São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2000


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ACIDENTE
Embarcação tem mais de 100 tripulantes, que podem ficar sem oxigênio; Marinha diz que desfecho positivo é difícil
Submarino russo fica preso no fundo do mar


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um submarino nuclear da Rússia afundou anteontem à noite no mar de Barents, na costa norte do país, deixando seus mais de cem tripulantes presos no interior da embarcação.
A Marinha russa passou o dia ontem tentando resgatar o submarino Kursk, que ficou preso no fundo do mar após um incidente não explicado durante um exercício militar na região, ao norte do Círculo Polar Ártico.
Mas, segundo a corporação, as possibilidades de resgate são pequenas. Os tripulantes correriam risco de morrer se o oxigênio dentro da embarcação acabasse.
Segundo informações passadas pelo comando da Marinha à rede de televisão NTV, haveria 116 pessoas à bordo do Kursk, entre oficiais e marinheiros. Outras fontes calculavam o número exato de tripulantes entre 107 e 130.
A Marinha não confirmou informações divulgadas pela manhã segundo as quais já haveria pessoas mortas ou feridas.
O almirante Vladimir Kuroyedov, comandante da Marinha, disse que o Kursk aparentemente sofreu danos graves após uma colisão forte, "possivelmente com outra embarcação estrangeira".
"Apesar dos esforços que estão sendo feitos, a probabilidade de um desfecho positivo não é muito alta", disse ele à agência de notícias russa "Itar-Tass".
Segundo a NTV, a parte da frente do submarino teria sido inundada após a entrada de água pelos tubos dos torpedos durante um exercício de tiro. Pela manhã, um porta-voz da Marinha havia dito que um problema técnico teria causado o acidente, mas negou que a embarcação tivesse sido invadida pelas águas.
Um funcionário de uma empresa contratada para ajudar no resgate do Kursk, entrevistado pela "Itar-Tass", disse que as observações preliminares do submarino teriam eliminado a hipótese de uma colisão tê-lo afundado.
Segundo a agência, ele não excluiu a possibilidade de que uma explosão tivesse provocado danos no nariz do submarino, mas afirmou não ser possível definir o que causou a explosão.

Contatos acústicos
Segundo um porta-voz da Marinha, não haveria contatos por rádio com o submarino, mas "contatos acústicos" por sinais, que indicariam haver gente com vida no interior da embarcação. Segundo a "Itar-Tass", foram detectados golpes dados na parede interior do submarino.
As autoridades militares russas não divulgaram a profundidade em que o submarino se encontrava, mas, segundo uma versão do governo da Noruega, que também é banhada pelo mar de Barents, o Kursk estaria a 150 metros de profundidade, o que dificultaria o resgate por causa da forte pressão da água.
Um porta-voz da Marinha, porém, garantiu que não haveria perigo para a tripulação e que a possibilidade de o trabalho de resgate ser abandonado não foi cogitada.
O porta-voz das Forças Armadas russas, Igor Dygalo, disse que o submarino, que entrou em operação há apenas cinco anos, não levava armas nucleares e que não haveria riscos imediatos de vazamentos de radiação nem de explosões.
O governo da Noruega disse que suas medições também não detectaram nenhum possível vazamento radioativo, mas, por precaução, decidiu entrar em estado de alerta ontem.
Em casos de emergência como esse, um submarino teria de voltar à superfície. Mas Dygalo disse que o Kursk se viu obrigado a baixar ao leito oceânico, o que indicaria que a tripulação perdeu o controle sobre a embarcação.
O militar russo Vladimir Gundarov disse que os resgates de submarinos são muito difíceis. As Forças Armadas russas não contam com submarinos de resgate modernos, segundo as publicações de referência naval.
Para sair do Kursk, os tripulantes poderiam usar cápsulas de resgate, mas também poderiam ser obrigados a escapar, segundo ele, nadando pelos tubos dos torpedos. A ação requer equipamento especial por causa da grande profundidade e da baixa temperatura da água.
Segundo a "Itar-Tass", a Marinha russa enviou para o local dez submarinos menores. Um equipamento especial chamado Kolokol (sino, em russo) teria sido acoplado ao Kursk para fornecer oxigênio e energia à embarcação. O equipamento também poderia auxiliar a saída dos tripulantes em caso de necessidade.
Segundo o comando da frota a que pertence o Kursk, as equipes russas de resgate teriam recursos suficientes para trabalhar sem ter de recorrer a ajuda externa.
Segundo alguns oficiais da Marinha, a decisão final sobre o procedimento a ser adotado na operação de resgate poderia ser tomada somente hoje.


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