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Corpo de brasileiro desaparecido no Iraque é devolvido
João José Vasconcellos Jr. sumiu em 19 de janeiro de 2005; seu comboio sofreu emboscada no norte do país
Não há informação sobre circunstâncias em que o corpo chegou; atestado de óbito foi lavrado no último dia 11, após exame de DNA
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quase dois anos e meio após
seu desaparecimento no Iraque, foi reconhecida oficialmente a morte do engenheiro
brasileiro João José Vasconcellos Junior, 49. A Folha apurou
que os restos mortais de Vasconcellos foram entregues há
dez dias -não se sabe por
quem e nem como- a um
quartel do Exército americano
em Bagdá.
Vasconcellos estava desaparecido desde 19 de janeiro de
2005, quando o comboio em
que estava sofreu um ataque no
norte do Iraque (leia texto nesta página).
Ainda segundo apuração da
Folha, foi o próprio Exército
americano que transferiu os
restos mortais para o Kuait, onde foram feitos os exames de
DNA para a confirmação de
identidade. A repatriação aconteceu por meio da embaixada
brasileira no país.
O Itamaraty, em sua nota oficial, não detalhou como o corpo
foi encontrado. "Desde o desaparecimento do cidadão brasileiro, foram realizados inúmeros contatos, inclusive no mais
alto nível, junto a governos estrangeiros e entidades não-governamentais", diz a nota. A
Construtora Odebrecht, para
qual Vasconcellos trabalhava,
tampouco divulgou detalhes.
O corpo chegou ao Brasil ontem no aeroporto de Guarulhos, São Paulo, a bordo de um
avião comercial, segundo o Ministério das Relações Exteriores. O enterro será hoje, às 16h,
no cemitério Parque da Saudade, em Juiz de Fora (MG), terra
natal do engenheiro.
"Personalidades políticas, esportivas e religiosas fizeram
apelos humanitários, e familiares do engenheiro gravaram
mensagens, veiculadas na imprensa escrita e em cadeias de
televisão dos países árabes", diz
o comunicado do Itamaraty.
Resgate
Desde o ano passado, o governo brasileiro tratava o suposto seqüestro de Vasconcellos Jr. como praticamente insolúvel, não só pelo longo período sem a confirmação de que
pudesse estar vivo como também pelas confusas e contraditórias informações recebidas.
A Folha apurou que o governo brasileiro recebeu a informação da existência de um pedido de resgate de US$ 100 mil.
A Odebrecht teria se comprometido a pagá-lo, mas a operação não teria se concretizado.
A Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) auxiliou nas buscas pelo engenheiro e nos contatos com outros serviços de
inteligência no Oriente Médio.
Chegou a ser informada de que
Vasconcellos teria sido morto
dois dias após a captura, com
tiros no abdômen e no braço.
O engenheiro estava a caminho de uma hidrelétrica em
que trabalhava para a Odebrecht quando o comboio em
que estava foi atacado. O grupo
Esquadrões al Mujahidin reivindicou o seqüestro -mas logo as notícias escassearam.
A partir de Amã (Jordânia), a
Embaixada do Brasil no Iraque
fez contatos com diversos grupos políticos para tentar localizar o corpo do engenheiro.
Também foram contatados governos de outros países, e o auxílio do italiano foi visto como
importante, segundo apuração.
Desde fevereiro deste ano, as
informações obtidas pelo governo brasileiro indicavam que
seria possível encontrar os restos mortais do engenheiro.
As notícias recebidas pela família dão conta de que militares americanos e britânicos no
Iraque foram a um local indicado, há cerca de uma semana, e
localizaram os restos mortais
do brasileiro. Confirmada a
identidade, no dia 11 deste mês
foi lavrado o atestado de óbito.
Não há informações, diz a família, sobre o estado em que o
corpo estava. Segundo a irmã
do engenheiro, Isabel Vasconcellos El-Khouri, o documento
cita "ferimentos diversos".
Isabel e Karla Vasconcellos,
irmãs do engenheiro, evitaram
ontem criticar a atuação do governo brasileiro. "Durante todo esse período, o governo trabalhou em conjunto com
ONGs e os países", disse Karla.
A Odebrecht afirmou que
"todas as iniciativas possíveis
foram tomadas, com a cautela e
a discrição necessárias, tendo
em conta a natureza sensível
do caso na tentativa de libertação de Vasconcellos Jr".
Em comunicado, a construtora lamentou "profundamente o triste desfecho do desaparecimento do nosso querido
colega João Vasconcellos".
"Todos aqueles que conviveram com o João, ao longo dos
mais de 20 anos em que ele trabalhou conosco, aprenderam a
admirá-lo e a desfrutar do seu
agradável convívio", assinala.
Já o presidente Lula emitiu
nota de solidariedade à família:
"Depois de todo esse período
de sofrimento, meus votos são
de paz para todos os familiares
e amigos de João José".
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