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JAPÃO
Lideranças do PLD, maior partido do país, se enfrentam para definir sucessor de Hashimoto, que renunciou anteontem
Governistas racham para eleger premiê
MARCIO AITH
de Tóquio
Facções dentro do PLD (Partido
Liberal-Democrata) se envolveram ontem em uma disputa interna sem precedentes para definir o
sucessor do primeiro-ministro japonês, Ryutaro Hashimoto.
Hashimoto renunciou anteontem depois de seu partido ter sofrido uma vergonhosa derrota nas
eleições parlamentares de domingo, que renovaram metade dos
membros da Câmara Alta do Parlamento, uma espécie de Senado
Federal. O partido, que já não tinha maioria na casa, perdeu 17 cadeiras. Hashimoto e o PLD foram
identificados como os responsáveis pela primeira recessão no país
desde a crise do petróleo, em meados da década de 70.
O chefe de gabinete de Hashimoto, Kanezo Muraoka, disse que o
primeiro-ministro e todo o seu gabinete ficam no cargo até o dia 30,
quando a Câmara Baixa do Legislativo escolherá formalmente o
substituto do primeiro-ministro.
Como o PLD ainda detém uma
ampla maioria na Câmara Baixa,
apesar da indisposição dos eleitores com o partido, o nome indicado pelo PLD numa eleição partidária no próximo dia 21 será o virtual primeiro-ministro.
Tudo seria fácil não fosse o PLD
uma legenda monstruosa que
abriga interesses distintos e caciques ambiciosos. O resultado desse perfil são brigas internas e um
gigantismo que, para um observador latino, lembram os do PRI
(Partido Revolucionário Institucional), do México.
Como o PRI, o PLD governou a
política do Japão quase como um
partido único - quase 43 anos
ininterruptos, desde que foi criado, em 1955.
Publicamente, poucos candidatos demonstram interesse pelo
cargo de Hashimoto. No entanto,
reuniões secretas e a divulgação de
dados biográficos desagradáveis
de possíveis sucessores do premiê
ameaçam rachar o partido, dando
esperanças a uma oposição que,
embora vitoriosa nas eleições de
domingo, é fraca.
Apesar de mais de cinco candidatos terem despontado como
substitutos de Hashimoto dentro
do partido, a disputa está centrada
em apenas dois nomes.
Um deles é o de Keizo Obuchi,
ministro das Relações Exteriores,
integrante da maior facção dentro
do partido, liderada pelo mais poderoso, discreto e conservador líder do PLD, o ex-primeiro-ministro Noboru Takeshita (1987-89). O
outro é Seiroku Kajyama, político
desinibido e antigo chefe de gabinete de Hashimoto.
Kajyama ganhou pontos com o
eleitorado distanciando-se a tempo do governo, criticando sua paralisia e defendendo gastos públicos para tirar o país da recessão.
Em algumas entrevistas, Kajyama disse que eleger Obuchi seria
trair o eleitorado, que deu sinais
claros de não querer mais o grupo
de Hashimoto nem os caciques
tradicionais do partido -embora
ele próprio, político tradicional
com 72 anos de idade, não represente uma grande mudança.
Aliados de Kajyama dizem também que Obuchi não tem idéias
nem iniciativa e que seria presa fácil da burocracia japonesa.
O troco foi imediato. Aliados de
Obuchi lembraram declarações
polêmicas de Kajyama ditas quando ele era ministro da Justiça, no
começo da década.
Na época, ao determinar que a
polícia tirasse as prostitutas estrangeiras das ruas de Tóquio, ele
afirmou que elas sujam e bagunçam a cidade da mesma maneira
que os negros nos Estados Unidos.
A declaração trouxe problemas diplomáticos entre os dois países. As
relações próximas e suspeitas de
Kajyama com empreiteiros também foram lembradas.
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