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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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Governo de Obasanjo enfrenta dilema ao permitir uso da sharia

DO ENVIADO A ABUJA

Para o governo da Nigéria, seria melhor que o caso de Amina Lawal fosse resolvido dentro das cortes muçulmanas. Isso porque uma intervenção federal acentuaria ainda mais as desavenças entre muçulmanos, no norte do país, e cristãos, no sul. Nos últimos meses, choques entre os dois grupos produziram mais de 3.000 mortos.
Se o recurso da advogada Hauwa Ibrahim não funcionar, a decisão de executar ou não a mulher pode acabar nas mãos do presidente Olusegun Obasanjo, e isso é tudo o que ele não deseja.
Com medo de implodir a frágil federação nigeriana, dificilmente o presidente interferiria nos Estados do norte, que devem continuar aplicando a sharia -embora a adoção da lei islâmica contrarie a legislação nigeriana e o caráter secular do país, garantido pela Constituição.

Risco político
Além disso, embora o presidente tenha afirmado repetidas vezes - principalmente para o público estrangeiro- que muitos pontos da sharia são inconstitucionais e que seu país vai respeitar os direitos humanos dos acusados, uma ação contra a aplicação da lei islâmica poderia sepultar a carreira política de Obasanjo, que se vê diante de um dilema.
Eleito em 1999, no pleito que acabou com o regime militar no país, o atual presidente é cristão. Para chegar ao poder, no entanto, contou com forte apoio dos muçulmanos, que formam 50% da população do país. "É claro que existe um componente político em todo o processo", afirma Hauwa Ibrahim, advogada de Amina.
Enquanto espera por uma solução doméstica, Obasanjo investe na reaproximação da Nigéria, um dos maiores exportadores de petróleo no mundo, com as potências ocidentais. (PC)

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