São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENTREVISTA
Wrobel, especialista em segurança na América do Sul, diz haver "empate militar" entre governo e guerrilha
Brasil pode ser mediador, diz analista

do enviado especial a Bogotá

O Brasil deveria buscar o papel de mediador no conflito colombiano, "se houver oportunidade para isso". É o que diz, em entrevista à Folha, o brasileiro Paulo Wrobel, especialista em segurança na América do Sul do Royal Institute for International Affairs.
Wrobel é PhD em estudo de guerra pela Universidade de Londres, o que lhe dá credenciais para analisar a guerra na Colômbia, como o faz na seguinte entrevista:

Folha - O sr. acredita em uma intervenção militar norte-americana na Colômbia?
Paulo Wrobel -
Não acredito em intervenção militar norte-americana, nem do tipo Vietnã nem América Central. Só se houver uma catástrofe, como um avanço significativo na tentativa da guerrilha de tomar o poder em Bogotá seguida por queda de governo e anarquia, cenário que não me parece possível ou provável.
É verdade que Washington está acompanhando de muito perto a situação e que a ajuda financeira, de treinamento, inteligência e equipamento militar deve ser mais alta este ano.
No entanto, há uma enorme diferença entre apoio financeiro e militar e intervenção armada. Não me parece haver, pelo menos neste momento, hipótese realista de intervenção norte-americana.

Folha - O sr. concorda com a tese de que há uma espécie de empate, que nenhum dos dois lados pode ganhar a guerra?
Wrobel -
É verdade, há um impasse militar. Creio, no entanto, que, se há um lado que pode vencer militarmente, é o do governo.
As Forças Armadas colombianas não estão equipadas neste momento para uma vitória militar, mas podem fazê-lo. É verdade que o custo político pode ser alto demais, mas a solução militar não me parece impossível.
Já a guerrilha não pode vencer militarmente, no sentido de tomar o poder em Bogotá, mas parece uma formidável e experiente força de insurreição.

Folha - Qual deveria ser a posição brasileira?
Wrobel -
A posição brasileira me parece que tem sido a tradicional do Itamaraty, ou seja, respeito à autodeterminação e não-ingerência nos assuntos internos de uma nação soberana. Ao mesmo tempo, preservando a soberania do território nacional.
No entanto, entendo a aflição de Brasília quanto à hipótese de intervenção norte-americana junto a uma área como a Amazônia, bastante sensível ao interesse nacional. Acho que o Brasil pode buscar papel de mediador, se houver oportunidade para isso.
Talvez uma mediação internacional seja factível já que as negociações atuais chegaram ao impasse. Não creio, porém, que o Brasil deva desde já assumir uma postura de confronto com as posições de Washington.
Acredito que a referência à regionalização do conflito seja no sentido de usar os mecanismos hemisféricos de solução de conflito. Historicamente, estes foram, na grande maioria das vezes, as Forças Armadas norte-americanas, mas não creio que isto se possa repetir no caso da Colômbia.
É um país muito maior e mais importante do que Haiti, Panamá ou os da América Central.

Folha - Quais as perspectivas do conflito doravante?
Wrobel -
O presidente Pastrana tomou posse há um ano com um mandato eleitoral de negociar com a guerrilha. De lá para cá, o processo parecia avançar, houve muito exercício de relações públicas, mas se chegou ao impasse.
Ademais, a situação econômica do país se deteriorou tremendamente e, logicamente, a popularidade de Pastrana despencou.
Enquanto isso, os insurgentes ficaram mais ousados e agressivos, adiando sucessivamente ações concretas em favor de negociações. A situação do país é muito complexa, pois não se trata apenas de governo contra guerrilhas, mas uma rede de movimentos de violência, incluindo, claro, o narcotráfico e os paramilitares.
Neste momento, eu pessoalmente estou descrente das negociações de paz.
Mas haverá outra saída?

Texto Anterior: Aumenta imigração de colombianos para os EUA
Próximo Texto: Brasil tem menos alternativas para influenciar do que os EUA
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.