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Brasileiros em férias ficam isolados em regiões atacadas
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FOZ DO IGUAÇU
CRISTIANE CARVALHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os brasileiros que estavam
no Líbano quando começou o
conflito estão enfrentando
grandes dificuldades para deixar o país. Os ataques coincidem com o período em que os
libaneses residentes no Brasil e
no Paraguai e seus descendentes aproveitam as férias escolares para levar seus filhos ao país
-uma tradição na comunidade
árabe de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, cidades onde ela
soma quase 12 mil pessoas.
O agente de viagens libanês
Saade Moussa, 30, disse ontem,
de Jebjanine (leste do Líbano),
que teria de embarcar 430 pessoas de Beirute para o Brasil na
próxima semana, mas que seus
clientes brasileiros estão isolados no sul. "Não consigo contato com eles e, com a declaração
de guerra aberta, esse isolamento só vai piorar", disse, por
e-mail. "O sul está sem nenhuma comunicação. Perdemos
conexão com eles. Não dá nem
para saber se estão vivos, mortos ou acharam uma saída."
Apenas os clientes sunitas,
do leste do Líbano e da capital,
estabeleceram contato. "Estamos tentando rotas alternativas por Amã [na Jordânia], pois
Damasco [Síria] está com uma
superpopulação de refugiados
e vôos lotados. Mas o mais difícil é eles chegarem a Amã."
Uma das causas da dificuldade é o grande fluxo de refugiados na rodovia que liga o Líbano a Damasco, que ontem sofreu novos bombardeios. "A via
ainda não está interditada. Mas
os ataques e a quantidade de refugiados faz com que uma rota
pelo norte do Líbano seja a alternativa." A partir de Amã, é
possível voar para a Europa.
O libanês é diretor da filial de
uma agência de viagens de Foz
de Iguaçu. Segundo estimativa
da empresa, mais de 800 brasileiros estão em férias no Líbano, a maioria no sul.
Em nota, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o corpo consular
no Líbano "está de prontidão
para dar assistência aos brasileiros". Segundo o ministério,
não há estimativa de quantos
brasileiros estão no país. A reportagem tentou contatar a
embaixada e o consulado por
toda a tarde de ontem, sem sucesso -a comunicação com o
Líbano é precária.
Fuzis sob a cama
Em São Paulo, o empresário
Samy Sultan, libanês naturalizado, se preocupa com sua família. A irmã Leila Derbas, 38,
dona de uma loja no Brás (centro de SP), foi passar as férias na
casa de parentes, na região
montanhosa de Akar (norte). A
família viajou num grupo de 14
pessoas, oito delas crianças.
Sultan conseguiu falar com a
irmã por telefone. Segundo ele,
a família está "ansiosa, com
medo". "Estocaram comida e
estão trancados em casa, sem
ter aonde ir." Só há eletricidade
quatro horas por dia. Apesar de
o norte não ter sido atacado,
Leila, diz ele, afirmou que a população, temendo que a guerra
chegue à região, "já está tirando
os fuzis debaixo da cama".
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