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ENTREVISTA
Wrobel, especialista em segurança na América do Sul, diz haver "empate militar" entre governo e guerrilha
Brasil pode ser mediador, diz analista
do enviado especial a Bogotá
O Brasil deveria buscar o papel
de mediador no conflito colombiano, "se houver oportunidade
para isso". É o que diz, em entrevista à Folha, o brasileiro Paulo
Wrobel, especialista em segurança na América do Sul do Royal
Institute for International Affairs.
Wrobel é PhD em estudo de
guerra pela Universidade de Londres, o que lhe dá credenciais para
analisar a guerra na Colômbia,
como o faz na seguinte entrevista:
Folha - O sr. acredita em uma
intervenção militar norte-americana na Colômbia?
Paulo Wrobel - Não acredito
em intervenção militar norte-americana, nem do tipo Vietnã
nem América Central. Só se houver uma catástrofe, como um
avanço significativo na tentativa
da guerrilha de tomar o poder em
Bogotá seguida por queda de governo e anarquia, cenário que não
me parece possível ou provável.
É verdade que Washington está
acompanhando de muito perto a
situação e que a ajuda financeira,
de treinamento, inteligência e
equipamento militar deve ser
mais alta este ano.
No entanto, há uma enorme diferença entre apoio financeiro e
militar e intervenção armada.
Não me parece haver, pelo menos
neste momento, hipótese realista
de intervenção norte-americana.
Folha - O sr. concorda com a
tese de que há uma espécie de
empate, que nenhum dos dois
lados pode ganhar a guerra?
Wrobel - É verdade, há um impasse militar. Creio, no entanto,
que, se há um lado que pode vencer militarmente, é o do governo.
As Forças Armadas colombianas não estão equipadas neste
momento para uma vitória militar, mas podem fazê-lo. É verdade
que o custo político pode ser alto
demais, mas a solução militar não
me parece impossível.
Já a guerrilha não pode vencer
militarmente, no sentido de tomar o poder em Bogotá, mas parece uma formidável e experiente
força de insurreição.
Folha - Qual deveria ser a posição brasileira?
Wrobel - A posição brasileira
me parece que tem sido a tradicional do Itamaraty, ou seja, respeito à autodeterminação e não-ingerência nos assuntos internos
de uma nação soberana. Ao mesmo tempo, preservando a soberania do território nacional.
No entanto, entendo a aflição de
Brasília quanto à hipótese de intervenção norte-americana junto
a uma área como a Amazônia,
bastante sensível ao interesse nacional. Acho que o Brasil pode
buscar papel de mediador, se
houver oportunidade para isso.
Talvez uma mediação internacional seja factível já que as negociações atuais chegaram ao impasse. Não creio, porém, que o
Brasil deva desde já assumir uma
postura de confronto com as posições de Washington.
Acredito que a referência à regionalização do conflito seja no
sentido de usar os mecanismos
hemisféricos de solução de conflito. Historicamente, estes foram,
na grande maioria das vezes, as
Forças Armadas norte-americanas, mas não creio que isto se possa repetir no caso da Colômbia.
É um país muito maior e mais
importante do que Haiti, Panamá
ou os da América Central.
Folha - Quais as perspectivas
do conflito doravante?
Wrobel - O presidente Pastrana
tomou posse há um ano com um
mandato eleitoral de negociar
com a guerrilha. De lá para cá, o
processo parecia avançar, houve
muito exercício de relações públicas, mas se chegou ao impasse.
Ademais, a situação econômica
do país se deteriorou tremendamente e, logicamente, a popularidade de Pastrana despencou.
Enquanto isso, os insurgentes
ficaram mais ousados e agressivos, adiando sucessivamente
ações concretas em favor de negociações. A situação do país é muito complexa, pois não se trata
apenas de governo contra guerrilhas, mas uma rede de movimentos de violência, incluindo, claro,
o narcotráfico e os paramilitares.
Neste momento, eu pessoalmente estou descrente das negociações de paz.
Mas haverá outra saída?
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