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Brasil deu equipamento para Operação Condor
MARCELO SOARES
DA REDAÇÃO
O Brasil participou da Operação
Condor, depois de 1976, fornecendo equipamento para troca de
informações sigilosas entre os
chefes da operação nos cinco países-membros. Os equipamentos
brasileiros foram desenvolvidos
por acadêmicos contratados pelo
Ministério das Relações Exteriores, liderados pelo físico Ademar
Aragão.
"O Itamaraty ofereceu o dobro
do que eu ganhava como professor da Universidade de Brasília
para que eu me dedicasse exclusivamente ao projeto", conta Aragão, 53, atualmente dono de uma
empresa de informática em São
Paulo.
Com o nome de Prólogo, o projeto foi financiado com verbas secretas do Itamaraty e do SNI (Serviço Nacional de Informações)
para desenvolver um aparelho
que cifrasse mensagens de telex. A
técnica, chamada criptografia,
"embaralha" mensagens, usando
padrões matemáticos, para tentar
impedir a leitura se interceptadas.
Naquela época, somente EUA e
Suíça tinham essa tecnologia no
bloco ocidental. Era possível importar aparelhos da Suíça, mas
em versões limitadas. Até hoje, os
EUA consideram a criptografia
uma espécie de "arma" e controlam sua venda.
Um documento de 1976 liberado pelos EUA revela que o Brasil
havia desistido de participar da
captura de exilados na Europa e se
limitaria a fornecer o equipamento de comunicações para a Operação Condor. O sistema seria chamado de "Condortel".
Uma mensagem de 1978 revela
que a Condor usava aparelhos
criptográficos ligados numa linha
de comunicações do Exército
americano, partindo do Panamá.
Lá, funcionava a Escola das Américas, patrocinada pelos EUA e
que formou diversos oficiais latino-americanos ativos na perseguição, tortura e eliminação de
opositores do regime nos anos 70.
Laboratório no cofre
O projeto Prólogo começou em
1975, dentro de uma espécie de
cofre com 15 cm de espessura, no
Ministério das Relações Exteriores. "O pessoal estranhava menos
o fato de trabalharmos dentro de
um cofre do que o de ganharmos
mais do que um ministro", afirma
Aragão.
O trabalho dele era só de pesquisa. Por isso, diz que não sabe
como o governo utilizava o equipamento que projetou.
"Com certeza foi utilizado. Não
fazia sentido fazer segredo com
um equipamento de fora -que
podia ser um cavalo de Tróia-
tendo um nacional", diz Aragão.
"O SNI e o Itamaraty tinham
autonomia para decidir onde e
como usar esses equipamentos.
Tinham condições e treinamento
para instalar e usar em qualquer
parte do mundo", afirma.
Para desenvolver o equipamento, o governo chegou a contrabandear computadores dos EUA,
tentando evitar que o governo
americano descobrisse o projeto.
Mas um relatório da CIA de 1976
indica que esse esforço foi inútil.
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