São Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

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Hamas reprime a 'revolução' palestina

Movimento islâmico mantém política de tolerância zero a opositores, mas já surgem bandeiras do rival Fatah

Reconciliação entre as facções enfrenta clima de ceticismo; analistasa atribuem a estratégia para obter um Estado

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL À FAIXA DE GAZA

Os palestinos não ficaram imunes ao terremoto político provocado pelas revoltas no mundo árabe, mas sua intricada realidade tem confinado o movimento, por enquanto, aos gabinetes.
Nas ruas de Gaza, onde nasceu um movimento jovem inspirado nas revoluções da Tunísia e do Egito, manifestações são reprimidas pelo Hamas, o grupo islâmico que tomou o controle do território há quatro anos.
Além disso, há um ceticismo generalizado sobre as chances do acordo de reconciliação firmado pelas principais facções palestinas, o Hamas e o secular Fatah.
Considerado resultado direto da turbulência regional, o acordo é visto pela maioria muito mais como um casamento de conveniência entre rivais em apuros do que uma estratégia de longo prazo.
Em Gaza, os ventos de mudança que varrem o mundo árabe encontraram um muro de resistência no Hamas. O grupo islâmico mantém uma política de tolerância zero a opositores desde que assumiu o controle do território, em 2007, após expulsar o rival Fatah.
"Nos acusaram de ser traidores, colaboradores de Israel, agentes estrangeiros", diz a estudante de letras Ebaa Rezeq, 21, uma das líderes do movimento jovem 15 de Março, reprimido com violência quando foi às ruas.
Embora não esconda sua aversão pessoal ao Hamas, Ebaa diz que o movimento não tem o objetivo de derrubar o regime, como nos países vizinhos, e sim de acabar com a divisão entre os palestinos e pavimentar a criação de uma frente única contra a ocupação israelense.
Nos últimos dias, as bandeiras amarelas do Fatah reapareceram em Gaza, após quatro anos na lista de artigos proibidos pelo Hamas.
"Não estou dando conta das encomendas", diz Tareq Abu Dayyeh, dono da única loja de suvenires de Gaza. Para atender à inesperada demanda, ele contratou costureiras e está produzindo as bandeiras em casa.
O amarelo está de volta a Gaza, mas o abismo entre Fatah e Hamas continua enorme. Enquanto o primeiro mantém a colaboração com Israel na Cisjordânia, o território que administra parcialmente, o Hamas mantém a resistência a Israel como único meio de atingir a meta de um Estado palestino.
Além disso, as feridas da guerra civil de 2007, que deixou mais de cem mortos e obrigou o Fatah a uma saída humilhante de Gaza, continuam abertas.
"Com ou sem reconciliação, o desejo de vingança permanece. Quem teve um parente ou amigo morto pelo Hamas não vai esquecer nem perdoar", diz o vendedor Fadi, simpatizante do Fatah.
Analistas dizem que o acordo entre Fatah e Hamas foi fruto de pressões externas e internas causadas pelas revoltas árabes, mas também da encruzilhada em que os dois grupos se encontram.
Yehia Rabah, deputado do Fatah em Gaza detido várias vezes nos últimos anos, diz que o plano do grupo de declarar o Estado palestino na ONU em setembro foi crucial.
"Seria desmoralizante para Mahmoud Abbas [presidente palestino] ir à ONU com os palestinos divididos", observa Rabah.
Político da velha guarda do movimento fundado por Yasser Arafat, Rabah diz que a pressão dos jovens em Gaza foi um dos fatores que levaram Fatah e Hamas a se unir. "É sangue novo, justamente o que precisamos", conclui.


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