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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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CASA BRANCA

Porta-voz de Bush diz que "há mais pessoas acenando com todos seus dedos do que com apenas um" ao presidente

Apesar das fãs, Ari Fleischer se despede

MICHAEL CROWLEY
DO "NEW YORK TIMES"

Encarregado de repassar informações à imprensa, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, 42, virou notícia no mês passado, ao anunciar sua saída do governo do presidente George W. Bush até julho, após tê-lo acompanhado por quatro anos, desde os tempos em que Bush governava o Texas.
Com fama de durão entre os jornalistas de Washington e dono de uma careca lustrosa, Fleischer deixará saudades a uma legião de fãs, responsável pela criação de diversos sites em sua homenagem -fenômeno que, segundo ele, mostra que "a nossa cultura anda mal das pernas".
Leia, a seguir, entrevista concedida ao "New York Times".

Pergunta - A maioria das pessoas folheia um jornal durante o café da manhã, talvez, e passa os olhos por alguns sites no trabalho. Mas o sr., como secretário de imprensa do presidente, quanta mídia precisa consumir antes de chegar a sua mesa de trabalho?
Ari Fleischer -
Essa é uma das razões pelas quais estou deixando esse emprego: minhas mãos ficam sujas demais de tinta. Acordo às 5h e recebo o ""New York Times" e o ""Washington Post" em casa. Às 7h15 tenho a primeira reunião do dia. Dividimos os jornais principais entre nós e recebo um briefing sobre o que estão dizendo os outros. Mais tarde, na manhã, leio um serviço gigantesco de clipping. Se eu não tiver assistido a algum jornal das grandes redes, lemos transcrições dos jornais de cada uma das emissoras. Tenho quatro TVs no meu escritório.

Pergunta - Se fizessem ""The West Wing" mais semelhante à Casa Branca de Bush, quem poderia fazer o seu papel?
Fleischer -
Bem, eu teria dito Telly Savalas, mas ele não pode mais. Seja quem for, terá de ser alguém que não tem cabelo. Isso é só para você ver como eu estou culturalmente alienado.

Pergunta - No entanto o sr. já virou uma espécie de ícone cultural. Há fãs-clubes Ari Fleischer criados por mulheres, há sites dedicados ao sr. e assim por diante.
Fleischer -
Isso só vem comprovar que nossa cultura anda mal das pernas.

Pergunta - E o que o sr. pensa a esse respeito?
Fleischer -
Não sei. Eu não saio muito. Vou sair um dia destes, e não vejo a hora. Nas poucas ocasiões em que pude me afastar do trabalho, é bizarro e lisonjeiro quando as pessoas vêm me cumprimentar. Acho que é testemunho à popularidade do presidente o fato de que há mais pessoas acenando com todos seus dedos do que com apenas um.

Pergunta - E isso acontece com frequência? As pessoas que odeiam Bush descontam sua raiva no sr.?
Fleischer -
Não, as pessoas têm sido gentis. No início da administração, nos primeiros meses do governo, houve um sujeito que chegou em mim depois de um concerto de música no Wolf Trap e disse: ""Seu chefe é um canalha".

Pergunta - O que o sr. faz em situações como essa?
Fleischer -
Na realidade, o que eu disse ao cara foi: ""Não sabia que trabalhava para você". E segui andando. Isso foi no início de 2001. Acho que foi a última vez que aconteceu alguma coisa do tipo.

Pergunta - Bem, apesar do estresse, você tem conseguido se manter calmo e sorridente a maior parte do tempo. Qual é o segredo para não perder a calma?
Fleischer -
Sou paciente. Vejo meu trabalho como uma partida de xadrez intelectual. Se eu disser isto, eles dirão aquilo; eu vou ter de responder com aquilo outro, mas eles reagirão com mais aquilo lá. É preciso sempre pensar três ou quatro sentenças à frente, porque é assim que as coisas funcionam com a imprensa. E os próprios jornalistas são ótimos jogadores de xadrez intelectual.

Pergunta - O sr. se imagina dizendo a seus filhos que se recusa a levar em conta uma pergunta hipotética sobre a hora de dormir?
Fleischer -
Não. Veja bem, isso é meu trabalho. Tenho uma vida real fora dele, e essa é uma das razões pelas quais estou disposto a deixar esse trabalho. Acredito na vida real.


Tradução de Clara Allain

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