São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2007

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Corpo de brasileiro desaparecido no Iraque é devolvido

João José Vasconcellos Jr. sumiu em 19 de janeiro de 2005; seu comboio sofreu emboscada no norte do país

Não há informação sobre circunstâncias em que o corpo chegou; atestado de óbito foi lavrado no último dia 11, após exame de DNA

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quase dois anos e meio após seu desaparecimento no Iraque, foi reconhecida oficialmente a morte do engenheiro brasileiro João José Vasconcellos Junior, 49. A Folha apurou que os restos mortais de Vasconcellos foram entregues há dez dias -não se sabe por quem e nem como- a um quartel do Exército americano em Bagdá.
Vasconcellos estava desaparecido desde 19 de janeiro de 2005, quando o comboio em que estava sofreu um ataque no norte do Iraque (leia texto nesta página).
Ainda segundo apuração da Folha, foi o próprio Exército americano que transferiu os restos mortais para o Kuait, onde foram feitos os exames de DNA para a confirmação de identidade. A repatriação aconteceu por meio da embaixada brasileira no país.
O Itamaraty, em sua nota oficial, não detalhou como o corpo foi encontrado. "Desde o desaparecimento do cidadão brasileiro, foram realizados inúmeros contatos, inclusive no mais alto nível, junto a governos estrangeiros e entidades não-governamentais", diz a nota. A Construtora Odebrecht, para qual Vasconcellos trabalhava, tampouco divulgou detalhes.
O corpo chegou ao Brasil ontem no aeroporto de Guarulhos, São Paulo, a bordo de um avião comercial, segundo o Ministério das Relações Exteriores. O enterro será hoje, às 16h, no cemitério Parque da Saudade, em Juiz de Fora (MG), terra natal do engenheiro.
"Personalidades políticas, esportivas e religiosas fizeram apelos humanitários, e familiares do engenheiro gravaram mensagens, veiculadas na imprensa escrita e em cadeias de televisão dos países árabes", diz o comunicado do Itamaraty.

Resgate
Desde o ano passado, o governo brasileiro tratava o suposto seqüestro de Vasconcellos Jr. como praticamente insolúvel, não só pelo longo período sem a confirmação de que pudesse estar vivo como também pelas confusas e contraditórias informações recebidas.
A Folha apurou que o governo brasileiro recebeu a informação da existência de um pedido de resgate de US$ 100 mil. A Odebrecht teria se comprometido a pagá-lo, mas a operação não teria se concretizado.
A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) auxiliou nas buscas pelo engenheiro e nos contatos com outros serviços de inteligência no Oriente Médio. Chegou a ser informada de que Vasconcellos teria sido morto dois dias após a captura, com tiros no abdômen e no braço.
O engenheiro estava a caminho de uma hidrelétrica em que trabalhava para a Odebrecht quando o comboio em que estava foi atacado. O grupo Esquadrões al Mujahidin reivindicou o seqüestro -mas logo as notícias escassearam.
A partir de Amã (Jordânia), a Embaixada do Brasil no Iraque fez contatos com diversos grupos políticos para tentar localizar o corpo do engenheiro. Também foram contatados governos de outros países, e o auxílio do italiano foi visto como importante, segundo apuração.
Desde fevereiro deste ano, as informações obtidas pelo governo brasileiro indicavam que seria possível encontrar os restos mortais do engenheiro.
As notícias recebidas pela família dão conta de que militares americanos e britânicos no Iraque foram a um local indicado, há cerca de uma semana, e localizaram os restos mortais do brasileiro. Confirmada a identidade, no dia 11 deste mês foi lavrado o atestado de óbito.
Não há informações, diz a família, sobre o estado em que o corpo estava. Segundo a irmã do engenheiro, Isabel Vasconcellos El-Khouri, o documento cita "ferimentos diversos".
Isabel e Karla Vasconcellos, irmãs do engenheiro, evitaram ontem criticar a atuação do governo brasileiro. "Durante todo esse período, o governo trabalhou em conjunto com ONGs e os países", disse Karla.
A Odebrecht afirmou que "todas as iniciativas possíveis foram tomadas, com a cautela e a discrição necessárias, tendo em conta a natureza sensível do caso na tentativa de libertação de Vasconcellos Jr".
Em comunicado, a construtora lamentou "profundamente o triste desfecho do desaparecimento do nosso querido colega João Vasconcellos". "Todos aqueles que conviveram com o João, ao longo dos mais de 20 anos em que ele trabalhou conosco, aprenderam a admirá-lo e a desfrutar do seu agradável convívio", assinala.
Já o presidente Lula emitiu nota de solidariedade à família: "Depois de todo esse período de sofrimento, meus votos são de paz para todos os familiares e amigos de João José".


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