São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil deu equipamento para Operação Condor

MARCELO SOARES
DA REDAÇÃO

O Brasil participou da Operação Condor, depois de 1976, fornecendo equipamento para troca de informações sigilosas entre os chefes da operação nos cinco países-membros. Os equipamentos brasileiros foram desenvolvidos por acadêmicos contratados pelo Ministério das Relações Exteriores, liderados pelo físico Ademar Aragão.
"O Itamaraty ofereceu o dobro do que eu ganhava como professor da Universidade de Brasília para que eu me dedicasse exclusivamente ao projeto", conta Aragão, 53, atualmente dono de uma empresa de informática em São Paulo.
Com o nome de Prólogo, o projeto foi financiado com verbas secretas do Itamaraty e do SNI (Serviço Nacional de Informações) para desenvolver um aparelho que cifrasse mensagens de telex. A técnica, chamada criptografia, "embaralha" mensagens, usando padrões matemáticos, para tentar impedir a leitura se interceptadas.
Naquela época, somente EUA e Suíça tinham essa tecnologia no bloco ocidental. Era possível importar aparelhos da Suíça, mas em versões limitadas. Até hoje, os EUA consideram a criptografia uma espécie de "arma" e controlam sua venda.
Um documento de 1976 liberado pelos EUA revela que o Brasil havia desistido de participar da captura de exilados na Europa e se limitaria a fornecer o equipamento de comunicações para a Operação Condor. O sistema seria chamado de "Condortel".
Uma mensagem de 1978 revela que a Condor usava aparelhos criptográficos ligados numa linha de comunicações do Exército americano, partindo do Panamá. Lá, funcionava a Escola das Américas, patrocinada pelos EUA e que formou diversos oficiais latino-americanos ativos na perseguição, tortura e eliminação de opositores do regime nos anos 70.

Laboratório no cofre
O projeto Prólogo começou em 1975, dentro de uma espécie de cofre com 15 cm de espessura, no Ministério das Relações Exteriores. "O pessoal estranhava menos o fato de trabalharmos dentro de um cofre do que o de ganharmos mais do que um ministro", afirma Aragão.
O trabalho dele era só de pesquisa. Por isso, diz que não sabe como o governo utilizava o equipamento que projetou.
"Com certeza foi utilizado. Não fazia sentido fazer segredo com um equipamento de fora -que podia ser um cavalo de Tróia- tendo um nacional", diz Aragão.
"O SNI e o Itamaraty tinham autonomia para decidir onde e como usar esses equipamentos. Tinham condições e treinamento para instalar e usar em qualquer parte do mundo", afirma.
Para desenvolver o equipamento, o governo chegou a contrabandear computadores dos EUA, tentando evitar que o governo americano descobrisse o projeto. Mas um relatório da CIA de 1976 indica que esse esforço foi inútil.


Texto Anterior: Saiba mais: Operação Condor "uniu" repressão sul-americana
Próximo Texto: Manifestação: Protestos contra Bush na Suécia reúnem milhares
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.