São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / TÊTE-À-TÊTE COM O ELEITOR

McCain aposta em comícios intimistas, mas televisados

Encontros reúnem candidato com poucos eleitores, que têm chance de questioná-lo

Público-alvo, no entanto, é quem vê pela TV; repórteres têm que se esgueirar atrás de câmeras para manter imagem de evento simples


DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

À frente das cortinas, os encontros comunitários que o republicano John McCain adotou como principal modelo de campanha parecem fiéis à definição do candidato. "Uma conversa direta com eleitores, sem a necessidade de uma grande produção de mídia com questões de repórteres e uma sala de imprensa. Apenas eu e vocês."
Mas é só puxar o pano, como fez a Folha em um desses encontros em Nova York, na quinta-feira, para constatar que o tom intimista é apenas figurativo: há dezenas de jornalistas com suas câmeras e notebooks, organizados por outros tantos seguranças e relações públicas de McCain, que disputará a Presidência dos EUA com o democrata Barack Obama em 4 de novembro.
Em uma cena de bastidores que provocou risos da platéia de Nova York, assessores e fotógrafos engatinhavam em silêncio por um corredor para fazer fotografias sem que fossem perceptíveis à transmissão do evento pela TV, o que quebraria a imagem de intimidade.
Ao final do encontro, fica-se sabendo, pela própria platéia, que grande parte dos presentes foi convidada por amigos do Partido Republicano, o que ajuda a explicar o fato de McCain não receber perguntas duras nesses encontros.
"É claro que um "town hall meeting" é um evento feito para quem está assistindo à transmissão em casa. Nenhum candidato espera se tornar presidente dos EUA conseguindo só 200 votos por dia", aponta Thomas Schaller, da Universidade de Maryland.
O "town hall meeting" é inspirado na centenária tradição de assembléias locais no leste dos EUA. No de Nova York, McCain discursou brevemente atrás de um púlpito e passou então a responder às perguntas da platéia, tornando o encontro semelhante a um programa de TV -o que era, de fato, com transmissão ao vivo exclusiva pela Fox News.

Obama não quer
O republicano tem insistido em que Obama se junte a ele em encontros do tipo, nos quais possam debater cara a cara. Propõe também que os dois viagem no mesmo jatinho, por economia. "McCain sabe que não terá tanto dinheiro quanto Obama na campanha, e o encontro menor é uma forma de chamar os holofotes sem gastar muito", diz Schaller.
Outra corrente diz que McCain julga aparentar mais profundidade de discurso na comparação com Obama, o que seria ressaltado em um embate.
Rick Davis, gerente de campanha de McCain, disse que a equipe de Obama concordou em participar apenas de um encontro, em agosto. David Plouffe, estrategista de Obama, rebateu dizendo que os dois se encontrarão cinco vezes na campanha, em três debates de TV, um "town hall" sobre economia em julho e outro evento sobre política exterior em agosto.
Até lá, Obama segue fazendo campanha em comícios, nos quais também há grande controle de imagem. Conforme a Folha presenciou algumas vezes, o público desses eventos empunha cartazes escritos à mão, com aparência caseira, preparados pela equipe dos candidatos. Além disso, assessores embaralham a platéia que aparece atrás do candidato de forma a mostrar diversidade de idade, gênero e raça.
"Obama tem medo do debate porque ele não tem substância. É um terno vazio", diz Ana Baron, que não conseguiu ingresso para o encontro de Nova York, mas foi à porta apoiar McCain. "Eu fui voluntária na campanha de Hillary Clinton. Para mim, McCain é mais próximo de Hillary do que Obama, que é muito inexperiente."
Do lado de dentro do salão, a turma de Wall Street também apoiava o republicano. "Eu não quero um presidente que aumente impostos. Prejudicar quem tem mais dinheiro agora pode penalizar que tem menos dinheiro no futuro", diz Boris Epshteyn, advogado do mercado financeiro, que obteve convite para o evento com amigo ligado à campanha do senador.


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