São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / ECOS DO PASSADO

Obama busca economista de Clinton

Senador indica Jason Furman, que trabalhou em equipe de ex-presidente, para área econômica da campanha

Líderes sindicais afirmam temer que as políticas do candidato favoreçam as grandes empresas em vez de privilegiar funcionários


LOUIS UCHITELLE
DO "NEW YORK TIMES"

Agindo com rapidez depois de garantir a candidatura de democrata, o senador Barack Obama escolheu um conhecido representante da equipe de economia de Bill Clinton como diretor de política econômica de sua campanha e sinalizou que importantes membros da equipe econômica do ex-presidente agora estão ao seu lado -a começar por Robert Rubin.
Obama apontou Jason Furman, economista formado pela Universidade Harvard e estreitamente associado a Rubin, um veterano de Wall Street que foi secretário do Tesouro no governo Clinton, para o comando de sua equipe econômica. Líderes sindicais criticaram a indicação e disseram que a política econômica de Rubin se concentrava demais nas necessidades das empresas dos EUA e desconsiderava os trabalhadores.
"Há anos temos expressado nossa profunda preocupação com a influência empresarial sobre o Partido Democrata", disse John Sweeney, presidente da central sindical AFL-CIO.
A campanha de Obama descreveu Furman, 37, como um operador experiente em campanhas eleitorais democratas, cuja principal missão seria servir como canal de consulta a economistas variados.
O Partido Democrata muitas vezes encontra dificuldades para equilibrar as demandas conflitantes das empresas e dos sindicatos, e a indicação de Furman causou certo alarme quanto à possibilidade de que Obama esteja começando a favorecer o lado das empresas.
Rubin alegou que suas opiniões em termos gerais se assemelham à linha econômica que Obama já definiu.
Furman, que trabalhou como assessor na campanha presidencial do democrata John Kerry em 2004, foi convidado para o seu novo posto repentinamente, na segunda-feira. Até a sexta anterior, ele era diretor do Projeto Hamilton, uma organização de pesquisa fundada por Rubin, que hoje trabalha como presidente do conselho do Citigroup. Rubin e outros democratas endinheirados financiam o Projeto Hamilton.
Uma preocupação especial dos sindicatos é a abordagem de Hamilton com relação ao comércio internacional. Enquanto os sindicalistas desejam a imposição de restrições que preservariam empregos, Rubin e sua ala desejam o livre comércio, o que poderia custar mais empregos, um efeito que ele crê poder ser compensado por uma rede de segurança mais ampla, com mais assistência financeira e mais treinamento profissional aos desempregados.
Obama fala em acordos comerciais "justos", que incluam padrões trabalhistas e ambientais, uma posição que fica bem aquém do ideal de Sweeney.

Gastar ou poupar?
Os dois campos também divergem quanto a prioridades: equilibrar o Orçamento deve vir antes de estimular o investimento público? Rubin e seus aliados preferem equilibrar o Orçamento. "Hoje precisamos de um percurso plurianual que nos conduza a uma posição fiscal sólida, mas nesse contexto seria preciso abrir espaço a investimentos públicos essenciais", disse Rubin, argumentando que os gastos públicos poderiam ser ampliados antes que o Orçamento seja reconduzido ao equilíbrio.
Obama fala tanto em equilibrar o Orçamento quanto, em um discurso, em "criar milhões de empregos por meio da reconstrução de escolas, estradas, pontes e outras porções essenciais de infra-estrutura".
Furman, que trabalhou por algum tempo como assessor econômico especial do governo Clinton, já assumiu posições controversas. Recentemente, argumentou que, embora os trabalhadores típicos possam estar sofrendo com renda insuficiente, o padrão de vida é melhor do que há 30 anos. Outros economistas discordam.
O comando da campanha de Obama e Rubin dizem que há poucas pessoas com a capacidade e a experiência de Furman para definir políticas econômicas em uma campanha.
Os assessores de Obama enfatizam que Furman já consultou diversos especialistas, como Lawrence Summers, que sucedeu Rubin no Departamento do Tesouro, e Joseph Stiglitz, ganhador do prêmio Nobel da economia e crítico das teorias de Rubin. Outros consultados incluem Jared Bernstein, do Instituto de Política Econômica, uma organização ligada ao sindicalismo, e James Galbraith, da Universidade do Texas, cuja preferência por gastos públicos fica à esquerda das posições de Rubin.
"Não estou aqui para dizer a Obama o que pensar, mas sim para ajudá-lo a implementar suas idéias, que eu compartilho, como seguro-saúde universal, a tributação progressiva e não privatizar a previdência social", disse Furman.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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