao Irã destinadas a financiar os combatentes anti-sandinistas na Nicarágua), hoje, no
Conselho de Segurança Nacional,
é o encarregado de facilitar a democratização do Oriente Médio.
Se Rumsfeld está "na surdina",
Dick Cheney, segundo os diplomatas, está "superpoderoso".
Paradoxalmente, os "neocons"
parecem estar em refluxo num
momento em que suas idéias se
difundem da Ucrânia ao Líbano.
"Suas teorias chegaram até o
Partido Democrata", chegou a
afirmar um observador.
Eles não acreditam num retorno ao pré-11 de Setembro, a uma
normalização. "Estamos de volta
ao 10 de setembro, à situação de
esperar que nossos inimigos nos
despertem de nosso torpor satisfeito", escreveu numa tribuna, no
início deste mês, Michael Ledeen,
líder dos partidários da linha dura
com relação ao Irã.
A impressão que se tem é que os
neoconservadores estão roendo
os freios que os detêm. É o caso de
Bill Kristol, um de seus líderes, para quem George W. Bush está perdendo tempo com a reforma da
previdência, sendo que sua missão está longe de concluída. "O
presidente ainda tem muito o que
fazer para o Oriente Médio e para
o mundo em geral nos próximos
três anos e meio", escreveu Kristol
no "The Weekly Standard".
Aguarda-se a hora da verdade
na questão do Irã. Na última semana, a Alemanha, a França e o
Reino Unido enviaram uma carta
a Teerã usando termos duros e
ameaçando levar o problema ao
Conselho de Segurança da ONU
caso o país não abra mão de seu
programa nuclear. Washington
endossou.
"Estamos nos aproximando de
um bloqueio", explica Anthony
Blinken. "Alguns democratas dirão que precisamos ser mais concretos com relação ao que podemos oferecer ao Irã. Outros preferem pedir aos europeus que nos
acompanhem."
No outro campo, a constatação
é a mesma. "Está se preparando
uma crise em torno do Irã",diz
um neoconservador. "Será preciso que os europeus decidam se
preferem atribuir a culpa ao Irã
ou a nós, os EUA."
Os neoconservadores estão
convencidos de que, com relação
a esse ponto, Condoleezza Rice
está de seu lado.
Tradução de Clara Allain
Com agências internacionais
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