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VENEZUELA
Mandatário é fator de desunião, diz dirigente da Fedecámaras, entidade cujo ex-presidente liderou golpe de abril
Empresários pedem renúncia de Chávez
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
A Fedecámaras, principal entidade empresarial da Venezuela,
voltará a pedir a renúncia do presidente Hugo Chávez e analisa a
possibilidade de organizar, com
trabalhadores, uma nova greve
geral no país contra o governo.
"Há elementos que justificam
uma greve geral. O país está convulsionado", disse à Folha o empresário Carlos Fernández, 52,
presidente da entidade.
Em 11 de abril, uma greve geral e
manifestação convocadas pela Fedecámaras e pela CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela) provocaram confrontos
com 17 mortes e levaram ao golpe
que tirou Chávez do poder por
dois dias. O então presidente da
Fedecámaras, Pedro Carmona,
hoje exilado na Colômbia, assumiu a Presidência no período.
Para Fernández, a situação hoje
é pior que a de abril. Ele não descarta a ocorrência de novos episódios de violência. "A situação é
extremamente delicada e pode
gerar qualquer tipo de desenlace",
disse o líder, por telefone, de Caracas.
Folha - Membros da oposição
acusam Chávez de armar um plano
para suspender a Justiça. O sr. acha
que existe esse perigo?
Carlos Fernández - O presidente
da República disse agora há pouco que se o juiz quer ficar tem de
ter elementos para ficar. Há um
pedido feito por alguns deputados do MVR [Movimento Quinta
República, partido de Chávez" para criar uma Constituinte para
desconhecer os Poderes públicos,
entre eles o Supremo Tribunal,
para evitar que a corte tomasse
sua decisão no dia de hoje [ontem". Também queriam tomar a
Polícia Metropolitana [controlada pelo prefeito de Caracas, Alfredo Peña, adversário de Chávez",
mas parece que já se debelou esse
propósito.
Aparentemente, há um plano
de criar uma espécie de autogolpe, um estado de exceção, com o
argumento da violência provocada pelos próprios simpatizantes
do governo. Há duas semanas que
os chavistas vêm praticando atos
de violência e provocando a oposição para que ela cometa erros e
vá a um enfrentamento. Mas a
oposição não está jogando esse
papel que o governo espera, não
vai cair nessa armadilha. O governo quer os enfrentamentos para
justificar um estado de exceção
que lhe daria liberdade para desfazer todas as situações que não
lhe favorecem.
- Chávez acusou os juízes da
corte de corrupção...
Fernández - Mas não apresentou provas. Se tem provas e não
apresenta, se transforma em cúmplice.
Folha - A Fedecámaras prepara
um protesto contra Chávez?
Fernández - Estamos analisando
a possibilidade de uma paralisação, mas não tem relação com a
decisão do Supremo Tribunal. O
problema é a grave situação econômica por que passa o país, que
estamos analisando junto com os
trabalhadores. A paralisação cívica seria para chamar a atenção para a busca de uma saída que permita encontrar caminhos diferentes para a reativação econômica.
Folha - Vocês pensam em uma
manifestação conjunta com a CTV,
como a de 11 de abril [que antecedeu o golpe"?
Fernández - Isso, mas não está
totalmente certo. Ainda estamos
analisando alguns elementos para
tomar a decisão. Mas, sem dúvida, a situação econômica é tão
precária hoje, com o fechamento
de empresas, perda de postos de
trabalho, aumento de impostos,
perda de capacidade aquisitiva.
Há uma série de elementos que
poderiam justificar uma greve geral. O país está convulsionado.
Folha - O sr. considera a situação
hoje pior do que a do começo de
abril [antes do golpe"?
Fernández - Sem dúvida. Economicamente, está muito pior. No
plano político, também, porque
há uma deterioração muito forte,
sobretudo pela debandada daqueles que antes estavam ao lado
do governo e hoje o enfrentam. O
governo cada dia se debilita mais,
tem cada vez menos base política,
não tem capacidade para resolver
os problemas e está simplesmente
baseado em um presidente da República que tem retórica capaz de
chegar a certos setores da população, mas que não é capaz de compreender a maioria dos venezuelanos. Ele vai ficando sozinho. Isso pode desencadear um conflito
social ou o pedido de renúncia do
presidente.
Folha - Os acontecimentos de 11
de abril podem se repetir?
Fernández - Claro. Poderia haver
ainda outros acontecimentos de
violência. A situação é extremamente delicada e pode gerar qualquer tipo de desenlace. O dia de
hoje [ontem" é muito particular,
porque de acordo com a decisão
do tribunal pode haver violência
na capital.
Folha - Chávez vem oferecendo
possibilidade de diálogo com a
oposição, que diz que a oferta não
é sincera. O que o sr. acha?
Fernández - Não há vontade de
diálogo. Ele só quer estabelecer
espaços nos quais o governo dá as
pautas e dita as condições. É um
monólogo. Não há vontade para
um diálogo construtivo, no qual
haja entendimentos para encontrar um caminho. O que existe
agora é uma negociação para encontrar uma saída para a crise.
Mas essa saída passa pela renúncia do presidente da República.
- Vocês defendem a renúncia
de Chávez?
Fernández - A renúncia é a saída menos traumática para o país.
Porque, lamentavelmente, não
houve capacidade para a administração dos graves problemas
por que passa a Venezuela. Chávez é um fator de desunião da sociedade venezuelana, da fratura
que vivemos. Para podermos recuperar a situação, soldar a fratura, é preciso que ele saia de cena.
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