São Paulo, quarta, 15 de julho de 1998

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"PLD vai se derreter', afirma analista político

de Tóquio

A derrota do Partido Liberal-Democrata nas eleições de domingo foi apenas um dos acontecimentos políticos que deverão pôr fim à hegemonia do partido no país.
Essa é a opinião de Minoru Morita, um dos mais respeitados analistas políticos japoneses. Em março passado, Morita previu que Hashimoto perderia as eleições parlamentares e que provavelmente renunciaria.
Agora, diz que a renúncia de Hashimoto é apenas a ponta de um iceberg prestes a se derreter -o PLD. Para ele, os eleitores não querem mais saber do partido que governa quase que ininterruptamente desde 1955.

Folha - O que os eleitores japoneses quiseram dizer?
Minoru Morita -
Que não aguentam mais a crise econômica, os aumentos de impostos e o PLD.
Folha - Mas não é a primeira derrota do PLD. Já houve outras, como em 1989, quando o partido reduziu ainda mais sua participação na Câmara Alta. Depois, voltou com vitórias.
Morita -
Sim, mas, naquele ano, o recado do eleitorado foi: "É melhor vocês mudarem!". Agora, o recado foi: "Basta, nós estamos cheios dessa situação".
Folha - Você chegou a prever a derrota do PLD e uma eventual renúncia de Hashimoto.
Morita -
Mas nunca imaginei que o fracasso do PLD fosse tão grande. A revolta foi tamanha que o comparecimento às urnas foi de 58,8%, um índice muito maior do que todos imaginavam. Foi uma revolta dos eleitores dos centros urbanos. Os candidatos do PLD perderam as eleições nos centros urbanos mais populosos do país.
Folha - Como o sr. avalia o governo Hashimoto?
Morita -
Um fracasso. Quem mandou em seu governo foi um grupo liderado pelo secretário-geral do partido, Koichi Kato. Eles imobilizaram Hashimoto. Esse grupo já está unido em torno de Obuchi (Keizo Obuchi, ministro das Relações Exteriores, que pode substituir Hashimoto) e poderá voltar ao poder.
Folha - Mas o mercado parece estar tranquilo.
Morita -
Se o mercado soubesse o que está ocorrendo, não haveria essa calmaria. Poucos no partido querem resolver o problema da economia japonesa. Eles querem garantir seus futuros políticos. A cúpula do PLD não discute o problema fiscal, como acelerar o corte de impostos ou como sanear o sistema financeiro.
Folha - O que acha de Obuchi?
Morita -
Ele não tem senso de liderança, embora seja muito bem-educado. Os eleitores foram às urnas para rejeitar exatamente políticos com seu perfil. Eles querem um líder. Há, na verdade, uma falta de candidatos.
Folha - Qual é o futuro do PLD?
Morita - Péssimo. O partido vai tentar uma coalizão, mas não vai conseguir porque os partidos de oposição não querem se desgastar com essa união. Acho que as eleições para a Câmara Baixa serão antecipadas para o começo do ano que vem e que o PLD vai sofrer uma nova derrota. Deve perder o governo e só vai voltar se passar por uma reforma.



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