São Paulo, quarta, 15 de julho de 1998

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JAPÃO
Lideranças do PLD, maior partido do país, se enfrentam para definir sucessor de Hashimoto, que renunciou anteontem
Governistas racham para eleger premiê

MARCIO AITH
de Tóquio

Facções dentro do PLD (Partido Liberal-Democrata) se envolveram ontem em uma disputa interna sem precedentes para definir o sucessor do primeiro-ministro japonês, Ryutaro Hashimoto.
Hashimoto renunciou anteontem depois de seu partido ter sofrido uma vergonhosa derrota nas eleições parlamentares de domingo, que renovaram metade dos membros da Câmara Alta do Parlamento, uma espécie de Senado Federal. O partido, que já não tinha maioria na casa, perdeu 17 cadeiras. Hashimoto e o PLD foram identificados como os responsáveis pela primeira recessão no país desde a crise do petróleo, em meados da década de 70.
O chefe de gabinete de Hashimoto, Kanezo Muraoka, disse que o primeiro-ministro e todo o seu gabinete ficam no cargo até o dia 30, quando a Câmara Baixa do Legislativo escolherá formalmente o substituto do primeiro-ministro.
Como o PLD ainda detém uma ampla maioria na Câmara Baixa, apesar da indisposição dos eleitores com o partido, o nome indicado pelo PLD numa eleição partidária no próximo dia 21 será o virtual primeiro-ministro.
Tudo seria fácil não fosse o PLD uma legenda monstruosa que abriga interesses distintos e caciques ambiciosos. O resultado desse perfil são brigas internas e um gigantismo que, para um observador latino, lembram os do PRI (Partido Revolucionário Institucional), do México.
Como o PRI, o PLD governou a política do Japão quase como um partido único - quase 43 anos ininterruptos, desde que foi criado, em 1955.
Publicamente, poucos candidatos demonstram interesse pelo cargo de Hashimoto. No entanto, reuniões secretas e a divulgação de dados biográficos desagradáveis de possíveis sucessores do premiê ameaçam rachar o partido, dando esperanças a uma oposição que, embora vitoriosa nas eleições de domingo, é fraca.
Apesar de mais de cinco candidatos terem despontado como substitutos de Hashimoto dentro do partido, a disputa está centrada em apenas dois nomes.
Um deles é o de Keizo Obuchi, ministro das Relações Exteriores, integrante da maior facção dentro do partido, liderada pelo mais poderoso, discreto e conservador líder do PLD, o ex-primeiro-ministro Noboru Takeshita (1987-89). O outro é Seiroku Kajyama, político desinibido e antigo chefe de gabinete de Hashimoto.
Kajyama ganhou pontos com o eleitorado distanciando-se a tempo do governo, criticando sua paralisia e defendendo gastos públicos para tirar o país da recessão.
Em algumas entrevistas, Kajyama disse que eleger Obuchi seria trair o eleitorado, que deu sinais claros de não querer mais o grupo de Hashimoto nem os caciques tradicionais do partido -embora ele próprio, político tradicional com 72 anos de idade, não represente uma grande mudança.
Aliados de Kajyama dizem também que Obuchi não tem idéias nem iniciativa e que seria presa fácil da burocracia japonesa.
O troco foi imediato. Aliados de Obuchi lembraram declarações polêmicas de Kajyama ditas quando ele era ministro da Justiça, no começo da década.
Na época, ao determinar que a polícia tirasse as prostitutas estrangeiras das ruas de Tóquio, ele afirmou que elas sujam e bagunçam a cidade da mesma maneira que os negros nos Estados Unidos. A declaração trouxe problemas diplomáticos entre os dois países. As relações próximas e suspeitas de Kajyama com empreiteiros também foram lembradas.



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