São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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Ação contra o terror consolida tendência de aumento das despesas com defesa após anos de cortes

Gasto militar mundial sobe pelo terceiro ano seguido

DA REDAÇÃO

Os atentados de 11 de setembro devem se refletir num aumento contínuo nos gastos militares do mundo, mudando definitivamente uma tendência de diminuição que ocorreu de 1987 a 1998, segundo o relatório anual do Sipri (Instituto Internacional de Estudos pela Paz de Estocolmo), uma das mais respeitadas instituições de pesquisa do mundo.
Usando um termo do "economês", poderíamos dizer que os gastos estão com um "viés de alta", uma tendência de aumento. Em 2001, foram mais 2% nos gastos mundiais em defesa, chegando a um total de US$ 839 bilhões.
Essa quantia é equivalente a 2,6% do PIB mundial e representa um gasto de cerca de US$ 136 por habitante/ano. Apesar disso, o instituto lembra que o incremento de 2% é inferior aos aumentos de 1999 e de 2000.
Esses anos de crescimento contrastam com a contínua redução ocorrida de 1987 a 1998, período em que os gastos da Otan (aliança militar ocidental liderada pelos EUA), por exemplo, caíram 40%. Segundo o Sipri, os atentados de 11 de setembro marcam uma mudança radical nessa tendência.
O relatório indica também algumas novidades: a Rússia desbancou os Estados Unidos como o principal exportador de armas, e a China tirou de Taiwan o título de principal importador.
A recuperação econômica russa levou sua indústria armamentista a aumentar suas vendas em 24%. Atrás de Rússia e EUA, seguem, a grande distância, França, Reino Unido e Alemanha.
Na lista dos importadores, a China demonstrou uma escalada ainda mais impressionante em suas compras: 44% de crescimento em relação a 2000. Com isso, o país supera Taiwan e deixa para trás também Índia, Grécia, Paquistão, Egito e Turquia.
Os cinco países que atualmente têm os maiores orçamentos militares são EUA, Rússia, França, Japão e Reino Unido. A conjunção dos gastos desses cinco representa pouco mais da metade de toda a despesa mundial no setor, ou seja, passa dos US$ 400 bilhões.
Porém a principal conclusão do instituto sueco foi a de que as mudanças no conceito de segurança devem alavancar os gastos com defesa. As grandes potências têm agora o combate ao terrorismo como prioridade máxima.
O Sipri assinala também que há uma tendência cada vez maior nos EUA ao unilateralismo, graças a uma posição sem precedentes de liderança militar, econômica e tecnológica.
Os americanos são responsáveis, sozinhos, por 36% de todos os gastos militares do planeta.
Isso acaba também se refletindo no poderio espacial: Washington tem cerca de 110 satélites militares ativos, enquanto a Rússia tem cerca de 40 e outros países diversos têm cerca de 20.
Para o instituto, essa supremacia poderia dar lugar a uma "desestabilizadora corrida armamentista espacial".

Conflitos em curso
Mesmo com o fim da guerra em Serra Leoa e do confronto entre a Etiópia e a Eritréia, os suecos ainda identificam conflitos armados ativos em ao menos 22 países, alguns deles com mais de uma ocorrência. A Índia, por exemplo, enfrenta conflitos em Assam, na separatista Caxemira e em sua rivalidade com o vizinho Paquistão (muitas vezes por causa da própria Caxemira).
O próprio Paquistão se encontra envolvido nas lutas travadas no Afeganistão e na Caxemira.
A Ásia Central ganhou maior importância depois dos atentados ao Pentágono e ao World Trade Center. Os ataques de 11 de setembro também levaram os EUA a integrar a lista de conflitos.
A Rússia também foi relacionada por causa dos atritos na Tchetchênia, uma república do Cáucaso que apresenta um movimento de guerrilha separatista.


Com o "El País"


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