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JUSTIÇA
Relatório anual acusa os brasileiros de leniência, mas elogia esforço para atingir padrão mínimo de controle desse crime
Brasil não pune tráfico humano, dizem EUA
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O Departamento de Estado
americano acusou ontem o Brasil
de ser leniente com os criminosos
envolvidos com o tráfico de pessoas no país e para outros "mercados" da América Latina, da Europa e da América do Norte.
Em seu "Relatório sobre Tráfico
de Pessoas - 2004", o órgão afirma
que o Brasil "não atende aos padrões mínimos para a eliminação
do tráfico humano" e diz que
"traficantes no país raramente
são presos ou punidos por seus
crimes".
Os EUA produzem esses relatórios há quatro anos, por exigência
do Congresso dos EUA. O documento divulgado ontem avaliou a
situação de 140 países em 2003.
Dez países, incluindo Venezuela, Cuba e Equador, foram colocados na categoria mais baixa (chamada "Tier 3") e agora são passíveis de sanções da parte dos EUA.
A punição pode incluir o corte de
toda a ajuda econômica não relacionada a comércio e programas
humanitários.
O Brasil, na categoria "Tier 2",
está, segundo o relatório, ""promovendo esforços significativos
para atingir os padrões" de controle do tráfico de pessoas.
O relatório cita uma série de
medidas e campanhas contra o
trabalho infantil e o turismo sexual no Brasil, mas é taxativo ao
afirmar que não há punição aos
criminosos envolvidos com a atividade.
O tráfico de pessoas é, segundo
a ONU, a terceira atividade mais
rentável no mundo do crime organizado, atrás apenas do tráfico
de drogas e do de armas.
O relatório estima que 75 mil
mulheres e adolescentes brasileiras, "muitas delas vítimas do tráfico humano", atuem em redes de
prostituição na Europa. Outras
5.000 estão em países da América
Latina.
Muitas das brasileiras, assim como as colombianas, são enviadas
à Europa via Venezuela, onde não
há, segundo o documento, leis ou
força policial especializada em
inibir o tráfico de pessoas.
O relatório estima também que
cerca de 25 mil brasileiros -geralmente recrutados em grandes
cidades- sejam vítimas de trabalhos forçados no campo. Segundo
o órgão, o Brasil é também o destino de "escravos importados" da
China e da Bolívia.
"Apesar dos progressos nas leis
brasileiras, o país ainda precisa
produzir condenações de criminosos. Todos os esforços estão incompletos sem a aplicação mais
dura da lei", diz o documento.
"O presidente Lula declarou em
diversas ocasiões que o combate
ao tráfico [humano] é uma prioridade nacional, mas muito ainda
precisa ser feito."
O relatório afirma que entre 50 e
100 traficantes de trabalhadores
escravos foram processados em
2003 no Brasil. "Muitos desses
processos não chegaram a nenhuma conclusão. Somente alguns
acusados foram condenados, mas
todos ainda continuam em liberdade", diz o documento.
O Departamento de Estado
também criticou a estrutura que o
Brasil mantém fora do país para
auxiliar vítimas do tráfico internacional de pessoas. "O governo
[brasileiro] falhou no desenvolvimento de uma política agressiva
para ajudar essas vítimas, muitas
delas associadas à exploração sexual."
Em números gerais, o relatório
afirma que entre 600 mil e 800 mil
homens, mulheres e crianças são
traficados internacionalmente todos os anos -e os números vêm
aumentando anualmente. Cerca
de 80% das vítimas são mulheres,
e 70% delas acabam usadas em
atividades ligadas à prostituição.
Na apresentação do relatório, o
secretário de Estado americano,
Colin Powell, chegou a associar o
combate ao tráfico de pessoas à
guerra dos EUA contra o terror.
Sem explicitar quais seriam os
mecanismos utilizados, Powell
afirmou que as redes de tráfico
humano podem acabar financiando organizações terroristas
internacionais.
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