São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2011

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ANÁLISE

A economia chinesa pode fracassar como a do Japão

MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"

Até 1990, o Japão era a mais bem-sucedida das grandes economias mundiais. Quase ninguém previa o que viria a acontecer nas décadas subsequentes.
Hoje, as pessoas admiram mais as realizações da China. Será concebível que esse colosso venha a descobrir que o sucesso espetacular pode servir como precursor de um fracasso surpreendente?
A resposta é sim.
A renda per capita japonesa (em paridade de poder de compra) saltou de 20% do nível norte-americano na década de 50% a 90% em 1990. Mas essa convergência espetacular pode se reverter. Em 2010, a renda per capita japonesa havia recuado a 76% do nível norte-americano.
A renda per capita chinesa subiu de 3% do nível norte-americano em 1978, quando Deng Xiaoping iniciou sua "reforma e abertura", para 20% do nível dos Estados Unidos atualmente.
Essa ascensão vai continuar de maneira igualmente espetacular nas próximas décadas ou a China também poderá nos surpreender com uma reversão de rumo?
É fácil defender a suposição mais otimista. A China conta com um histórico comprovado de sucesso, com índice médio de crescimento anual de 10% entre 1979 e 2010. E a China está bem longe dos padrões de vida dos países avançados.
Caso a China acompanhe o desempenho japonês em termos de alta na renda per capita, esta atingiria 70% do nível norte-americano em 2035, quando a economia chinesa seria maior que a norte-americana e a da União Europeia combinadas.
Mas existem argumentos em contrário. Um deles é o de que o tamanho da China é uma desvantagem porque, entre outras coisas, torna sua ascensão muito mais dramática em termos de demanda por recursos, se comparada a ascensões de outros países.
Outro ponto é que os efeitos políticos dessa transformação podem ser perturbadores em um país governado por um partido comunista. É possível encontrar argumentos puramente econômicos para justificar que o crescimento pode se desacelerar de forma mais abrupta do que a maioria presume.
O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, descreveu a economia de seu país como "instável, desequilibrada, descoordenada e em última análise insustentável". Por isso, a economia deve reduzir seu crescimento a 7% ao ano.
O governo chinês é habilidoso. Mas não é capaz de caminhar sobre a água. E a água sobre a qual ele terá de caminhar nos próximos dez anos não será plácida. Precisamos ficar de olho nas ondas.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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