São Paulo, sábado, 15 de julho de 2006

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Brasileiros em férias ficam isolados em regiões atacadas

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FOZ DO IGUAÇU

CRISTIANE CARVALHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os brasileiros que estavam no Líbano quando começou o conflito estão enfrentando grandes dificuldades para deixar o país. Os ataques coincidem com o período em que os libaneses residentes no Brasil e no Paraguai e seus descendentes aproveitam as férias escolares para levar seus filhos ao país -uma tradição na comunidade árabe de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, cidades onde ela soma quase 12 mil pessoas.
O agente de viagens libanês Saade Moussa, 30, disse ontem, de Jebjanine (leste do Líbano), que teria de embarcar 430 pessoas de Beirute para o Brasil na próxima semana, mas que seus clientes brasileiros estão isolados no sul. "Não consigo contato com eles e, com a declaração de guerra aberta, esse isolamento só vai piorar", disse, por e-mail. "O sul está sem nenhuma comunicação. Perdemos conexão com eles. Não dá nem para saber se estão vivos, mortos ou acharam uma saída."
Apenas os clientes sunitas, do leste do Líbano e da capital, estabeleceram contato. "Estamos tentando rotas alternativas por Amã [na Jordânia], pois Damasco [Síria] está com uma superpopulação de refugiados e vôos lotados. Mas o mais difícil é eles chegarem a Amã."
Uma das causas da dificuldade é o grande fluxo de refugiados na rodovia que liga o Líbano a Damasco, que ontem sofreu novos bombardeios. "A via ainda não está interditada. Mas os ataques e a quantidade de refugiados faz com que uma rota pelo norte do Líbano seja a alternativa." A partir de Amã, é possível voar para a Europa.
O libanês é diretor da filial de uma agência de viagens de Foz de Iguaçu. Segundo estimativa da empresa, mais de 800 brasileiros estão em férias no Líbano, a maioria no sul.
Em nota, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o corpo consular no Líbano "está de prontidão para dar assistência aos brasileiros". Segundo o ministério, não há estimativa de quantos brasileiros estão no país. A reportagem tentou contatar a embaixada e o consulado por toda a tarde de ontem, sem sucesso -a comunicação com o Líbano é precária.

Fuzis sob a cama
Em São Paulo, o empresário Samy Sultan, libanês naturalizado, se preocupa com sua família. A irmã Leila Derbas, 38, dona de uma loja no Brás (centro de SP), foi passar as férias na casa de parentes, na região montanhosa de Akar (norte). A família viajou num grupo de 14 pessoas, oito delas crianças.
Sultan conseguiu falar com a irmã por telefone. Segundo ele, a família está "ansiosa, com medo". "Estocaram comida e estão trancados em casa, sem ter aonde ir." Só há eletricidade quatro horas por dia. Apesar de o norte não ter sido atacado, Leila, diz ele, afirmou que a população, temendo que a guerra chegue à região, "já está tirando os fuzis debaixo da cama".


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