São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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TURCOMENISTÃO

País de Niyazov é o mais pobre da ex-URSS

Na Ásia, ditador amplia adolescência por decreto e põe seu nome em mês

DA REDAÇÃO

Saparmurad Niyazov, ou Turkmenbashi, o Grande, ditador do Turcomenistão (Ásia Central), já dava seu nome a cidades, ruas e aeroportos. Seu retrato aparece como ícone na TV estatal, no dinheiro, em garrafas de vodca e em pacotes de chá. Agora, janeiro será chamado de Turkmenbashi (pai de todos os turcomanos), e abril terá o nome de sua mãe, Gurbansoltan-edzhe.
"Vamos voltar a nossas raízes", afirma Niyazov. Nesse esforço para criar uma identidade turcomana, ele pretende agora reclassificar as idades dos seus cidadãos.
A adolescência durará até os 25 anos; de 49 a 62, todos terão "a idade do profeta"; de 62 a 73, "a idade da inspiração"; de 73 a 85, a idade das barbas brancas; e de 97 a 109, "a idade de Oguz Khan" (um líder de clã que governou os ancestrais dos turcomanos).
Poucos devem chegar à "idade de Oguz Khan", pois a expectativa de vida no país é de 62 anos para os homens e 68 para as mulheres.
Niyazov, que está no primeiro ano da "idade da inspiração", havia feito essas propostas na semana passada, durante o encontro do Conselho do Povo, uma assembléia com 2.000 delegados indicados por ele e que é o mais alto corpo consultivo do país. Depois, resolveu acabar com a farsa e fez as mudanças por decreto.
A mais pobre das antigas repúblicas soviéticas, com cerca de 4,2 milhões de habitantes (77% turcomanos e minorias uzbeques e russas), o Turcomenistão nunca havia sido um país independente antes da derrocada do império comunista soviético, em 1991.
Desde então, Niyazov, que era líder do Partido Comunista desde 1985 -ou seja, governava o país-, vem sendo "reeleito" com porcentagens do eleitorado nunca menores do que 99%.
Quinta-feira passada, o Conselho do Povo o aclamou, por unanimidade, presidente vitalício. Docemente constrangido, ele recusou a honraria e prometeu outra "eleição" para 2008.
A Anistia Internacional denuncia a perseguição do regime contra oposicionistas, contra membros de religiões minoritárias -os muçulmanos sunitas são 88% da população- e a falta de liberdade de expressão.
Dizendo que eram expressões culturais contrárias às tradições turcomanas, o presidente proibiu o balé, a ópera e o circo.
O culto à personalidade e a falta de tolerância com qualquer tipo de oposição levaram o Departamento de Estado dos EUA a classificar o seu regime como de "um autoritarismo do estilo soviético", talvez só comparado ao regime norte-coreano de Kim Jong-il.
Mas Washington não crê que o Turcomenistão seja parte do "eixo do mal" (Irã, Iraque e Coréia do Norte). Niyazov ganhou alguns pontos com os americanos ao ceder espaço aéreo e passagem de tropas durante a operação contra o vizinho Afeganistão.


Com agências internacionais


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