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VENEZUELA
Decisão causa protesto de chavistas em Caracas; para o presidente, "todo mundo sabe que aqui houve um golpe"
Corte livra militares que derrubaram Chávez
DA REDAÇÃO
O Supremo Tribunal de Justiça
da Venezuela recusou ontem o indiciamento de quatro militares
acusados de rebelião pelo golpe
que tirou Hugo Chávez da Presidência por dois dias em abril.
A decisão, anunciada à tarde,
gerou imediatamente confrontos
entre simpatizantes de Chávez e
soldados da Guarda Nacional que
protegiam a sede do tribunal. Foram disparadas bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os
manifestantes. Um policial e um
cinegrafista ficaram feridos.
"Isso é democracia. É a decisão
da maioria e deve ser respeitada
por todos os cidadãos", disse o
presidente do STJ, Iván Rincón,
que disse ter votado a favor do indiciamento. "O país não quer
confrontos", afirmou.
Chavistas e opositores ocupavam desde cedo as ruas próximas
ao STJ para aguardar a decisão.
Cerca de 1.500 soldados protegiam o local. A tensão na capital é
reflexo da instabilidade no país,
que não acabou com a volta de
Chávez ao poder.
A espera pela decisão vinha provocando manifestações quase
diárias havia duas semanas, incluindo um confronto que deixou
nove feridos à bala. O STJ já havia
recusado duas vezes o indiciamento dos militares.
No fim de semana, Chávez fez
declarações pressionando pelo indiciamento e acusou juízes da
corte de corrupção. "De Washington, de Pequim, até de Canberra e de Buenos Aires, sabe-se
que aqui houve um golpe de Estado", disse ele ontem pela manhã.
A oposição acusava Chávez de
pressionar o tribunal e de preparar um "autogolpe" se a decisão
não lhe fosse favorável.
"Nesta tarde temos de dizer ao
STJ que estão colocando à prova a
Constituição uma vez mais. Peço
à Venezuela que nos aferremos à
Constituição, que ninguém se desespere, que ninguém se deixe levar pelo ímpeto", disse Chávez.
Deputados chavistas divulgaram uma gravação de conversa
entre um dirigente da oposição e
um empresário no qual um deles
pede ao outro para "dar um toque" a uma juíza do tribunal, no
que, segundo ele, indicaria pressões externas da oposição.
Os jornais locais publicaram
ontem diversos anúncios de opositores e partidários do governo
com comentários sobre a iminente decisão da corte, inclusive uma
do próprio Chávez, na qual ele pede calma à população.
O general Efraín Vásquez, ex-comandante do Exército e um dos
quatro militares acusados, afirmou ontem que sua casa foi atacada de madrugada com três explosivos de baixo poder.
O advogado do general, René Buroz, acusou chavistas pelo ataque. "Como não puderam comprovar o delito de rebelião, estão recorrendo a essas vias", disse.
Os demais acusados eram o ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Pedro Pereira, o ex-chefe do Estado-Maior da Marinha, vice-almirante Héctor
Ramírez, e o contra-almirante Daniel Comisso Urdaneta.
Os quatro, que aguardavam a decisão em liberdade, negam a rebelião e dizem que atuaram porque Chávez renunciou, deixando um vácuo de poder. O presidente nega que tenha renunciado.
Advertência
Os EUA alertaram ontem seus cidadãos na Venezuela sobre a possibilidade de a decisão tomada pelo STJ gerar episódios graves de violência. Por meio da embaixada em Caracas, os EUA pediram aos americanos que acompanhassem
as notícias para detectar distúrbios e evitassem locais públicos.
Com agências internacionais
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