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SUCESSÃO NOS EUA / TÊTE-À-TÊTE COM O ELEITOR
McCain aposta em comícios intimistas, mas televisados
Encontros reúnem candidato com poucos eleitores, que têm chance de questioná-lo
Público-alvo, no entanto, é quem vê pela TV; repórteres têm que se esgueirar atrás de câmeras para manter imagem de evento simples
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
À frente das cortinas, os encontros comunitários que o republicano John McCain adotou como principal modelo de
campanha parecem fiéis à definição do candidato. "Uma conversa direta com eleitores, sem
a necessidade de uma grande
produção de mídia com questões de repórteres e uma sala de
imprensa. Apenas eu e vocês."
Mas é só puxar o pano, como
fez a Folha em um desses encontros em Nova York, na
quinta-feira, para constatar
que o tom intimista é apenas figurativo: há dezenas de jornalistas com suas câmeras e notebooks, organizados por outros
tantos seguranças e relações
públicas de McCain, que disputará a Presidência dos EUA
com o democrata Barack Obama em 4 de novembro.
Em uma cena de bastidores
que provocou risos da platéia
de Nova York, assessores e fotógrafos engatinhavam em silêncio por um corredor para fazer fotografias sem que fossem
perceptíveis à transmissão do
evento pela TV, o que quebraria a imagem de intimidade.
Ao final do encontro, fica-se
sabendo, pela própria platéia,
que grande parte dos presentes
foi convidada por amigos do
Partido Republicano, o que
ajuda a explicar o fato de
McCain não receber perguntas
duras nesses encontros.
"É claro que um "town hall
meeting" é um evento feito para quem está assistindo à
transmissão em casa. Nenhum
candidato espera se tornar presidente dos EUA conseguindo
só 200 votos por dia", aponta
Thomas Schaller, da Universidade de Maryland.
O "town hall meeting" é inspirado na centenária tradição
de assembléias locais no leste
dos EUA. No de Nova York,
McCain discursou brevemente
atrás de um púlpito e passou
então a responder às perguntas
da platéia, tornando o encontro semelhante a um programa
de TV -o que era, de fato, com
transmissão ao vivo exclusiva
pela Fox News.
Obama não quer
O republicano tem insistido
em que Obama se junte a ele em
encontros do tipo, nos quais
possam debater cara a cara.
Propõe também que os dois
viagem no mesmo jatinho, por
economia. "McCain sabe que
não terá tanto dinheiro quanto
Obama na campanha, e o encontro menor é uma forma de
chamar os holofotes sem gastar
muito", diz Schaller.
Outra corrente diz que
McCain julga aparentar mais
profundidade de discurso na
comparação com Obama, o que
seria ressaltado em um embate.
Rick Davis, gerente de campanha de McCain, disse que a
equipe de Obama concordou
em participar apenas de um encontro, em agosto. David Plouffe, estrategista de Obama, rebateu dizendo que os dois se encontrarão cinco vezes na campanha, em três debates de TV,
um "town hall" sobre economia
em julho e outro evento sobre
política exterior em agosto.
Até lá, Obama segue fazendo
campanha em comícios, nos
quais também há grande controle de imagem. Conforme a
Folha presenciou algumas vezes, o público desses eventos
empunha cartazes escritos à
mão, com aparência caseira,
preparados pela equipe dos
candidatos. Além disso, assessores embaralham a platéia que
aparece atrás do candidato de
forma a mostrar diversidade de
idade, gênero e raça.
"Obama tem medo do debate
porque ele não tem substância.
É um terno vazio", diz Ana Baron, que não conseguiu ingresso para o encontro de Nova
York, mas foi à porta apoiar
McCain. "Eu fui voluntária na
campanha de Hillary Clinton.
Para mim, McCain é mais próximo de Hillary do que Obama,
que é muito inexperiente."
Do lado de dentro do salão, a
turma de Wall Street também
apoiava o republicano. "Eu não
quero um presidente que aumente impostos. Prejudicar
quem tem mais dinheiro agora
pode penalizar que tem menos
dinheiro no futuro", diz Boris
Epshteyn, advogado do mercado financeiro, que obteve convite para o evento com amigo ligado à campanha do senador.
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