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Divisão libanesa é evidenciada pelo conflito
GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK
Mais uma vez os dois Líbanos que convivem em um
mesmo país entram em choque. Desta vez, a divisão
ocorre após o seqüestro dos
soldados israelenses pelo
grupo extremista Hizbollah
e os conseqüentes ataques de
Israel que destruíram parte
da infra-estrutura do país,
deixando dezenas de mortos.
O primeiro Líbano é o que
hoje defende o Hizbollah,
que concorda com o grupo
possuir armas. A maior parte
deste primeiro Líbano é religiosa e composta por muçulmanos xiitas e pelas camadas
mais baixas dos muçulmanos sunitas.
O segundo Líbano é cristão, ocidentalizado, possuindo uma orientação cultural
franco-mediterrânea. Estudam em escolas francesas,
vão a universidades americanas em Beirute e aproveitam
o verão nas praias e boates da
capital libanesa. A maior parte desses libaneses é cristã-maronita, mas também há os
cristãos-armênios, os ortodoxos, os cristãos-melquitas
e a elite sunita de Beirute.
Na época da independência, esse segundo Líbano foi o
vencedor. O país ficou com
um aspecto diferente do restante dos países árabes, com
imprensa livre, eleições relativamente democráticas e,
acima de tudo, um comércio
próspero que ajudou a desenvolver a economia.
Mas o país era controlado
pelos cristãos. Os muçulmanos possuíam menos poder.
O presidente, sempre maronita, exercia um poder bem
maior que o premiê (sunita).
Guerra civil
Essa tensão acabou por
culminar em dois conflitos: o
primeiro, em 1958, que terminou após intervenção
americana, e o segundo, a
guerra civil de 1975 a 1990. A
chegada da OLP, no fim dos
anos 60 e começo dos 70,
controlada por muçulmanos
sunitas, acabou levando à
inevitável guerra civil, que
envolveu ao longo de 15 anos
os diversos grupos.
O conflito apenas foi encerrado após os Acordos de
Taif, no fim de 1989, quando
foi estabelecida uma nova divisão do poder. O premiê
sempre sunita passou a ter
poder maior, quase se equiparando ao do presidente.
O acordo também previa
que tropas sírias permaneceriam no Líbano para ajudar a
manter a ordem. O sul do
país continuava ocupado por
Israel, e o Hizbollah xiita foi
autorizado a carregar armas
para defender a região.
Claramente, o Líbano árabe saía vencedor. Após a saída de Israel do sul do Líbano,
ficou ainda mais forte, pois o
Hizbollah foi visto como o
responsável pela retirada.
A Revolução dos Cedros
no ano passado foi, por outro
lado, um golpe no Líbano
árabe, pois culminou na retirada das tropas sírias. O Líbano ocidental tentava, mais
uma vez, se reerguer, porém
o outro Líbano continuava
forte, especialmente por
causa do Hizbollah.
Integração
A tática do governo eleito
do premiê Fuad Siniora, após
a revolução, era tentar integrar o Hizbollah a esse Líbano mais preocupado com o
território do país do que com
outros problemas árabes. Parecia que a organização xiita
estava disposta a mudar, como fica claro na presença de
bandeiras libanesas nos discursos dos líderes do Hizbollah, o que não ocorria antes.
Mas a mais recente ação
demonstrou que o grupo não
estava tão disposto a se integrar, pois era óbvia a reação
de Israel, e os líderes da organização sabiam disso.
Parte da população libanesa culpa o grupo xiita pelos
enormes estragos econômicos que o ataque israelense
provocou no país, que demorara anos para se levantar. É
o Líbano ocidental reclamando. Porém, a outra parte
acha que o Hizbollah está
correto e que o país tem de se
solidarizar com a causa palestina. É o Líbano árabe.
Em comum, só as críticas à
resposta israelense, considerada desproporcional mesmo pelos mais radicais membros do Líbano ocidental.
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